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Ainda sem casos confirmados de COVID-19, Moçambique se prepara para uma possível eclosão

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Educação, Governança, Saúde, COVID-19
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Alerta do Presidente da República de Moçambique na capa do jornal Público de 9 de Março de 2020. Foto por Dércio Tsandzana, CC-BY

Numa altura em que mais de 30 países africanos [2] já detectaram a presença do novo coronavírus, Moçambique prepara-se com os meios que possui para enfrentar a COVID-19.

Apesar de Moçambique ainda não ter registado nenhum caso da doença, já há confirmação de casos em três países com os quais faz fronteira: África do Sul (62), Reino do Eswatini (1), e Tanzânia (1).

O governo difundiu um documento com planos de contenção e mitigação, como a identificação de possíveis centros de isolamento em todas as províncias [3].

Mesmo sem incluir o fecho de fronteiras, o Presidente da República Filipe Nyusi anunciou [4] várias medidas restritivas para evitar a possível propagação do vírus no país, entre elas:

Quarentena obrigatória de 14 dias para pessoas que vem de países com transmissão activa considerada.

Proibição de organização e participação de todo tipo de eventos com mais de 300 pessoas.

Suspensão de todas deslocações de membros do Estado para fora do país.

O maior partido da oposição, Renamo, solicitou o encerramento das fronteiras entre Moçambique e outros países, ao que o Ministro da Saúde disse [5]:

Encerrar fronteiras é medida extrema que só deve ser usada na perspectiva de um risco que possa eventualmente criar uma situação de calamidade, não é o caso. Mesmo neste momento a China não fechou as fronteiras, fez quarentena de algumas cidades.

O Ministério da Saúde também tem feito campanha de prevenção e difusão de informação nas escolas:

Uma mensagem foi enviada a diversos celulares de Moçambique com recomendações que muitos cidadãos consideraram pouco eficazes.

O historiador e analista político Egídio Vaz [11] comentou os problemas do teor da mensagem:

Aqui está o dinheiro sendo gasto em campanhas ineficazes. Recebi este SMS, pago pelo MISAU a me ensinar o que é #coronavirus [12].

Este SMS é ineficaz pelas seguintes razões:
1. Linguagem técnica dispensável. Apesar da descrição ser genérica, pouco interessa ao cidadão. O cidadão precisa de mensagens que lhe ajude a tomar as necessárias medidas preventivas, necessárias atitudes ao se expôr perante situações de risco e por isso deve saber suspeitar com o mínimo de informação.

2. Decorrente do primeiro, o SMS podia simplesmente dizer que #coronavirus é uma doença que não tem cura e manifesta-se através de febres, problemas respiratórios ou gripe. Os médicos podem não concordar com a minha versão de descrição, mas o que eu gostaria com essa descrição é que as pessoas se dirijam ao hospital para o necessário despiste. Por isso, a segunda parte da mensagem seria “dirija-se ao posto de saúde mais próximo para o despiste”.

3. Tal como está o SMS, seguramente que deverei esperar pelo próximo, a me dizer o que devo fazer…

Estamos em emergência. Não é tempo para entretenimento.

O Ministro da Saúde também desmentiu o mito segundo o qual os negros são mais resistentes ao COVID-19, já que a maioria dos mais de 190 mil infectados em todo o mundo, bem como as mais de 7 mil mortes, são em sua maioria brancos.

Ainda não há nenhuma evidência [13] científica de que pessoas com descendência africana tenham mais resistência ao novo coronavírus.

Recentemente, as autoridades de saúde convocaram várias entidades internacionais e diplomáticas para solicitar apoio em uma eventual eclosão da doença no país.

Antes da intervenção do Ministro da Saúde, foi o próprio Presidente Filipe Nyusi a exortar [14] os moçambicanos para uma maior mobilização face à eclosão da doença:

[A] COVID-19 é um assunto de segurança. Por isso, apelo para o redobrar de esforços na sua prevenção e vigilância.

Uma mensagem falsamente atribuída à UNICEF circulou no WhatsApp em Moçambique. A entidade veio a público desmentir:

O governo de Moçambique por meio do seu porta-voz também desmentiu um episódio recente de difusão de informação falsa pelas redes sociais:

Como que a seguir essas recomendações, o partido no poder, Frelimo, decidiu cancelar uma reunião que estava prevista para 20-22 de Março:

Por seu lado, o jornalista Rafael Machalela partilhou um protótipo que julgou ser um modelo de máscara produzido localmente: