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João Lourenço afirma que não existe fome em Angola durante entrevista televisiva

Categorias: Angola, Portugal, Alimentação, Governança, Protesto
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João Lourenço, Presidente de Angola. Photo: Wikimedia Commons CC BY-SA 2.0

Uma entrevista [2] concedida pelon Presidente de Angola João Lourenço à RTP, canal de televisão público português, em que afirma não haver fome em seu país têm causado indignação entre angolanos [3].

Em certo momento da entrevista de pouco mais de 30 minutos transmitida no dia 4 de Março, o jornalista português da RTP África referiu-se ao relatório do UNICEF que coloca Angola como um país onde pessoas morrem de fome. Lourenço então refutou a existência de fome no país, embora tenha admitido a subnutrição. Ele afirmou:

A nossa luta é lutar para reduzir os índices de pobreza, devido aos longos anos de conflito armado. Hoje há oferta de bens alimentares em Angola, não se pode dizer que existe hoje fome em Angola, é uma questão de alguma má nutrição.

O Presidente João Lourenço fez tais declarações em vésperas da chegada a Angola do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e poucos dias antes de um padre católico e defensor dos direitos humanos ter denunciado a morte de cidadãos angolanos [4] por conta da fome numa zona do país onde há seca.

No mesmo diapasão, o activista cívico Manuel Mapanda, mais conhecido como Dago Nível, questionou  [5]as desclarações do Presidente, tendo dito:

Como é que o senhor vai dizer que não existe fome em Angola? Não leu a Denúncia do padre Jacinto Wacussanga sobre a morte de um Angolano por fome? Será que nos Gambos e no Curoca já não há fome? Assim que Jlo assumiu a presidência a maioria dos Angolanos passou a ter a cesta básica, e a fome foi eliminada?

Durante a malfadada entrevista, o chefe de Estado angolano também deixou patente a sua vontade em combater a corrupção que faz parte do programa eleitoral do partido, tendo dito:

Ninguém pode garantir que daqui para a frente não haverá corrupção e, que não haverá corruptos, mas que não ficarão impunes tal como sempre foi. Não haverá mais intocáveis, segundo João Lourenço. Esse tempo ficou para trás.

Em 2018, o Fórum Regional para o Desenvolvimento Universitário (FORDU) [6], uma associação cívica da área de educação, sediada no sul de Angola, elaborou um documentário (que não existe de forma online) intitulado “Angola, um país em risco”, o qual aponta o elevado número de pessoas que procuram por comida nos contentores, quer no centro urbano da província do Huambo, foco do documentário, quer na capital do país Luanda.

Captura de imagens do vídeo que existe apenas em DVD físico | Foto do autor, Simão Hossi -- usada com permissão [7]

Captura de imagens do documentário, disponível apenas em DVD físico | Foto do autor, Simão Hossi — usada com permissão

Da JM. Notícias [8], uma página na rede de notícias no Facebook, veio um posicionamento incisivo contra as declarações de João Lourenço:

Precisamos reconhecer que ainda há muita gente em Angola vivendo á [sic] margem da sociedade, problema que dificilmente se resolverá se não haver uma promoção de programas de inclusão social credíveis, onde é cobrado e prestado contas. E não com este nascer de uma nova elite de gatunos tipo quem não se safou no outro tempo, que aproveite á [sic] brecha agora em que o artista principal e financeiro da nação é o J.Lourenço.

Olha que os principais desafios estão ai mesmo diante dos vossos próprios olhos, em vencer os problemas nas áreas da saúde, educação, habitação, etc, que pelo menos já deveriam dar alguns sinais mesmo que tímidos, mais [sic] nada se vê .