Comunidade LGBT da Guiana celebra sua primeira parada do orgulho gay

Bandeira arco-íris. Foto de Jaime Pérez, CC BY-NC 2.0.

“Espalhe amor, não ódio” foi o mantra da primeira parada do orgulho gay da Guiana, que aconteceu no dia 3 de junho deste ano. O evento proporcionou à comunidade LGBT do país a oportunidade de dar um passo à frente e sair da invisibilidade, reivindicando seu direito de ter orgulho de ser quem é e de poder escolher a quem amar:

‘Espalhe o amor, não ódio’

Parabéns por sua primeira parada do orgulho gay, Guiana! #LoveIsLove??pic.twitter.com/lEFxgf5Kja

— Shomeo (@SassBaller) 4 de junho, 2018

As festividades começaram na Praça da Revolução, na capital Georgetown. Os participantes da parada vestiam roupas com as cores do arco-íris e dançavam ao som de música soca [gênero musical descendente do Calipso], enquanto marchavam em solidariedade contra o ódio e a intolerância:

#Guyana_Pride
Um momento de orgulho para celebrar a existência dos cidadãos LGBTQ+ da Guiana pic.twitter.com/S5PdblZn7b

— Guyana Trans United (@trans_guyana) 3 de junho, 2018

O sexo anal (popularmente conhecido como “sodomia” em muitos lugares do Caribe) ainda é proibido na Guiana, apesar das sentenças históricas no caso de Caleb Orozco em Belize, no ano de 2016, e, mais recentemente, no caso de Jason Jones em Trindade e Tobago, que consideraram inconstitucional a criminalização da sodomia. Ambos os casos foram alvos de controvérsias e de reações negativas por todo o país. O mesmo aconteceu com a parada gay da Guiana.

Os internautas expressaram claramente sua opinião contrária. Em uma discussão no Facebook, Yolanda Adams deixou um comentário mordaz que reflete muito bem o papel da religião nessa situação:

Mr President stand your ground, if you only promote this act, the country will be curse[d] because God is totally against it. He has destroy[ed] a nation already because of this act and hasn't changed. These are not the days to please mankind, your first duty is to protect the inncocent (sic) children. Because if you don't you will answer to God.
So don't make decisions on Votes, God put you there not man.
So please put God first.

Sr. Presidente seja firme, apenas por promover esse ato, o país será amaldiçoado, pois Deus é totalmente contra. Ele já destruiu uma nação por causa disso e assim será. Não é tempo de agradar os homens, sua prioridade é proteger as crianças inocentes. Porque se não o fizer, responderá perante Deus.
Por isso, não tome decisões pensando em votos, foi Deus quem o colocou aí, não o homem.
Então coloque Deus em primeiro lugar também.

Shanna Leaona Patterson também se mostrou contra a revogação da lei:

This government stands a better chance if they legalize small quantities of marijuana instead of antimen so they had better choose wisely

Este governo tem mais chances se legalizar pequenas quantidades de maconha em vez de anti-homens, por isso, é melhor escolherem direito

“Anti-homem” é o termo guianense para homem homossexual.

No Facebook, a usuária Brenda Oliver publicou:

People just trying a thing that will not pass in Guyana. Guyana is not America

As pessoas estão tentando fazer algo que não vai acontecer na Guiana. A Guiana não é os Estados Unidos

Outros usuários do Facebook acreditam que o evento foi uma gritante contradição das leis do país, e muito se discutiu sobre a condenação religiosa. Houve quem dissesse que o país tem outras questões — por exemplo, as relações inter-raciais — de caráter mais urgente para resolver. Aqueles que apoiaram a parada — ou que pelo menos preferiram não opinar — aparentam ser a minoria.

Contudo, para a comunidade LGBT guianense, a parada foi um primeiro passo contra a marginalização que enfrentam por causa de sua orientação sexual e identidade de gênero. Priya Manickhand, membro do Parlamento que apoia a causa, disse que “as pessoas deveriam ser livres para fazer suas próprias escolhas” e que no quarto não tem lugar para o governo.

Suas declarações receberam apoio online. Shannon Andre Persoud, usuária do Facebook, escreveu:

I really can’t tolerate people against the LBGTQ community. What a tremendous step it was to see this embraced in Guyana but not of course without the ignorant trolls. But instead of engaging with discriminative and uneducated people, I unfriended and problem solved! Love is love  ❤ And this world could do with less hatred and discrimination and lots more love and humanity. #isupportthelbgtqcommunity

Não consigo tolerar quem é contra a comunidade LGBT. Ver essa causa ser abraçada na Guiana foi um passo tremendo. Claro que não faltam trolls ignorantes, mas em vez de compactuar com gente mal-educada e julgadora, eu desfaço a amizade e pronto. Amor é amor ❤ O mundo ficaria melhor com menos ódio e discriminação, e com muito mais amor e humanidade.
#isupportthelbgtqcommunity

E teve também defensores no Twitter:

Só falta um! #Guyana é o único país da América do Sul onde a homossexualidade ainda é ilegal! E o país acaba de celebrar sua primeira parada do orgulho LGBT. Esperamos que a descriminalização seja o próximo passo: https://t.co/KinMuV8YK6 Parabéns @SASODGuyana @GuyanaTrans & Guyana Rainbow Foundation. SOLIDARIEDADE

— Peter Tatchell (@PeterTatchell)  5 de junho, 2018

A parada é apenas uma das faces da luta da comunidade LGBT por direitos iguais. Joel Simpson, diretor-geral da Sociedade contra a Discriminação pela Orientação Sexual (SASOD, da sigla em inglês), que organizou o evento, tem uma mensagem para o governo: a comunidade LGBT espera ver mais ação.

No entanto, há uma forte resistência. Em uma conferência um dia antes da parada, membros da Associação de Ministros de Georgetown expressaram seu desgosto ao ameaçarem reter seus votos durante as eleições. A comunidade cristã compreende mais de 60% da população da Guiana e, como é o caso em outros territórios na região, está fazendo lobby para evitar a revogação das antigas leis da sodomia. A Associação chegou a ameaçar bloquear a parada, mas com o pesado policiamento, nada aconteceu.

Simpson, que compareceu à conferência como representante da comunidade gay, afirmou que os cidadãos LGBT ainda aguardam que se cumpra a promessa de uma mudança legislativa, feita na campanha de 2015:

We are voting, tax paying law abiding citizens like everyone… We are not asking for anything special. We should enjoy protection from discrimination.

Nós votamos, pagamos impostos assim como qualquer outro cidadão… Não estamos pedindo nada especial. Nós deveríamos usufruir de proteção e não discriminação.

Revisado por Nina Jacomini

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