Homem acusado de blasfêmia é baleado em tribunal no Paquistão e seu assassino é saudado como herói

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Um homem de 57 anos foi morto a tiros em um tribunal de Peshawar enquanto respondia a acusações de blasfêmia em 29 de julho. O assassino, Faisal Khan, de 24 anos, foi preso imediatamente — não se sabe como ele conseguiu driblar a segurança do local e entrar com uma arma de fogo.

Tahir Ahmad Naseem era um cidadão americano de origem paquistanesa que costumava postar vídeos na internet alegando ser um profeta. Em 2018, ele foi preso pela polícia de Peshawar e acusado de blasfêmia após um estudante muçulmano tê-lo denunciado.

O estudante entregou às autoridades conversas on-line privadas nas quais Naseem alegava ser um profeta do Islã, uma violação segundo as leis de blasfêmia do Paquistão.

Muçulmanos acreditam que o profeta Maomé foi o último mensageiro de Deus e que qualquer um que alegue ser um profeta está cometendo uma heresia.

Naseem corria o risco de ser condenado à pena de morte por “profanar o divino nome do Sagrado Profeta Maomé”.

No Twitter, a usuária @bohutkhoob disse:

Tahir Ahmad Naseem foi morto a tiros hoje durante um julgamento. Há dois anos, ele foi acusado de blasfêmia por um adolescente que registrou uma conversa com ele em uma plataforma on-line e o denunciou à polícia local.

Logo após o incidente, as pessoas presentes no tribunal pegaram seus celulares e começaram a tirar fotos e gravar vídeos da vítima. Um vídeo que mostrava o corpo de Tahir caído sobre um banco viralizou nas redes sociais no Paquistão. Em outro vídeo que viralizou, o assassino, sob custódia da polícia, afirmava que o profeta Maomé havia aparecido em seus sonhos e pedido que ele matasse Naseem.

A jornalista Naila Inayat compartilhou fotos do corpo de Tahir no tribunal:

Homem acusado de blasfêmia é morto a tiros dentro de um tribunal em Peshawar. O atirador disse que matou o acusado para ‘defender o Islã’. Tahir Ahmed foi processado em 2018 por alegar ser um profeta. Durante o julgamento, ele disse sofrer de doenças mentais e que não mediu as consequências de seus atos.

Inicialmente, foi dito que Naseem pertencia à Comunidade Ahmadi, perseguida e vítima de campanhas de ódio desde que uma emenda constitucional de 1974 declarou que seus membros eram muçulmanos hereges. Um porta-voz da Comunidade Ahmadi postou um tuíte informando que Naseem havia deixado o grupo muitos anos atrás:

Em um trágico incidente hoje, um homem foi baleado e morreu na frente de um juiz em Peshawar. Está sendo veiculado que ele era Ahmadi, o que não é verdade. Ele nasceu Ahmadi, mas deixou a comunidade há muitos anos.

Em 31 de julho, milhares de pessoas marcharam em Peshawar em apoio ao assassino. Eles levantaram cartazes de aprovação ao crime e exigiram que ele fosse libertado da prisão, alegando que o governo é “muito lento” em processar por casos de blasfêmia.

Ihsan Tipu, um jornalista que cobre a província de Khyber Pakhtunkhwa para o The New York Times, postou no Twitter um vídeo da marcha a favor do assassino:

Milhares marcharam na sexta-feira em Peshawar para expressar solidariedade ao homem que matou Tahir Ahmad Naseem, um cidadão americano acusado de blasfêmia, dentro de um tribunal em Peshawar.

Celebridades paquistanesas como o ator Shahroz Sabzwari enalteceram publicamente o assassino, e hashtags de apoio também viralizaram. O líder sênior do partido Jamiat Ulama-e-Islam – Fazl (JUI-F), Mufti Kifayatullah, postou um tuíte de apoio a Faisal:

Esta foi a primeira vez na história do país em que testemunhamos a justiça ser feita em um tribunal.

Enquanto o assassino era levado sob custódia, advogados e policiais posaram para selfies com ele.

Ihsan Tipu escreveu no Twitter:

Esquadrão de elite da polícia de Peshawar posa para uma selfie com Faisal, que na semana passada matou Tahir Ahmad Naseem em um tribunal enquanto ele respondia a acusações de blasfêmia.

Isso mostra como a questão da blasfêmia é séria no Paquistão. A página e o perfil no Facebook, desta importante figura do partido que está no poder na província de Sind, teve fotos alteradas para imagens do assassino que matou um homem suspeito de blasfêmia em um tribunal em Peshawar hoje.

Essa não é a primeira vez que um incidente do tipo acontece no Paquistão. Em 4 de janeiro de 2011, o governador de Punjab, Salman Taseer, foi morto a tiros por um de seus seguranças em Islamabad depois de expressar uma visão negativa sobre as leis de blasfêmia.

Embora ninguém tenha sido oficialmente executado no Paquistão de acordo com essas leis, pelo menos 77 pessoas foram assassinadas extrajudicialmente desde 1990 sob essas acusações, segundo uma contagem da Al Jazeera. Desde 1987, mais de 1.500 pessoas foram acusadas de blasfêmia no Paquistão, de acordo com o The New York Times.

Na sociedade polarizada do Paquistão, essas visões extremistas são bem-aceitas, enquanto aqueles que discordam evitam falar por medo de perseguições, especialmente on-line.

Ainda assim, várias pessoas condenaram o assassinato publicamente:

Khalid Faisal, o indivíduo que assassinou um homem mentalmente instável acusado de blasfêmia em um tribunal de Peshawar ontem, é um criminoso asqueroso como Mumtaz Qadri e merece uma punição severa. Parem de enaltecer assassinos, por favor; ninguém tem o direito de matar.

O assassinato de Tahir Ahmad, que parecia sofrer de distúrbios mentais, em uma sessão de julgamento em Peshawar esta manhã, é outro exemplo de como as leis de blasfêmia do Paquistão encorajam justiceiros a ameaçar e matar os acusados.

Como é possível que o assassino do ‘blasfemo’ de Peshawar seja reverenciado como um herói, um Gazi ou outro Ilm-ud-Din ou Qadri? Isso é o que acontece quando você sua a religião como arma por décadas.

Um editorial do portal on-line ProperGaanda disse:

It is high time Pakistanis stop hailing the murderer as a hero and recognize him for what he was. That will be the first step in cultivating an atmosphere wherein potential extrajudicial murderers think twice before breaking the law and imposing their judgements on whether or not a human has the right to live.

Já passou da hora de os paquistaneses pararem de saudar assassinos como heróis e reconhecerem o que eles são. Esse será o primeiro passo para cultivarmos um ambiente em que potenciais assassinos extrajudiciais pensem duas vezes antes de desrespeitarem as leis e imporem seu julgamento sobre se um ser humano tem o direito ou não de viver.

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