Ainda sem casos confirmados de COVID-19, Moçambique se prepara para uma possível eclosão

Alerta do Presidente da República de Moçambique na capa do jornal Público de 9 de Março de 2020. Foto por Dércio Tsandzana, CC-BY

Numa altura em que mais de 30 países africanos já detectaram a presença do novo coronavírus, Moçambique prepara-se com os meios que possui para enfrentar a COVID-19.

Apesar de Moçambique ainda não ter registado nenhum caso da doença, já há confirmação de casos em três países com os quais faz fronteira: África do Sul (62), Reino do Eswatini (1), e Tanzânia (1).

O governo difundiu um documento com planos de contenção e mitigação, como a identificação de possíveis centros de isolamento em todas as províncias.

Mesmo sem incluir o fecho de fronteiras, o Presidente da República Filipe Nyusi anunciou várias medidas restritivas para evitar a possível propagação do vírus no país, entre elas:

Quarentena obrigatória de 14 dias para pessoas que vem de países com transmissão activa considerada.

Proibição de organização e participação de todo tipo de eventos com mais de 300 pessoas.

Suspensão de todas deslocações de membros do Estado para fora do país.

O maior partido da oposição, Renamo, solicitou o encerramento das fronteiras entre Moçambique e outros países, ao que o Ministro da Saúde disse:

Encerrar fronteiras é medida extrema que só deve ser usada na perspectiva de um risco que possa eventualmente criar uma situação de calamidade, não é o caso. Mesmo neste momento a China não fechou as fronteiras, fez quarentena de algumas cidades.

O Ministério da Saúde também tem feito campanha de prevenção e difusão de informação nas escolas:

Uma mensagem foi enviada a diversos celulares de Moçambique com recomendações que muitos cidadãos consideraram pouco eficazes.

O historiador e analista político Egídio Vaz comentou os problemas do teor da mensagem:

Aqui está o dinheiro sendo gasto em campanhas ineficazes. Recebi este SMS, pago pelo MISAU a me ensinar o que é #coronavirus.

Este SMS é ineficaz pelas seguintes razões:
1. Linguagem técnica dispensável. Apesar da descrição ser genérica, pouco interessa ao cidadão. O cidadão precisa de mensagens que lhe ajude a tomar as necessárias medidas preventivas, necessárias atitudes ao se expôr perante situações de risco e por isso deve saber suspeitar com o mínimo de informação.

2. Decorrente do primeiro, o SMS podia simplesmente dizer que #coronavirus é uma doença que não tem cura e manifesta-se através de febres, problemas respiratórios ou gripe. Os médicos podem não concordar com a minha versão de descrição, mas o que eu gostaria com essa descrição é que as pessoas se dirijam ao hospital para o necessário despiste. Por isso, a segunda parte da mensagem seria “dirija-se ao posto de saúde mais próximo para o despiste”.

3. Tal como está o SMS, seguramente que deverei esperar pelo próximo, a me dizer o que devo fazer…

Estamos em emergência. Não é tempo para entretenimento.

O Ministro da Saúde também desmentiu o mito segundo o qual os negros são mais resistentes ao COVID-19, já que a maioria dos mais de 190 mil infectados em todo o mundo, bem como as mais de 7 mil mortes, são em sua maioria brancos.

Ainda não há nenhuma evidência científica de que pessoas com descendência africana tenham mais resistência ao novo coronavírus.

Recentemente, as autoridades de saúde convocaram várias entidades internacionais e diplomáticas para solicitar apoio em uma eventual eclosão da doença no país.

Antes da intervenção do Ministro da Saúde, foi o próprio Presidente Filipe Nyusi a exortar os moçambicanos para uma maior mobilização face à eclosão da doença:

[A] COVID-19 é um assunto de segurança. Por isso, apelo para o redobrar de esforços na sua prevenção e vigilância.

Uma mensagem falsamente atribuída à UNICEF circulou no WhatsApp em Moçambique. A entidade veio a público desmentir:

O governo de Moçambique por meio do seu porta-voz também desmentiu um episódio recente de difusão de informação falsa pelas redes sociais:

Como que a seguir essas recomendações, o partido no poder, Frelimo, decidiu cancelar uma reunião que estava prevista para 20-22 de Março:

Por seu lado, o jornalista Rafael Machalela partilhou um protótipo que julgou ser um modelo de máscara produzido localmente:

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