As Reggae Girlz, a equipe de futebol feminina da Jamaica, está na França para jogar a Copa do Mundo de Futebol Feminino da FIFA de 2019. Classificada em 53º no ranking internacional, a versão feminina dos Reggae Boyz da Jamaica fará em 9 de junho sua estreia contra o Brasil, atualmente na 10ª posição. Não será um jogo fácil, mas as Reggae Girlz chegaram anunciando sua presença no cenário mundial, e isso, por si só, é um feito memorável.
A história do time começou em 1991, quando a equipe participou de seu primeiro jogo internacional contra o Haiti, e perdeu por 1 a 0. Apesar dessa primeira experiência, e de alguns obstáculos desafiadores ao longo das décadas posteriores, as Reggae Girlz se tornaram a primeira equipe feminina caribenha da história a se classificar para a Copa do Mundo.
Elas fizeram por merecer. Como um time feminino local, que lutou por muitos anos com um patrocínio mínimo, a seleção foi abandonada completamente em 2008, quando a Federação de Futebol da Jamaica (JFF) alegou falta de fundos.
Em 2015, juntou-se a elas uma salvadora improvável: Cedella Marley, cujo pai, Bob, um famoso amante de futebol, reconheceu o dilema das Reggae Girlz e convenceu o técnico estabelecido na Flórida, Hue Menzies, a oferecer seus serviços.
Após uma campanha decepcionante na Copa do Mundo de 2015, o time feminino da Jamaica acabou sendo desfeito pela segunda vez no ano seguinte. Menzies assumiu o controle novamente em 2018, com apoio total de Marley. As Girlz derrotaram o Panamá em uma dramática decisão por pênaltis, o que as classificou para o campeonato de 2019.
Parte da motivação de Menzies foi em prol de uma mudança nas atitudes locais em relação às mulheres no futebol:
I took the project, it wasn't really a soccer deal but to try to see if we can change the mindset of how our people perceive females playing football. In my culture, females mainly do track and field and netball and they thought soccer [in general] is a poor man's sport and they didn't see that females could play football. That was the main reason that I took the job. Sometimes when you do something for a different purpose, good things happen.
Eu abracei o projeto, não era propriamente uma oferta relacionada a futebol, mas sim uma mudança na mentalidade das pessoas, em como elas veem as mulheres jogando futebol. Na minha cultura, as mulheres praticam, na maioria das vezes, atletismo e netbol – e as pessoas pensam que, em geral, o futebol é um esporte para homens pobres, e não queriam ver que as mulheres podiam jogar futebol. Essa é a razão principal pela qual eu aceitei o trabalho. Às vezes, quando fazemos algo com um propósito diferente, coisas boas acontecem.
Marley, que é a diretora executiva da gravadora Tuff Gong International e da Fundação Bob Marley, tuitou seu apoio após ter comparecido ao último jogo das Girlz na Jamaica, antes da ida delas para a França:
What a lovely time at the @ReggaeGirlzJA last game before we head to The World Cup…and another WIN! #CHO #StrikeHard #Herstory #FootballisFreedom@nanaritamarley @BobMarleyFND @alacrangroup pic.twitter.com/7fE4ov4q1S
— Cedella Marley (@cedellamarley) 24 de maio de 2019
Que momentos agradáveis no último jogo das @ReggaeGirlzJA, antes de irmos para a Copa do Mundo… e outra VITÓRIA!
Uma página de futebol do Facebook postou a mensagem:
The Reggae Girlz would not have become the first Caribbean nation to qualify for a Women's World Cup without the help of Cedella Marley.
As Reggae Girlz não se tornariam a primeira nação caribenha a se classificar para a Copa do Mundo Feminina de Futebol sem a ajuda de Cedella Marley.
Agora, o time foi incluído ao vídeo game oficial FIFA 2019, e se orgulha de sua própria mascote:
Our Mascot REGGAE TOYA is the replica of the very first TALKING JAMAICAN Patois doll created to empower black kids so they too can feel a sense of self love and self -pride. Thank you Zuree Dolls for partnering with the Foundation in support of Women’s Football in Jamaica. https://t.co/lB2yVuupPH
— Reggae Girlz Foundation (@Reggae_Girlz_F) Primeiro de Junho de 2019
Nossa mascote REGGAE TOYA é a réplica da primeira boneca Patoá JAMAICANA FALANTE, criada para empoderar as crianças negras, de modo que elas também tenham noção de orgulho próprio e autoestima. Obrigada às Bonecas Zuree pela parceria com a Fundação que apoia o futebol feminino na Jamaica.
O governo jamaicano começou a impulsionar as perspectivas das Reggae Girlz agora que o time está em evidência e tem tido bons resultados. O primeiro-ministro Andrew Holness tuitou:
The Reggae Girlz will debut at the World Cup on June 9, 2019. I congratulate the Reggae Girlz on their remarkable success and encourage all Jamaicans to support the team. pic.twitter.com/dPU9AJkKd9
— Andrew Holness (@AndrewHolnessJM) 31 de maio de 2019
As Reggae Girlz vão estrear na Copa do Mundo em 9 de junho de 2019. Eu parabenizo as Reggae Girlz por seu admirável sucesso e incentivo todos os jamaicanos a apoiarem o time.
Sob a tutela de Menzies, a equipe vem jogando e aprimorando suas habilidades principalmente em times europeus, embora várias participantes estudem e joguem em universidades nos Estados Unidos. Uma integrante do time, a conceituada Jody Brown, da área rural de Lime Hall, na Jamaica, ainda está cursando o ensino médio.
A primorosa atacante Khadijah “Bunny” Shaw – foi considerada a jogadora do ano de 2018 pelo jornal britânico The Guardian, e já está ganhando status de estrela na Jamaica. Nascida na cidade violenta de Spanish Town, ela cresceu em uma família grande, e aprendeu a jogar futebol com os meninos que jogavam descalços na rua. Ela perdeu três irmãos para a violência armada, mas continuou seus estudos e se formou recentemente pela Universidade do Tennessee.
Apesar destas histórias inspiradoras, a pergunta continua: O que acontece após a Copa do Mundo?
O futebol feminino na Jamaica (e na região do Caribe) é sustentável? Os patrocinadores locais irão finalmente assumir suas responsabilidades, sejam quais forem os resultados na França? O público jamaicano continuará animado com as Girlz ou a euforia vai passar?
Tendo sempre em mente a sustentabilidade do time feminino, Cedella Marley lançou uma campanha on-line de captação de verba.
Seja qual for o futuro, os jamaicanos vão aproveitar as próximas semanas da competição. Alguns dos novos fãs das Reggae Girlz estão fazendo as malas para agitarem a bandeira do país na França, enquanto outros irão torcer por elas em festas enquanto assistem aos jogos em casa, bares esportivos e clubes ao longo da ilha e no exterior.
Há até uma canção de apoio ao time, com o refrão “Ataquem pesado!”
Isso é exatamente o que os torcedores do time esperam que as Reggae Girlz façam na França. O futebol jamaicano sempre focou em seu time masculino, apesar de estar sem coesão desde a classificação para a Copa do Mundo de 1998.
Agora é a hora de prestar atenção na capacidade de jogo das meninas. Graças às Reggae Girlz, a Jamaica foi listada na franquia da FIFA pela primeira vez desde 2006, e a esperança é que elas representem o país tão bem quanto seus pares masculinos.