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Primeiro banco de leite de Bangladesh enfrenta dificuldades antes da inauguração

Categorias: Sul da Ásia, Bangladesh, Alimentação, Boas Notícias, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Ideias, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Mulheres e Gênero, Protesto, Saúde
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Doutor Mujibur Rahman explica como o leite humano é armazenado no banco. Captura de tela de vídeo do YouTube de Prothom Alo.

Pela primeira vez em Bangladesh, foi criado um Banco de Leite Humano –iniciativa do Instituto de Saúde Infantil e Maternal de Bangladesh [2], do hospital de Matuail, em Daca– para armazenar leite materno para recém-nascidos que não podem receber leite de suas mães.

As mães lactantes que perderam os bebês ou que ainda possuem um pouco de leite depois de alimentar os filhos, podem doar leite materno ao banco. A ideia é que o banco opere sem custos: não haverá nenhum pagamento para as doadoras, e as receptoras receberão o leite gratuitamente. Contudo, o lançamento do banco de leite foi adiado diversas vezes, supostamente por crença religiosa [3] dos bengaleses conservadores, principalmente dos islamistas ortodoxos.

Por que o leite materno é tão importante para os recém-nascidos?

Embora a amamentação materna seja ideal para os recém-nascidos, muitos bebês não podem ser amamentados por suas mães. Alguns podem tê-las perdido no parto, outros podem ser adotados, e algumas mães podem não conseguir amamentar seus bebês por diversas razões.

No entanto, sem o leite materno [4], muitos bebês não conseguem desenvolver de modo suficiente o sistema imunológico. Alguns recém-nascidos, que não conseguem digerir o leite de vaca ou o leite industrializado, terminam sob cuidados intensivos e podem morrer [5] sem o leite materno. O banco de leite ajudará esses recém-nascidos a obter o tão necessário alimento.

Contudo, a inauguração oficial do Banco de Leite Humano, que estava programada para o dia 1º. de dezembro de 2019, foi adiada por objeção [6] de algumas pessoas e organizações religiosas que consideram a iniciativa contrária ao islã.

Por que eles se opõem ao banco de leite?

A organização Tafsir Parishod, advertiu [7] sobre as consequências dos “irmãos de leite” desconhecidos — situação que, segundo afirmou, poderia surgir devido ao Banco de Leite Humano.

O islã encoraja a amamentação materna até os dois anos, porém quando os bebês são amamentados por uma mãe adotiva, ela se torna “mãe de leite” [8] da criança, relação que tem direitos especiais de acordo com a lei islâmica. A criança amamentada é reconhecida como irmã com plenos direitos como os demais filhos da mãe de leite e o casamento entre eles é proibido. Os islamistas conservadores temem, portanto, que o banco de leite dificulte a identificação das “mães de leite” e dos “irmãos de leite”. Se no futuro os “irmãos de leite” virem a se casar, isso seria considerado haraam [9] (pecado).

Citando escrituras islâmicas. Saiful Islam tuitou:

O casamento entre eles é proibido com base nos relacionamentos que incluem os relacionamentos entre a mãe de leite – Bukhari e muçulmano (hádice [14]).
É proibido para você (o casamento) com sua mãe de leite e irmã de leite – Surah: Nisa-25 (do Alcorão [15])

Solicito que o Banco de Leite Humano feche imediatamente.

Mamunur Rashid também considerou que seria melhor não se arriscar:

Estão debatendo sobre o Banco de Leite Humano.
Qual é a sua opinião?

——-
O casamento entre irmãos de leite é proibido. Se o leite materno sai do banco, o beneficiário não saberá se a pessoa com quem vai se casar no futuro foi alimentada com o mesmo leite materno. Há um risco de haraam e é melhor evitá-lo.

Mohammad Mahmudul Hasan, advogado da Suprema Corte do país, encaminhou uma petição legal [17] para as respectivas autoridades contra o Banco de Leite Humano, alegando complicações legais e religiosas para a doação de leite a outros.

No entanto, o professor associado, Dr. Mujibur Rahman, que dirige o projeto de doação de leite humano, defendeu o banco em uma entrevista ao Bangla Tribune [18], e explicou que haverá um registro adequado dos doadores e receptores:

প্রত্যেকের জন্য আলাদা ডাটা, আলাদা আইডি কার্ড রাখা হবে। যিনি দান করবেন এবং যিনি গ্রহণ করবেন, তাদের দুজনের কাছেই পরিচয়পত্র থাকবে। এখানে প্রত্যেক মায়ের দুধ আলাদা কৌটায় রাখা হবে, যেসব শিশুকে আরেক মায়ের দুধ খাওয়ানো হবে, তাদের দুই পক্ষকেই আইডি কার্ড দেওয়া হবে। রেফারেন্স নম্বর-রেজিস্ট্রেশন নম্বর, খাতা ও ভলিউম, এন্ট্রি পৃষ্ঠার নম্বর, সবই তাদের দেওয়া হবে।

Haverá cartões de identificação e dados separados para doadores e receptores do leite materno. O leite doado não será misturado e ficará em recipientes separados. Os registros de identificação de ambos; números de referência, números de registro, entrada e volume, tudo será compartilhado.

Sendo assim, a questão sobre futuros casamentos entre “irmãos de leite” não deverá surgir. O Dr. Rahman declarou ainda que o banco de leite está sendo criado para crianças sob cuidados críticos, pois seu principal objetivo é salvar suas vidas, e o islã dá importância primordial para salvar vidas humanas [19].

Fornecimento de leite materno

Encontrar leite materno para recém-nascidos em Bangladesh é difícil; uma mentalidade radical e conservadora faz com que a maioria das mulheres não queira amamentar filhos de outras mulheres.

No Facebook, Tuli Sangeeta [20] contou um incidente de sua infância em que sua vizinha deu à luz prematuramente a gêmeos. A mãe ainda não estava amamentando, uma das crianças já havia morrido e a outra estava sob cuidados intensivos, por isso ela precisava da ajuda de outras pessoas para amamentar o filho:

আমার মা পুরো হাসপাতালে ঘুরে ঘুরে অন্য মায়েদের সহায়তা চেয়ে বেরিয়েছেন, যদি একটুখানি মায়ের দুধ পান ছোট্ট বাচ্চাটার জন্য। কেউই খুব একটা রাজী ছিলেন না অন্যদের সন্তানকে একটুখানি বুকের দুধ দিতে!!

অবশেষে দুজন মাকে খুঁজে পাওয়া গিয়েছিলো যারা এক কোলে নিজের সন্তান আর আরেক কোলে ওই আন্টির সন্তানকে মাতৃস্নেহের ভাগ দিতে রাজী হয়েছিলেন। সারাজীবন এই দুজনের জন্য মনে মনে আনত শ্রদ্ধা পুষে এসেছি।

Minha mãe andou pelo hospital para encontrar outras mulheres que haviam acabado de dar à luz. Ela implorava para que dessem leite materno para salvar o recém-nascido ainda vivo da nossa vizinha.

Por fim, encontrou duas mães que, depois de alimentar seus próprios filhos, estavam dispostas a compartilhar seu leite com a criança em situação crítica. Durante toda a minha vida agradeci a essas duas mães com todo o meu respeito.

[21]

Número de mortes de crianças menores de cinco anos por mil nascidos vivos em Bangladesh durante o período de 1960-2016. Imagem de Wikimedia Commons por MagHoxpox (CC BY-SA 4.0).

Bangladesh alcançou grandes progressos [22] na redução da taxa de mortalidade infantil. Apesar disso, como é um país muito populoso, o número anual de mortes infantis segue sendo consideravelmente alto em comparação com países desenvolvidos.

A cada ano em Bangladesh, 62.000 recém-nascidos [23] morrem, a metade no primeiro dia de vida e a maioria do restante dentro do primeiro mês. Estas mortes acontecem devido a nascimentos prematuros, infecções e complicações respiratórias resultantes do parto. A cada ano, 5.200 mães também morrem durante o parto.

Segundo os pesquisadores [24], se um recém-nascido é alimentado com leite materno em até uma hora após seu nascimento, isso poderia evitar até um terço dessas mortes.

O Banco de Leite Humano do Instituto de Saúde Materno-Infantil de Bangladesh não estará disponível [25] para todos os recém-nascidos, somente para os que se encontram sob cuidados intensivos.

Em um editorial publicado no Daily Sun, Jainab Tabassum Banu Sonali expressou [26] sua esperança de que sejam criados bancos de leite similares para ajudar as mães trabalhadores que têm dificuldade para amamentar seus bebês enquanto trabalham em período integral.

Em muitos países muçulmanos já existem bancos de leite humano ou grupos de apoio, como no Irã [27], Emirados Árabes Unidos [28]Malásia [29], e muitos sugeriram que seus métodos, que não devem encontrar nenhuma objeção do ponto de vista religioso, possam ser analisados e adotados [30] em Bangladesh.