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Faculdade para mulheres em Gana lidera ensino à distância durante a pandemia

Categorias: África Subsaariana, Gana, Educação, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero, Tecnologia, COVID-19

Veronica Kissiedu Emefa, estudante de ciência da educação, em sala de aula, na Faculdade Sta Teresa em Hohoe, Gana, na região da Volta, antes da pandemia. Agora, a maioria dos cursos é ministrado on-line. Captura de tela de um trailer de documentário produzido por Elio Stamm [1] para a Transforming Teacher Education and Learning, de Gana, em janeiro de 2017.

Em meio à pandemia do coronavírus, muitas universidades estão atualmente decidindo o que fazer [2] no próximo semestre. A Faculdade de Educação de Santa Teresa, uma das cinco faculdades apenas para mulheres em Gana, está se destacando através do ensino à distância, através do uso de aplicativos de mensagens como Telegram e WhatsApp.

Fundada como Faculdade de Treinamento de Mulheres em 1961 e mais tarde, em 1964, se tornado a Faculdade de Educação de Santa Teresa [3], em Hohoe, na região do Volta, a faculdade é uma das 46 instituições de ensino em Gana.

Em março, a faculdade enviou suas alunas para casa como parte das medidas para conter a propagação do coronavírus, e a maioria das aulas passou a ser on-line. Embora tenham solicitado o retorno de algumas alunas à escola para se prepararem [4] para os exames finais, muitas outras continuam a ter aulas on-line.

A faculdade não possui uma plataforma integrada de ensino à distância como Sakai, Canvas ou Blackboard e não existem plataformas de ensino oficialmente reconhecidas [5] em Gana. Em outras faculdades, os professores costumam usar a plataforma que acreditam ser mais eficaz e, como resultado, muitos estudantes baixam vários aplicativos como Google Classroom, Zoom, Telegram e WhatsApp, alguns dos quais consomem muitos dados. Em muitos casos, os alunos não estão inscritos formalmente nestas plataformas por suas instituições de ensino para assistir às aulas.

No entanto, na Santa Teresa, [6] o aprendizado on-line é conduzido principalmente pelo WhatsApp [5] e Telegram [7]. Após consultar professores e alunas, estes aplicativos foram designados como plataformas de aprendizado oficial pela faculdade. Os professores utilizam o WhatsApp quando encontram problemas de conexão durante as aulas dadas por meio do Telegram. As alunas reconhecem que essas plataformas são de baixo custo e isso as ajuda a economizar em relação aos dados móveis.

O professor da faculdade, Benedictus Mawusi Donkor, conversou por telefone com a Global Voices e explicou porque a faculdade decidiu cadastrar todas as alunas no WhatsApp e no Telegram para o ensino à distância:

When we were using the Google Classroom and YouTube, downloading videos becomes a problem when the network is not that strong. But when it comes to Telegram, I think with a little bit of network you easily get access to text mostly and audio. And some too, just a handful even with the Telegram they have a problem, so we try to engage them on WhatsApp. They have a WhatsApp platform as well as the Telegram.

Quando usávamos o Google Classroom e o YouTube, baixar vídeos era um problema quando a conexão não é tão boa. Mas com o Telegram, eu acho que mesmo com pouca conexão você tem acesso fácil ao texto e ao áudio. E algumas alunas quando encontram um problema mesmo com o Telegram, tentamos a conexão com o WhatsApp. Elas têm tanto o WhatsApp como o Telegram.

Ao consolidar e centralizar plataformas de ensino à distância, os professores encontraram formas criativas para manter as estudantes envolvidas nas aulas conduzidas por meio desses aplicativos de mensagens. Alguns desses métodos incluem um monitoramento rigoroso do envolvimento e participação das estudantes, personalizando as plataformas digitais disponíveis para o aprendizado, ouvindo e tirando dúvidas das estudantes e dos professores e fornecendo treinamento digital mensal as que precisam.

A estudante do primeiro ano, Doreen Mensah, disse que os professores e a administração da faculdade encontraram maneiras de motivar as estudantes a participar das aulas on-line.

The tutors have been motivating us. They know it’s not easy, so they tell us to try. When they are online, and you are not available he will pick his phone to call and find out what is going on. And then they will give you words of encouragement to convince us to go online.

Os tutores têm nos motivado. Eles sabem que não é fácil, então dizem para a gente tentar. Quando eles estão on-line e você não está disponível, eles pegam o telefone e ligam para saber o que está acontecendo. E então dizem palavras de incentivo para convencer a gente a se conectar.

No entanto, ainda existem questões estruturais que prejudicam o aprendizado na Santa Teresa. De acordo com Jennifer Nyavor, aluna do primeiro ano, as estudantes enfrentam dificuldades financeiras, pois suas bolsas não são pagas desde março, quando foram mandadas para casa:

When we were in school, we depended on the allowance but now that we are home, they stopped paying allowances and some of us use it to pay school fees so it’s making life difficult. Since we came back home in March when the president said no school till further notice, that was when they stopped paying the allowances. The allowance is 200 Ghana cedis [$34.54] per month. Unless my parents give me something small to buy data. So when I come online, I can’t ask questions because then the class is over.

Quando estávamos na faculdade dependíamos do subsídio, mas agora que estamos em casa, deixaram de pagar e algumas de nós usávamos o subsídio para pagar nossas mensalidades, então a situação está difícil. Desde que voltamos para casa em março, quando o presidente declarou o fechamento das escolas até novo aviso, os subsídios deixaram de ser pagos. O subsídio é de 200 cedi ganês (34,54 dólares) por mês. A menos que meus pais me deem uma pequena quantia [eu não tenho o suficiente] para comprar internet móvel. Por isso, quando me conecto, procuro não fazer perguntas porque senão a aula acaba.

Alta participação das alunas

De acordo com um relatório da T-TEL (Transforming Teacher Education and Learning) [8], um programa nacional de reforma da educação de professores, enquanto algumas faculdades identificaram índices de frequência baixos como 31% em junho, a Sta Teresa anunciou um índice de frequência de 97%. Os professores estavam muito comprometidos e conscientes das necessidades pedagógicas de seus estudantes. Eles estavam em contato regular com as alunas que faltavam às aulas para trabalharem juntos, a fim de manter a frequência regular nas aulas.

Em conversas por telefone com a Global Voices, estudantes e professores disseram que viram o diretor, o vice-diretor e o diretor de qualidade da faculdade serem adicionados a cada plataforma do curso para observar as aulas e solucionar os desafios à medida que surgiam.

De acordo com Jennifer Agyekum, estudante do segundo ano da faculdade, os esforços dos professores para manter as alunas envolvidas têm dado certo:

Those who do well in assignments, tokens are being given to students in the form of [internet data] bundles. They are really motivating us to participate in the virtual learning and they are doing their best.

As estudantes que se saem bem nas tarefas recebem pequenas recompensas, como um pacote de dados da internet. Eles estão realmente nos motivando a participar do ensino à distância e estão fazendo o melhor possível.

No entanto, professores e alunas ainda tiveram que lidar com outras questões estruturais que afetam especificamente o envolvimento das alunas durante este período de educação on-line.

A diretora da faculdade, Sophia Adjoa Micah, disse:

As students are at home, some parents may not understand the whole business of learning online. Seeing their wards online they may not take kindly to it. And being females, some of the students have to do chores at home. It is a challenge to learn online and concentrate without any distractions.

Como as alunas estão em casa, alguns pais podem não entender a coisa toda de aprender on-line. Ver suas filhas on-line pode parecer algo ruim. E, por serem mulheres, algumas têm que fazer as tarefas domésticas. É um desafio aprender on-line e se concentrar sem distrações.

Alguns professores tomaram a iniciativa de ligar e conversar com os pais das estudantes para ajudá-las a criar um ambiente de estudo em casa que permita que suas filhas aprendam on-line com o mínimo de distrações possíveis.

No final de cada mês, os professores precisam escrever relatórios detalhando o progresso das aulas on-line e identificar os desafios que limitam o ensino e a aprendizagem. Esses relatórios são então enviados à administração escolar para revisão e análise com professores e alunas a fim de desenvolver estratégias para resolver as questões.

A faculdade também adotou um estilo de comunicação aberta, onde foram criadas condições para que as estudantes pudessem compartilhar suas preocupações e desafios. As alunas que falaram com a Global Voices disseram que esse estilo de comunicação foi útil para ajudar o aprendizado.

Um modelo de ensino superior à distância

Enquanto alguns professores de outras instituições de ensino superior em Gana têm encontrado dificuldades para se adaptar ao [5] ensino à distância, a Faculdade Santa Teresa tem trabalhado junto a seus professores para assegurar que eles estejam devidamente treinados para utilizar as ferramentas digitais para dar aulas.

Alguns professores disseram que o departamento de Tecnologia da Informação (TI) da faculdade organiza mensalmente programas e oficinas para auxiliar professores com dificuldades em navegar nas plataformas digitais durante as aulas.

Em uma conversa por e-mail com a Global Voices, a diretora Micah explicou como uma parte dos fundos de apoio da T-TEL  [8] foi usado para matricular professores em um curso certificado on-line organizado pela Universidade de Ciências Aplicadas de Amsterdã.

A faculdade está indo bem com recursos limitados, mas Micah acredita que o estabelecimento de um centro de tecnologia da informação e comunicação os ajudaria a melhorar a qualidade do ensino à distância. Ela fez também um apelo às empresas de telecomunicações de Gana para darem suporte aos estudantes por meio de pacotes de dados gratuitos para melhorar o acesso à educação, especialmente para os estudantes marginalizados.

Nota da editora: Wunpini Mohammed é consultora da T-TEL.