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Indignação no México por cruel assassinato de três estudantes de Cinema

Categorias: América Latina, México, Guerra & Conflito, Mídia Cidadã, Primeira Mão, Protesto
Estudiantes disueltos en ácido

Foto da marcha de 24 de abril de 2018 na Cidade do México, compartilhada [1] no perfil público do Twitter do ativista Emilio Álvarez Icaza.

Os usuários das redes sociais no México – especialmente os que usam o Twitter– manifestaram seu pesar, desagrado e indignação com a notícia [2] publicada em 23 de abril de 2018 sobre três estudantes de cinema que estavam desaparecidos desde março. A versão [3] divulgada pelas autoridades locais é que os jovens foram mortos por membros do crime organizado que, a seguir, dissolveram seus corpos com ácido, em uma tentativa de descartar os vestígios.

Assim que a notícia foi publicada, a jornalista e acadêmica Gabriela Warkentin pronunciou-se da seguinte maneira:

Assassinados e dissolvidos em ácido, assim reaparecem os três estudantes de cinema sequestrados em Jalisco.

É desse México que temos que falar todos os dias.

Todos os malditos dias.

Droga!

Os fatos

Desde 20 de março de 2018, integrantes da comunidade da Universidade [5] de Meios Audiovisuais CAAV, com sede em Guadalajara, no estado de Jalisco [6], oeste mexicano, denunciaram publicamente que o paradeiro de Salomón Aceves, Marco Ávalos e Daniel Díaz, alunos da mencionada universidade era desconhecido. A jornalista Zorayda Gallegos, colaboradora de muitos veículos, entre os quais o jornal El País, reportou sobre [7] o ocorrido:

Salomón Aceves Gastélum, de 25 años y originario de Mexicali (Baja California); Daniel Díaz, de 20 años y de Los Cabos (Baja California Sur), y Marco Ávalos de 20 años y de Tepic (Nayarit), vivían en la zona metropolitana de Guadalajara, donde estudiaban cine. Los tres desaparecieron el pasado lunes después de realizar una grabación en un domicilio de Tonalá [8], una localidad colindante con Guadalajara, donde realizaban una tarea escolar.

Salomón Aceves Gastélum, de 25 anos, originário de Mexicali (Baixa Califórnia); Daniel Díaz, de 20 anos, de Los Cabos (Baixa Califórnia do Sul) e Marco Ávalos, 20 anos, de Tepic (Nayarit), viviam na região metropolitana de Guadalajara, onde estudavam Cinema. Os três desapareceram segunda-feira passada após realizar uma gravação, como parte de uma tarefa escolar, em uma residência em Tonalá [9], localidade adjacente a Guadalajara.

Segundo uma cronologia [10] publicada pelo jornal mexicano Milenio, um grupo de “homens fortemente armados”, que se apresentaram como integrantes da Polícia, abordaram os estudantes e outros que os acompanhavam nas imediações do condomínio Colinas de Tonalá, onde foram sequestrados. Outras fontes [11] afirmaram que eles foram confundidos com integrantes de outra organização criminosa que disputava o controle da área.

Depois (retomando a crônica do Milenio) os jovens foram levados a uma casa onde um deles, Salomón Aceves, faleceu enquanto era torturado. Posteriormente, seus companheiros também foram assassinados e levados a outro local no qual, segundo as autoridades [12], seus corpos foram dissolvidos em ácido sulfúrico [13].

A indignação

A usuária do Twitter, Montserrat, compartilhou imagens com o rosto dos estudantes executados:

Aqui estão. São três de nós. Estudantes de cinema.

Dissolvidos em ácido.

Á C I D O pic.twitter.com/uWw5ZUOWNx [14]

Camilo Saavedra falou o seguinte ao saber da notícia:

Indignação total hoje em Jalisco e no México. Hoje confirmaram a infeliz notícia que se aproximava depois de tanta agonia, três estudantes inocentes mortos pelo crime. Nós, mexicanos, estamos fartos de tanta violência! #NoSonTresSomosTodxs [16]

Vianey compartilhou sua tristeza com a seguinte mensagem:

Que triste saber que ser estudante neste país provoque a morte; que dor e impotência saber que qualquer um de nós poderia acabar dissolvido em ácido por estar na hora e no lugar errados. #NoSonTresSomosTodxs [16] Toda minha boa energia para suas famílias.

A publicação de Vianey pode ser melhor entendida ao recordarmos o caso dos 43 estudantes que desapareceram em Iguala, no estado de Guerrero, em setembro de 2014 (Caso Ayotzinapa [19]).

Luis Antonio García fez o seguinte comentário, com referência à anistia que o aspirante à presidência do país mais bem posicionado [20]nas pesquisas sugeriu para contra-atacar a violência generalizada:

É uma pena a confirmação dos estudantes assassinados em Jalisco.
Como país, devemos exigir justiça. Não há justificativa para esses crimes, nem explicação pelo contexto social. Jamais impunidade, jamais anistia a seus assassinos.
Justiça! pic.twitter.com/efbTKyxSBQ [21]

Uma técnica que não é nova

A utilização de ácidos e outros potentes agentes químicos corrosivos com o propósito de dissolver cadáveres não é novidade no México. Santiago Meza López [23] – mais conhecido como El Pozolero – talvez seja o mais notório criminoso já condenado por este tipo de atrocidade. Versões jornalísticas [24] calculam que El Pozolero dissolveu mais de 300 corpos humanos, todos envolvidos no contexto do conflito armado interno em que se encontra imerso o México.

Protestos na capital mexicana… e na rede

Na tarde de 24 de abril, milhares de jovens saíram às ruas [25] da Cidade do México para protestar contra a violência generalizada que afeta o país. No Twitter, a hashtag #NoSomosTresSomosTodxs tornou-se uma tendência [26], e foi utilizada pelos cidadãos para pedir justiça e segurança ao Estado.

Espera-se que mais mobilizações cidadãs se realizem com o objetivo de enfrentar a passividade cúmplice das autoridades, a mesma que propiciou a insegurança e a violência que tomou conta de várias regiões do país.