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Enquanto os números da COVID-19 aumentam, Japão lança campanha de subsídios para viagens

Categorias: Leste da Ásia, Japão, Economia e Negócios, Mídia Cidadã, Saúde, Viagem, COVID-19
Pontocho, Kyoto, August 2019

Pontocho, Quioto, julho de 2019. Pontocho é bastante popular entre os turistas, e a nova campanha do Japão “Go To” tem como objetivo atrair pessoas para visitarem lugares como esse. Foto de Nevin Thompson.

De um lado, mensagens contraditórias [1] do governo metropolitano de Tóquio, que havia pedido para as pessoas diminuírem as viagens não essenciais. De outro, a campanha “Go To Travel” (em português, vá viajar), de 1,68 trilhões de ienes [2] (15 bilhões de dólares) do governo central, que visa impulsionar o turismo local. Ambas acabaram deixando o Japão em “apuros” em relação ao vírus.

Na quarta-feira, 22 de julho, a governante de Tóquio, Koike Yuriko, pediu aos moradores da capital para “agir como se a segunda onda (da COVID-19) já estivesse aqui [3]“. Com uma população de 15 milhões de pessoas, Tóquio continua sendo o epicentro do aumento do número de casos da COVID-19 no Japão. A região metropolitana contabilizou ao menos 5 mil casos da doença em julho, cerca de 45 por cento do total de infecções  [4]desde o início da pandemia.

Durante a semana de 20 de julho, Tóquio teve a taxa diária mais alta [5] de casos confirmados de coronavírus, com o número de infecções acima de 200 por seis dias seguidos [6]. Há o temor [7] da possibilidade de uma explosão nos casos da COVID-19 na capital no mês de agosto.

Outras grandes cidades do Japão, dentre elas, Osaka [8] e Fukuoka [9], também tiveram um aumento no números de casos em julho, enquanto a comunidade isolada da ilha de Sado [10] teve o primeiro caso da doença. Yoron [11], uma pequena ilha no extremo oeste do Japão, popular entre os turistas, tem 34 infectados até o momento, 5 na última semana.

Apesar de um crescimento no número de casos de COVID-19, entre o final da semana e o início de um longo fim de semana de quatro dias, em 24 de julho, o primeiro-ministro Shinzo Abe, ignorando as orientações do governo [12]recusou-se [13] a declarar estado de calamidade pública, afirmando que a  situação continua “sob controle [14]“. O Japão já havia declarado estado de calamidade pública anteriormente, em abril e maio, [15] e havia conseguido reduzir o número diário de infecções.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS: área metropolitana de Tóquio chega ao seu primeiro dia com mais de 300 novos casos de COVID-19.

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No primeiro dia do fim de semana de 4 dias, para o qual o governo vem desembolsando os bastante controversos cupons de viagem para alavancar as viagens entre as prefeituras, Tóquio registra o maior número de novas infecções.
Várias outras prefeituras também quebraram recordes ontem. Ah, o senso comum… ?

Em vez disso, o governo de Shinzo Abe continuou com os planos de lançar a campanha “Go To Japan” [18] na quinta-feira, 22 de julho, início do fim de semana prolongado. A campanha “Go To Japan” fornece aos viajantes uma variedade de subsídios [18], para cobrir os custos da viagem e da acomodação, de até 20 mil ienes (200 dólares) por pessoa, por noite em 40 prefeituras pelo Japão.

Devido ao crescente número de infecções desde o início da pandemia, Tóquio foi excluída [19] como destino turístico. No entanto, isso não impede os turistas de Tóquio de viajarem por todo o Japão, inclusive para a Prefeitura de Iwate, que não possui nenhum caso de COVID-19.

Viajantes da campanha ‘Go To Japan’ na prefeitura de Iwate, que possui zero casos de COVID-19 até o momento.

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Vários turistas da campanha GoTo se amontoam em Iwate. ‘Como não houve nenhum caso, pareceu o lugar mais seguro para se visitar’.

A reação da população foi diversa. Uma pesquisa de 24 de julho [22] sugeriu que a maioria dos japoneses  acha que um futuro estado de calamidade só seria necessário em algumas regiões, onde a COVID-19 é um problema sério, e não em todo o país. Outras pesquisas mostraram uma forte oposição [23] ao plano COVID-19.

Também há crescentes denúncias de corrupção, incluindo subornos [24] para políticos que apoiaram a campanha “Go To Japan” de 1,68 trilhões de ienes. A administração do plano foi terceirizada [18] para uma grande agência de viagens, em vez de ser administrada internamente pelo próprio governo.

Além disso, há também uma certa perplexidade sobre como o slogan “GoTo Travel” (em português, vá viajar) foi escolhido:

‘Go To Travel’ está gramaticalmente errado (em inglês)? ‘Bem, essas são as palavras em inglês que a maioria dos japoneses conhece’.
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Asahi relata como o slogan da campanha governamental ‘Go To Travel’ faz os falantes de inglês franzirem o cenho. Segundo o porta-voz da campanha, o slogan foi escolhido porque ‘Go’, ‘To’, e ‘Travel’ são palavras facilmente compreendidas no Japão.