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A morna, género musical cabo-verdiano, torna-se Património da Humanidade

Categorias: África Subsaariana, Cabo Verde, Arte e Cultura, Boas Notícias

Cesária Évora canta morna. Captura de tela do YouTube [1] – usuário alcom34.

A morna, tradição musical e de dança de Cabo Verde, foi aprovada pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade.

O parecer da UNESCO foi comunicado [2] pelo Ministro da Cultura de Cabo Verde Abraão Vicente no dia 7 de Novembro:

Caros cabo-verdianos, tenho a sorte, a honra e o privilégio de vos comunicar que hoje o comité técnico dos peritos da UNESCO aprovou o dossier da morna a Património da Humanidade…A nação já pode celebrar: a morna já é Património da Humanidade.

Cesária Évora [3] (1941-2011) foi uma das mais conhecidas intérpretes do género e por isso foi apelidada de de “rainha da morna.”

A página [4] oficial da candidatura à UNESCO diz:

A Morna é um genéro performativo de Cabo Verde que reúne a voz, a música, a poesia e a dança. É uma expressão musical cuja prática não faz distinção de género. Usualmente cantada por uma só pessoa é acompanhada por instrumentos acústicos destacando-se o violão. Surgiu no século XIX, evoluindo do cruzamento de estilos musicais com fortes raízes africanas, o landum, com melodias oriundas da Europa.

Trata-se de uma canção melódica, quaternário, geralmente usando esquemas tonais menores clássicos. Nessa canção apela-se ao sentimento, versando temas vinculados ao amor, saudade, sofrimento, desprezo. Geralmente pode-se escutar a morna em ambientes informais onde decorrem as famosas tocatinas, contudo, é nas famosas «noites caboverdianas» que se pode escutar este género musical.

O Instituto do Património Cultural de Cabo Verde [5] declarou em sua página do Facebook:

A aprovação da Morna, segundo a Comissão da UNESCO, vai aumentar a consciencialização das pessoas sobre a importância da cultura cabo-verdiana e, especialmente, do crioulo cabo-verdiano, aumentando a auto-estima e o orgulho da população das ilhas, em torno das suas diferentes expressões culturais.

A coesão social será também reforçada, conduzindo ao desenvolvimento de novas formas de colaboração entre os grupos musicais, investigadores e instituições públicas e privadas.

A aprovação criará também novas oportunidades para a troca de conhecimentos entre gerações e as pessoas das diferentes regiões do arquipélago e da comunidade imigrante e demonstrar, ainda, a diversidade cultural da música e da cultura do atlântico.

A decisão deverá ser formalmente adoptada pela UNESCO em Dezembro, em cerimónia na Colômbia.

Em reacção ao anúncio, vários foram os comentários de celebração.

Jaqui Marques da Silva [6], residente na capital Praia, disse:

Dia deveras memorável e histórico para a cultura cabo-verdiana. Motivo para estarmos todos muito orgulhosos. Ainda que a obra seja de todos nós, porque a morna é expressão maior da alma cabo-verdiana, felicito-o Abraão Vicente Stephanie Duarte Vicente [7] e a toda a equipa que, de forma empenhada, trabalhou para que o sonho pudesse ser realidade. Aos nossos músicos, todos sem excepção, as minhas felicitações.
Para Manuel Viega [8], comunicador e jornalista, a morna já fazia parte do património da humanidade antes mesmo do presente anúncio:

A MORNA, ANTES DO RECONHECIMENTO DA UNESCO,
JÁ ERA, PARA NÓS, PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

A Cidade Velha foi declarada, em 2009, Património da Humanidade, em grande medida, porque Cabo Verde foi o berço da morna, do crioulo e da nossa crioulidade. É por isso que a decisão da Comissão Técnica do Património Mundial em recomendar a inscrição da MORNA na Lista de Património da Humanidade é apenas um reconhecimento de algo que já é, que já era.

Não deixa de ser muito importante essa recomendação, porém o mais importante é o reconhecimento que quem criou a Morna tem desse ato de criação.

Tudo isto para dizer que há muito que celebrei a Morna como Património da Humanidade. Que todos celebrem, com orgulho e patriotismo, esse filho querido e amado da nossa crioulidade.

Para Jorge Martins [9] é a maior elevação da cultura Cabo-verdiana em ascensão:

Que grande notícia! Cabo Verde deu mais um passo importantíssimo na afirmação da sua identidade.

A nossa cultura foi merecidamente premiada e os nossos artistas que sempre lutaram para a preservação, promoção e divulgação desta nossa rica tradição, estão todos de parabéns!

Viva a morna!
Viva as nossas ricas tradições!