Brasil chora vendo seus mais antigos tesouros se transformarem em cinzas no incêndio do Museu Nacional

Bombeiros lutam durante horas para apagar o fogo no Museu Nacional. A falta de água foi um problema | Imagem: Captura de tela de vídeo ao vivo do Facebook de Felipe Milanez.

Os brasileiros ficaram desolados depois que o Museu Nacional, o mais antigo do país e, sem dúvida, o mais importante, guardião das maiores coleções de história natural e antropológica da América Latina, queimou inteiramente no domingo, 3 de setembro, em um devastador incêndio que durou a noite inteira.

O Museu Nacional foi fundado no Rio de Janeiro em 1818, pelo então rei de Portugal, D. João VI. O museu foi estabelecido em um palácio do mesmo período. O local serviu como residência de famílias reais portuguesas e brasileiras até 1889. E também o local em que a primeira Assembleia Nacional Constituinte foi realizada.

Durante seus 200 anos de história o museu — seu aniversário foi comemorado em junho deste ano — reuniu um acervo com cerca de 20 milhões de itens. Embora uma lista completa de itens destruídos ainda venha a ser divulgada, tesouros como o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, peças do antigo Egito e a carta original que aboliu a escravatura no Brasil, de 1888, já foram confirmados como perdidos.

Algumas pessoas, incluindo funcionários do museu e cientistas, arriscaram a própria vida durante o incêndio para resgatar alguns itens.

Embora o número de visitantes tenha decrescido a cada ano — mais brasileiros visitaram o Louvre em 2017 do que o Museu Nacional –, houve inúmeras reações on-line após a notícia do incêndio.

O jornalista e professor Felipe Milanez fez uma transmissão ao vivo do museu durante o intenso incêndio:

Um usuário do Twitter fez uma longa postagem, com imagens, do que poderia estar perdido no incêndio:

Um vídeo postado na página do Facebook Realidade Simulada, mostra uma visão aérea de como o museu era antes do incêndio:

O preço da falta de cuidado

Após a tragédia, as pessoas se deram conta de como as autoridades negligenciaram o Museu Nacional durante anos. O museu é gerenciado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma instituição pública e cada vez mais subfinanciada.

Luísa Nunes, uma aluna da universidade, lembrou no Twitter que este foi o sexto grande incêndio em prédios da UFRJ desde 2011.

O estado do Rio de Janeiro está afundando em uma crise orçamentário sem precedentes: houve cortes contínuos nos salários de servidores públicos, incluindo dos bombeiros. Os dois hidrantes próximos ao museu estavam secos e os bombeiros tiveram que improvisar bombeando água de um lago nos arredores, perdendo assim 40 minutos de trabalho no processo.

O orçamento anual do museu, de aproximadamente $500.000 reais por ano ($125.000 dólares), sofreu cortes significantes ao longo dos últimos quatro anos, revelou o jornal local Folha de S.Paulo em uma matéria de maio de 2018. O usuário do Twitter, DanPimpao, postou um gráfico mostrando o quanto foi cortado do orçamento do museu desde  2013:

O museu em chamas. Imagem de Felipe Milanez, utilizada com permissão.

No aniversário de 200 anos, a administração lançou uma campanha de crowdfunding para reabrir uma sala com acervo relevante, onde estava o esqueleto do Maxakalisaurus, o primeiro grande dinossauro montado no Brasil. Foram arrecadados 58 mil reais do objetivo inicial de 30 mil reais – porém o ideal seriam 100 mil reais.

O professor Stevens Rehen comentou no Facebook:

Na festa dos 200 anos, nenhum ministro de estado compareceu. O orçamento despencou de R$ 531 mil em 2013, para R$ 54 mil em 2018.

Esse ano todo o investimento do governo no Museu Nacional foi o equivalente a 1/4 do que cada deputado de Brasília recebe por mês somente para contratar assessores.

Um usuário do Twitter comparou a quantia com outras despesas do governo:

O museu iria receber recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para implementar um plano de segurança contra incêndios. A primeira parcela seria em outubro.

O jornalista Breiller Pires resumiu o sentimento dos brasileiros que assistiram ao prédio queimar sem poder fazer praticamente nada:

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