A América Latina é a região da Terra em que mais se mata, e esta série do YouTube quer saber por quê

Captura de tela do primeiro episódio da série, disponível no YouTube.

Com apenas 8% da população mundial, a América Latina representa 33% dos homicídios, tornando-se o continente com maiores índices de mortalidade do planeta. Cerca de 2.5 milhões de pessoas foram assassinadas na região desde o começo do século, mais mortes do que em todas as guerras do mundo no mesmo período.

Nas últimas décadas, tem havido mais pesquisas sobre o fenômeno do que tentativas de divulgar as descobertas para o grande público. La Pullacanal colombiano do YouTube, está tentando levantar a questão através de uma série de sete episódios chamada Matar, la desgracia de América Latina”  (“Matar, o mal da América Latina”).

O canal La Pulla é administrado por jovens repórteres do jornal colombiano El Espectador, que circula há 130 anos, e aborda temas complexos, através de análises rigorosas com um senso de humor sarcástico. Apesar de ser voltado para os jovens colombianos, tem seguidores de todas as idades, dentro e fora do país sul-americano.

A série “Matar” estreou em junho de 2017 e se tornou uma das mais populares do canal. Alguns episódios têm legendas em inglês.

No primeiro episódio, convidados especiais abordam o caso mexicano. O comentarista político Jorge Roberto Avilés Vázquez, conhecido na rede como Callodehacha, explica que o problema não se restringe aos cartéis de drogas:

Un dato para el presidente Trump: casi la mitad de los vendedores de armas [estadounidenses] dependen de nosotros como clientes. En México, hay armas suficientes para repartir a uno de cada tres hombres […]. Y en la frontera, cada kilómetro hay dos tiendas de armas […] Si tú mezclas una cultura violenta, desigualdad económica y el narcotráfico, esto es lo que nos queda: una montaña de muertos.

Um dado para o presidente Trump: quase metade dos vendedores de armas [norte-americanos] depende de nós como clientes. No México, há armas suficientes para serem distribuídas para um a cada três homens […]. E na fronteira, há duas lojas de armas a cada quilômetro […] Se você juntar uma cultura violenta, a desigualdade econômica e o narcotráfico, só sobra isto: uma montanha de mortos.

Alguns episódios abordam aspectos específicos do fenômeno, como as altas taxas de homicídio da população transexual – cuja expectativa de vida na região está abaixo dos 40 anos – e as representações nocivas do tráfico e consumo de drogas pela mídia e a indústria do entretenimento.

Em outro episódio, a série olha mais de perto a cidade colombiana Medellín, conhecida pelo seu cartel de droga e sua recuperação posterior, que se traduz em uma queda drástica na taxa de homicídio, desde o início da década de 2000.

As causas são complexas e não estão vinculadas ao governo ou às iniciativas populares. Como explica o vídeo, vários fatores contribuíram para a transformação da cidade, como o investimento público, a participação da comunidade, e pactos entre os cartéis de drogas.

Nesse episódio, artistas e líderes da comunidade descrevem, através das próprias experiências, as consequências das iniciativas artísticas e educativas nos seus bairros.

Daniela Arbeláez, do centro comunitário Casa de las estrategias (“Casa das estratégias”), afirma:

… Nos hemos hecho muy muy duros frente a el tema de la violencia. [Llegamos a hacernos sentir] que no está pasando nada […Nos decimos] “eso es de esta cuadra para allá, no preguntemos, yo a esa cuadra no voy”. “No, se están matando entre ellos, pero yo no soy ellos”. Y los toques de queda, que es encerrar a la gente. Eso lo hacen las bandas ilegales, pero también en muchos momentos los ha hecho el Estado. Eso a mi me parece falta de creatividad, porque el Estado se está equiparando con [los métodos del crimen] y no con los procesos de base comunitaria […], que responden a otras cosas, a pasiones de las personas […a la necesidad de tener] lugares para enamorarse, maneras fáciles de salir del barrio, entrar… y recorrer toda la ciudad…

… Nós estamos muito, muito indiferentes ao tema da violência. [Chegamos a nos convencer] de que não está acontecendo nada […Falamos para nós mesmos] “isso é naquele quarteirão, não neste. Não façamos perguntas, nesse quarteirão eu não piso”. “Não, eles estão se matando entre eles, e eu não sou um deles”. E os toques de recolher são uma forma de manter as pessoas presas. São as facções que os impõem e, às vezes, também o Estado. Me parece falta de criatividade, pois o Estado está se igualando ao usar os mesmos [métodos do crime], em vez de utilizar métodos de base comunitária […], que respondem a outras coisas, às paixões das pessoas […à necessidade de se ter] lugares para se apaixonar, maneiras fáceis de entrar e sair do bairro… andar pela cidade…

Outros vídeos exploram o caso da Venezuela, que atualmente se encontra em meio a uma crise política e econômica, a América Central com o complicado problema das facções ou o papel do sistema carcerário na violência e no crime urbano.

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