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COVID-19 na Itália: o compromisso dos profissionais de saúde e da solidariedade civil para derrotar o vírus

Categorias: Europa Ocidental, Itália, Ciência, Desastre, Esforços Humanitários, Mídia Cidadã, Primeira Mão, Saúde
Coronavirus, dottoressa che culla l'Italia, immagine di Franco Rivolli

Imagem simbólica do ilustrador Franco Rivolli, compartilhada pelos Carabinieri. Uma médica, de máscara e com as asas atrás da bata, protege a febril Itália em seus braços. Fonte: Artstation [1].

A ilustração do artista Franco Rivolli, publicada pelos Carabinieri (Forças Armadas da Itália), tornou-se viral nas redes sociais italianas. Representa um médico com  máscara segurando a Itália como um bebê, febril e envolto na bandeira da nação. As asas nos seus ombros representam os trabalhadores da saúde como anjos da guarda de seus pacientes e do país. A ilustração nasceu do desejo de agradecimento aos médicos, enfermeiros e profissionais de saúde, que estão na vanguarda da luta contra a epidemia do novo coronavírus, que está colocando o país de joelhos.

A pandemia da COVID-19 de 2019-2020 [2] chegou na Itália nas últimas semanas. É uma doença respiratória, COVID-19, [3] causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 [4], que pode evoluir para uma grave pneumonia. Não é uma simples gripe que aflige apenas os idosos com doenças. Pode evoluir para uma pneumonia intersticial bilateral. Como explica o Ministério da Saúde [5], os sintomas mais comuns são febre, fadiga e tosse seca. Alguns pacientes podem ter dores musculares, congestão nasal, corrimento nasal, dor de garganta ou diarreia. Nos casos mais graves, a infecção pode causar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, insuficiência renal e até a morte.

Mappe e aggiornamenti sul COVID-19 in Italia e nel mondo

Il 30 gennaio 2020 l’Organizzazione Mondiale della Sanità ha dichiarato che questa epidemia rappresenta un’emergenza internazionale di salute pubblica. L’OMS in data 11 marzo 2020 ha dichiarato che il COVID-19 può essere definito pandemico. L’OMS pubblica ogni giorno un aggiornamento epidemiologico [6]. Qui gli aggiornamenti: Situazione nel mondo [7] e Situazione in Italia [8].

L’Università Johns Hopkins [9] ha creato una mappa online della diffusione del COVID-19  [10]che riporta gli aggiornamenti mondiali, aggiornati con i dati delle autorità sanitarie mondiali.

Mapas e atualizações sobre a COVID-19 na Itália e no mundo

Em 30 de Janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou esta epidemia como sendo uma emergência de saúde pública internacional. A OMS declarou em 11 de Março de 2020 que a COVID-19 pode ser definida como uma pandemia. A OMS publica todos os dias uma atualização epidemiológica [6]. Aqui estão as atualizações da situação no mundo [7] e a situação na Itália [8].

Universidade de Johns Hopkins [9] criou um  mapa on-line da difusão da COVID-19 [10]que informa as atualizações com dados das autoridades sanitárias mundiais.

As áreas mais afetadas da Itália: Lombardia, da Comuna de Codogno às províncias de Bérgamo e Bréscia

Até 20 de março de 2020, no momento em que escrevo, há mais de 275 mil casos da COVID-19 no mundo, cerca de 11.400 mortos e 88.256 recuperados.

Acompanhe os dados da Protecção Civil Italiana, atualizado em 20 de março de 2020 [11], sobre a progressão da epidemia do coronavírus na Itália:

Esercito trasporta bare da Bergamo in altre regioni

Cerca de trinta caminhões do exército transportam 130 caixões de Bergamo para crematórios em outras regiões da Itália. Fonte: Ansa. [12]

Exatamente um mês atrás, em 20 de fevereiro de 2020, o primeiro caso registrado de COVID-19 na Itália: um homem de 38 anos, jovem, saudável e atlético de Codogno [13], na província de Pavia. Após sua admissão na terapia intensiva, identificado como “paciente um” na Lombardia e, posteriormente, os outros casos positivos.  Annalisa Malara, 38 anos, anestesista do Hospital Codogno, diagnosticou o primeiro caso na Itália. Mas infelizmente, o “paciente zero” é desconhecido, também porque o “paciente número um” nunca esteve na China. Muitas pessoas, tanto residentes como não residentes, foram provavelmente infectadas num bar da cidade. A cidade foi, portanto, declarada como zona vermelha. O vírus, então, afetou principalmente a cidade e a província de Bérgamo [14] (5.154 contágios até 20 março de 2020 [11]) e a província de Bréscia [15].

Em 13 de março de 2020, o jornalista David Carretta publicou um video [16] onde observa a página do obituário no domingo, 9 de fevereiro de 2020 (antes da propagação do vírus), e depois que o vírus começou a ser propagado. O jornal publicou o obituário com dez páginas no 13 de Março de 2020.

A província de Bréscia é a segunda província mais afetada depois de Bérgamo: 4.648 contágios até 20 de março de 2020 [11].

O impacto econômico do surto da COVID-19 no norte é enorme. Lombardia e Vêneto são, de fato, as regiões italianas com maior PIB per capita, acima da média da União Europeia [19]. O conselheiro para o Bem-Estar da Região, Giulio Gallera [20], anunciou um projeto para criar um hospital com 500 leitos de terapia intensiva para pacientes com coronavírus na antiga Feira de Milão [21].

Hospitais em colapso, falta de camas e médicos em risco por poucos equipamentos de proteção pessoal

Os enfermeiros fizeram um apelo desesperado à população, dizendo que estão exaustos e que não há mais tempo. Todos devem ficar dentro de casa para terminar a epidemia. Assistam aqui o comovente vídeo [22]:

Médicos Sem Fronteiras denuncia [23] a falta de equipamento de proteção:

Secondo gli ultimi dati dell’Istituto Superiore di Sanità, circa 1.700 operatori sanitari in Italia, pari all’8% dei casi totali di coronavirus nel paese, sono stati contagiati mentre assistevano giorno e notte il crescente numero di pazienti gravi, che richiedono degenze lunghe e cure specialistiche in terapia intensiva.

De acordo com os últimos dados do Istituto Superiore di Sanità, cerca de 1.700 profissionais de saúde na Itália, o equivalente a 8% do total de casos de coronavírus no país, foram infectados enquanto assistiam dia e noite ao crescente número de pacientes graves, que necessitam de longas estadias e tratamento especializado de cuidados intensivos.

Industria dispositivi medici

Na Itália, 66% do mercado  de empresas do setor de dispositivos médicos é dirigido pelo Serviço Nacional de Saúde e representa 7,4% da despesa total, o que corresponde a cerca de 190 euros per capita, um valor inferior à média dos principais países europeus. Fonte: Centro studi Confindustria. [24]

In Italia, dove stiamo supportando quattro ospedali nel lodigiano, la carenza di dispositivi di protezione nonostante tutti gli sforzi delle autorità sanitarie è allarmante e lascia il personale medico in prima linea pericolosamente esposto al virus. […] Anche in ospedali europei di altissimo livello vediamo medici e infermieri sopraffatti, che accolgono fino a 80 ambulanze al giorno, mentre la drammatica carenza di dispositivi di protezione – per cui alcuni indossano la stessa mascherina per 12 ore – li pone ad alto rischio di contrarre il virus.

Na Itália, estamos apoiando quatro hospitais em Lodigiano. A falta de equipamento de proteção, apesar de todos os esforços das autoridades sanitárias, é alarmante e deixa o pessoal médico na linha da frente exposto ao vírus. […] Mesmo em grandes hospitais europeus  [23]vemos médicos e enfermeiros sobrecarregados, recebendo até 80 ambulâncias por dia e a dramática falta de equipamento de proteção  (em razão disso, alguns usam a mesma máscara durante 12 hora, correndo risco de serem contaminados pelo vírus.

O coronavírus já fez muitas vítimas, mesmo entre os profissionais de saúde que estão na linha de frente:

Roberto Stella, 67 anos, médico de família e presidente da Ordem dos Médicos de Varese, foi a primeira vítima no trabalho [25]. Infectado pelo coronavírus na clínica Busto Arsizio, morreu em 11 de março de 2020, após uma semana em terapia intensiva. A primeira médica do sexo feminino a contrair o vírus é Chiara Filipponi, 57 anos, anestesista de Portogruaro: já doente, ela foi contagiada em outro hospital.

No dia 2 de março morreu Ivo Cilesi, 62 anos, psicopedagogista e terapeuta. A situação dele piorou em apenas três dias. No dia 14 de março morreu Diego Bianco, 46 anos, por uma súbita crise respiratória nove dias depois dos primeiros sintomas. Em 17 de março de 2020 morreu Mario Giovita, 65 anos, o primeiro médico de família infectado com o Coronavirus, em Bérgamo, onde há pelo menos 100 médicos contagiados. Em 18 de março de 2020 morreu Marcello Natali, 57 anos, secretário da Federação Italiana de Médicos de Família  [26]de Lodi, após entubação na UTI com pneumonia bilateral grave.

Em 19 de março de 2020, l'ANSA (Agenzia Nazionale Stampa Associata –  principal agência de notícias italiana) relatou:

Altri cinque medici sono deceduti […] sono ben le 13 vittime del tragico bilancio tra i camici bianchi. Le ultime vittime sono Luigi Ablondi, ex direttore generale dell'Ospedale di Crema, Giuseppe Finzi, medico ospedaliero di Cremona, e Antonino Buttafuoco, medico di base di Bergamo. Altri due medici sono morti a Como: Giuseppe Lanati, pneumologo, e Luigi Frusciante, medico di famiglia, entrambi in pensione ma operativi.

Cinco outros médicos morreram […] são as 13 vítimas do trágico equilíbrio entre os casacos brancos. As últimas vítimas são Luigi Ablondi, ex-gerente geral do Hospital de Crema; Giuseppe Finzi, médico hospitalar em Cremona, e Antonino Buttafuoco, médico generalista em Bérgamo. Dois outros médicos morreram: Giuseppe Lanati, pneumologista, e Luigi Frusciante, médico de família, ambos aposentados, mas estavam trabalhando.

Nino Cartabelotta, publicou um tuíte do médico Burioni: [27]

As infecções entre médicos, enfermeiros, carabineiros, polícia e outras pessoas na linha da frente contra o coronavírus são muitas. O INAI [30](Instituto Nacional da Segurança do trabalho) informou: “ o contágio do pessoal de saúde é classificado como acidente de trabalho”. [31]

Lorenzo Norsa, médico da unidade de hepatologia e gastroenterologia pediátrica e transplante do Hospital de Bergamo [32], trabalha agora na ala Covid-19 e vê a sua mulher em vídeo chamada que, infectada em quarentena, acaba de dar à luz. Imagem de tela do perfil de Loreno Norsa no Facebook.

Hashtags e mobilizações civis: #iorestoacasa, #iorestoincorsia #ioescoperdonare e doações para hospitais italianos com #sostienieniunospedale

O  Decreto de 9 março 2020 [33], denominado como o Decreto “Vou ficar em casa” [34] contém diretrizes para todo o território italiano, válidos até 3 de Abril de 2020. A proibição de viajar é válida em toda a Itália, exceto por razões de saúde, necessidade ou trabalho. Você deve preencher uma autorização com o motivo do deslocamento, declarando o porque não está sujeito às medidas de quarentena.  [35]A polícia mantém suas equipes na verificação de controle para contenção do vírus. [36]

Na primeira semana de março, as doações de sangue caíram em média 10% em toda a Itália e o perigo é que a situação se agrave. Uma redução prolongada nas doações “coloca em risco os 1.800 pacientes que precisam de transfusões todos os dias”. Por meio da hashstag #ioescoperdonare, queremos incitar os cidadãos a doar sangue. Todos os italianos devem respeitar o confinamento para não frustrar os esforços do pessoal médico em toda o país, publicado sob a hashtag #iorestoincorsia:

A foto da enfermeira Alessia Bonari se tornou viral, junto com sua forte mensagem: “Eu devo fazer a minha parte, você faça a sua”.

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Sono i un'infermiera e in questo momento mi trovo ad affrontare questa emergenza sanitaria. Ho paura anche io, ma non di andare a fare la spesa, ho paura di andare a lavoro. Ho paura perché la mascherina potrebbe non aderire bene al viso, o potrei essermi toccata accidentalmente con i guanti sporchi, o magari le lenti non mi coprono nel tutto gli occhi e qualcosa potrebbe essere passato. Sono stanca fisicamente perché i dispositivi di protezione fanno male, il camice fa sudare e una volta vestita non posso più andare in bagno o bere per sei ore. Sono stanca psicologicamente, e come me lo sono tutti i miei colleghi che da settimane si trovano nella mia stessa condizione, ma questo non ci impedirà di svolgere il nostro lavoro come abbiamo sempre fatto. Continuerò a curare e prendermi cura dei miei pazienti, perché sono fiera e innamorata del mio lavoro. Quello che chiedo a chiunque stia leggendo questo post è di non vanificare lo sforzo che stiamo facendo, di essere altruisti, di stare in casa e così proteggere chi è più fragile. Noi giovani non siamo immuni al coronavirus, anche noi ci possiamo ammalare, o peggio ancora possiamo far ammalare. Non mi posso permettere il lusso di tornarmene a casa mia in quarantena, devo andare a lavoro e fare la mia parte. Voi fate la vostra, ve lo chiedo per favore. [48]

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Para a emergência, o governo italiano atribuiu 25 mil milhões de euros com o Decreto Cura Itália, como declarado [50] pelo primeiro ministro Giuseppe Conti [51]. Depois do decreto de 11 março de 2020 [52], o governo italiano implementou uma manobra econômica extraordinária, com apoio econômico e uma injeção de liquidez no sistema produtivo. O pacote inclui um plano extraordinário para a emergência sanitária e aumento dos postos de cuidados intensivos na Lombardia: acordos com clínicas privadas, dois hospitais militares de campanha, requisitos hoteleiros para pacientes isolados, 400 contratações do INAIL, incluindo 100 gerentes médicos, 320 médicos e enfermeiros militares, um ano de retenção para trabalhadores de saúde do Exército, recrutamento de agentes de saúde do estrangeiro com procedimentos simplificados, bônus de 1.000 euros para babás e um excedente salarial para o pessoal hospitalar pelas horas extras trabalhadas.

A arrecadação de fundos para a área social ocorre com a hashtag #sostieniunospedale. Roberto Burioni, médico italiano, divulgador acadêmico e científico [53], atualiza todos dias o andamento dos trabalhos da nova ala do Hospital San Raffaele de Milão, [54]realizado graças a arrecadação de fundos iniciada pela famosa influenciadora Chiara Ferragni e seu marido, o cantor Fedez [55], que já receberam doações de mais de 4 milhões de euros dos seus seguidores em mais de 56 países [56]no mundo. Ele postou um vídeo do trabalho em andamento, quase concluído:

No site Italia non-profit [57] há a “lista de hospitais para doar diretamente e campanhas de arrecadação de fundos autorizadas pelos centros de saúde”. Dentre os muitos hospitais citados, os da Lombardia: Hospital San Raffaele em Milão, Hospital Sacco em Milão, Policlínico de Milão, Hospitais em Lodi e Lodigiano, Hospital Papa João XIII em Bérgamo e Spedali Civili em Bréscia. O Hospital Papa João XIII de Bérgamo é um dos mais afetados pela emergência na Lombardia.Os fundos [58] serão utilizados para a compra de: ventiladores, dispositivos de ventilação não invasivos, monitoramento hemodinâmico, fones de ouvido, batas e óculos descartáveis.

As regiões mais afetadas, como Lombardia, Vêneto, Emília Romagna e Piemonte, receberam centenas de doações de vários milhões de euros para serem utilizadas no fortalecimento dos departamentos de terapia intensiva dos hospitais ou para a construção de novos, de muitas empresas privadas italianas (setor alimentar, bancário, gigantes da moda) até a doação do papa Francisco e da NBA internacional. [59]