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Sob ameaça de prisão, rap que critica militares viraliza na Tailândia

Categorias: Leste da Ásia, Tailândia, Arte e Cultura, Direitos Humanos, Governança, Juventude, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Música, Política, Protesto
[1]

“O país em que as pessoas são mortas de ambos lados”. O trecho do videoclip faz referência à violência praticada contra aqueles que se opõem aos militares e às constantes querelas entre partidos políticos. Captura de tela do vídeo no YouTube.

Um videoclipe de rap criticando o governo militar da Tailândia viralizou [2] na internet a despeito das ameaças feitas pelas autoridades locais de investigar os autores da canção. Primeiro ministro tailandês disse se tratar de uma canção “inapropriada”.

Lançado no dia 22 de outubro, o videoclipe de cinco minutos “Prathet Ku Mi” [1] [O que acontece no meu país], do grupo Rap Against Dictatorship [Rap contra ditadura], teve 600 mil visualizações no YouTube em apenas dois dias. Em novembro, as visualizações chegavam a mais de 40 milhões.

O grupo composto por 10 rappers compôs a canção que critica o estado de violência, a corrupção governamental e o domínio militar coletivamente. Alguns deles optaram por manter seu anonimato.

Liderado pelo general Prayuth Chan-ocha, o Exército desferiu um golpe [3] na Tailândia em 2014. Uma nova constituição foi esboçada, garantindo o controle militar da burocracia estatal mesmo na possibilidade de restauração da lei civil. Prayuth anunciou que as eleições acontecerão ano que vem, mas o governo impôs várias restrições às campanhas políticas.

O grupo de rap foi elogiado por sua bravura e criatividade ao ilustrar a situação do país. Abaixo, capturas de tela de alguns trechos do videoclipe:

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“A constituição é escrita e apagada pelas botas do Exército”. A imagem faz referência à constituição de 2016, que supostamente facilitaria a transição do país para a democracia mas só reforçou o dominío dos militares. Captura de tela do vídeo no YouTube.

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“O país que aponta a arma para a sua garganta”. O trecho se refere ao golpe militar de 2014 e à continuidade da ditadura militar na Tailândia. Captura de tela do vídeo no YouTube.

O primeiro ministro Prayuth era o chefe do exército que liderou o golpe militar de 2014. Captura de tela do vídeo no YouTube [1]

“Até a PM é escolhida pelo Exército”. O primeiro ministro Prayuth era o chefe do Exército que liderou o golpe militar de 2014. Captura de tela do vídeo no YouTube

Em segundo plano, podemos ver um grupo de pessoas que parece aplaudir algo. Quase no final do vídeo, é revelado que se trata de uma referência ao povo e às forças paramilitares que atacaram [4] e mataram dúzias de estudantes da Universidade Thammasat, quando estes protestavam contra o controle militar em 1976.

[1]

O videoclipe recria uma das cenas brutais do Massacre na Universidade Thammasat, em 1976. Captura de tela do vídeo no YouTube.

Questionado sobre a inclusão do brutal massacre com enforcamento em árvores [5] na Universidade Thammasat, mostrado no vídeo, e se isso glorificava a violência, o diretor Teerawat Rujintham explicou [6] em entrevista para o site Prachatai que:

Sometimes we also have to present violence using a straightforward method, so that people will feel and see certain truths.

Society that lives under fear and self-censorship doesn’t work. If we believe in something, we must be brave enough to fight and take a stand for it.

Às vezes temos que apresentar também a violência de forma direta, para que as pessoas sintam e vejam certas verdades.

Uma sociedade que vive sob a égide do medo e da autocensura não funciona. Se acreditamos em algo, temos que ter coragem o bastante para lutar e defendê-lo.

As autoridades Tailandesas, sob  liderança de Prayut, criticaram [7] a música por “desrespeitar” o país, e chefes da policia ameaçaram investigar o grupo de rap e acusar todos que compartilhassem a canção nas mídias sociais. Até o momento, não foram emitidos mandados de prisão.

Em vez disso, o governo lançou [8] seu próprio rap celebrando [9] a inovação e o progresso, mas falhou em gerar entusiasmo nas mídias sociais.

É possível que o governo de Prayut, percebendo a popularidade da canção junto à juventude, esteja mantendo cautela para não inflamar a população em um período em que precisa do apoio de eleitores.

De fato, muitos internautas tailandeses e líderes de vários partidos políticos declararam apoio aos rappers:

Eu sempre digo que o poder suave da música e da literatura é uma força crucial para levar a sociedade a um futuro progressivo. Rap Against Dictatorship fez um excelente trabalho com  #ประเทศกูมี [10]. Eles mostraram para o mundo que nós Tailândeses não nos rendemos ao poder da Junta. https://t.co/Z0QkDurDlS [11]

— Thanathorn Juangroongruangkit (@Thanathorn_FWP) 26 de outubro, 2018 [12]

Em entrevista ao site de noticias Coconuts, os integrantes do grupo Rap Against Dictatorship responderam [13] aos críticos que os acusaram de manchar a imagem da Tailândia no exterior:

To the people who say we’re ‘ruining Thailand’s reputation’, I ask what looks worse: turning a blind eye on the problems that everyone already knows about anyway or recognising our problems and starting a conversation to look for solutions?

Às pessoas que dizem que estamos ‘arruinando a reputação da Tailândia’, eu pergundo o que lhes parece pior: fechar os olhos para os problemas que todos já conhecem de qualquer maneira ou reconhecer nossos problemas e começar um diálogo em busca de soluções?

Assista ao videoclipe [1] na íntegra:

 

Revisado por Nina Jacomini [14]