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Entre críticas e elogios, município espanhol lança com sucesso um desafio para mudar hábitos alimentares

Categorias: Europa Ocidental, Espanha, Boas Notícias, Ideias, Mídia Cidadã, Saúde

Pulpo a feira [1], prato típico da gastronomia galega. Imagem em Flickr de demi [2] (Atribuição 2.0 Genérica (CC BY 2.0).

Em janeiro de 2018, o município de Narón [3], localizado a noroeste da província Corunha, em Galiza, na Espanha, lançou um desafio diferente: que seus habitantes perdessem juntos 100.000 quilos em dois anos [4]. O município tem uma população de 39.000 habitantes, e a média de peso que cada habitante deve perder é de um quilo e meio, embora somente 40% [4] sejam obesos ou estejam acima do peso.

Um ano depois, o objetivo estava sendo realizado. Em fevereiro de 2019, a perda de peso coletiva chegava a 46.000 quilos [5].

A intenção do programa é envolver [6] os habitantes do município com excesso de peso, cerca de 15.000 pessoas, segundo a estimativa do Sistema de Saúde Público da Galiza [7], a reduzir seu peso em pelo menos 10%:

Desta forma diminuiríase o índice de mortalidade en Narón en 1,5 puntos co que este concello pasaría a rexistrar a mortalidade máis baixa de Galicia, que se situaría entre as mellores de España.

Desta forma, diminuiria o índice de mortalidade em Narón em 1,5 pontos e assim este município passaria a registrar a mortalidade mais baixa da Galiza, que ficaria entre as mais baixas da Espanha.

O exemplo foi dado pela prefeita, Marian Ferreiro, e por 14 membros da corporação municipal de Narón, que em 25 de janeiro de 2018, deram início ao programa “100.000 Motivos de Peso”. O primeiro passo foi pesar os funcionários municipais, cujo peso em conjunto chegou a 1.174,50 quilos [6].

Nos primeiros meses, o trabalho consistiu em estimular [8] a alimentação saudável e a atividade física com o apoio do município, de associações, centros educativos e outras empresas com supervisão de pessoal médico com a finalidade de chegar ao objetivo final: fazer com que todos perdessem juntos 100.000 quilos em dois anos.

O doutor Carlos Pinheiro, médico de Narón e responsável pelo projeto, observou que o sedentarismo e a obesidade eram problemas comuns na cidade, problemas graves em uma localidade onde grande parte da população está acima do peso [9]. Em agosto de 2018, não existia um balanço oficial dos resultados, mas segundo o doutor Pinheiro, a média de perda de peso dos participantes era de 2,5 quilos por mês.

Nesse momento, o programa já tinha mais de 6.000 inscritos vizinhos de Narón [10]. A melhora na saúde, traz uma vantagem adicional que é a melhora em sua renda, pois estima-se que uma população mais saudável tenha menos gastos hospitalares.

Graças a essa iniciativa, a localidade de Narón recebeu o Prêmio Europeu da Obesidade 2018 [11] de melhor programa de participação pública pelo projeto “100.000 motivos de peso”, e também foi  “premiada a projeção pública de uma iniciativa coletiva que combina a luta contra a obesidade, prevenção e solidariedade”, comentou o doutor Pinheiro.

A iniciativa não se limita aos temas de saúde, pois também tem um caráter solidário. Por cada quilo perdido pelos participantes serão doados ao Centro de Recursos Solidários de Narón [12] alimentos não perecíveis ou leite,” para que dessa forma se estabeleça situações igualitárias na saúde” tal como destacou [8] a prefeita Marián Ferreiro.

Além disso, existem colaboradores precoces, como conta [13] o doutor Pinheiro:

Un grupo de abuelos […] preguntó qué estaban haciendo en los colegios porque sus nietos se negaban a comer patatas fritas.

Los niños de Narón “son investigadores de su entorno y del tipo de dieta que realiza su familia y de cuánto camina”.

Um grupo de avós […] perguntou o que as escolas estavam fazendo porque os netos não queriam comer batatas fritas.

As crianças de Narón ‘são investigadores de sua região e do tipo de dieta que sua família segue e do quanto estão avançando’.

Uma iniciativa muito boa, mas… e esse nome?

Apesar de, segundo esclarece [13] o doutor Pinheiro, o objetivo do programa não seja perder peso, mas sim incentivar estilos de vida saudáveis na comunidade, ele também recebeu críticas. Por exemplo, Yolanda Cambra, especialista em inteligência emocional, opina [14] que, mais do que um plano para perder peso, é uma proposta de hábitos saudáveis e não uma dieta para emagrecer. Segundo escreveu no seu site:

Pero ¿por qué no llamarla 100.000 motivos de salud? Si centran el interés en adelgazar, están reforzando la idea equivocada que asocia delgadez con salud.

[…] La iniciativa, propuesta por los médicos de los centros de salud, consiste en varios puntos, como:

  • Rutas de caminatas por la naturaleza.
  • Talleres de nutrición.
  • Los hosteleros se suman ofreciendo menús saludables.

Pero esto no es estar a dieta, señores. Comer sano y tener actividad física debería ser el modo de vida de toda la población.

[…] Me parece estupendo que se tomen medidas para que un sobrepeso no llegue a obesidad. Pero utilizar con tanta alegría los términos “kilos” y dieta para adelgazar” puede conseguir el efecto contrario.

Mas, por que não chamar 100.000 motivos de saúde? Se focam no interesse em emagrecer, estão enfatizando a ideia errada, que associa ser magro com saúde.

[…] A iniciativa, proposta pelos médicos do centro de saúde consiste em vários pontos, como:

  • Rotas de caminhada pela natureza
  • Oficinas de nutrição
  • Hotéis oferecendo cardápios mais saudáveis

Mas isso não é estar de dieta, senhores. Comer saudável e praticar atividade física deveria ser o estilo de vida de toda a população.

[…] Eu acho uma ótima ideia que medidas sejam adotadas para que uma pessoa com sobrepeso não chegue a ficar obesa. Mas utilizar com tanta alegria as palavras ‘quilos’ e ‘dieta para emagrecer’ pode ter o efeito contrário.

Por outro lado, os usuários do Twitter também ajudaram a divulgar a iniciativa e seus resultados: