México, a estrela do Oscar

Guillermo del Toro em 2013, durante a sua participação no WonderCon em Anaheim, Califórnia. Foto do usuário do Flick Gage Skidmore, publicada sob licença Attribution-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-SA 2.0)

Mais uma vez, a entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana terá, entre os seus protagonistas, um mexicano. Trata-se de Guillermo del Toro, escritor e diretor do longa-metragem “A Forma da Água”.

A obra de Del Toro recebeu 13 indicações aos prêmios Oscar, que, ano após ano, a Academia entrega aos melhores da indústria cinematográfica comercial. O portal mexicano Cinepremiere publicou a notícia:

La forma del agua, la galardonada película de Guillermo del Toro se convirtió en la cinta más nominada de la entrega número 90 de los Premios Oscar. Luego del exitoso viaje que esta historia de amor ha tenido desde Venecia –donde el cineasta mexicano se llevó el León de OroThe Shape of Water obtuvo 13 nominaciones.

‘A Forma da Água’, o aclamado longa-metragem de Guillermo del Toro, foi o filme com mais indicações na 90ª edição dos prêmios Oscar. Depois do sucesso dessa história de amor no Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde o cineasta mexicano ganhou o Leão de Ouro, ‘A Forma da Água’ teve 13 indicações.

Entre as indicações recebidas, destacam-se as de melhor roteiro original, melhor direção e melhor filme.

Há anos, a entrega desses prêmios tem sido dominada por cineastas mexicanos, apesar do panorama adverso que os imigrantes mexicanos – bem como os latinoamericanos em geral – enfrentam, consequência do discurso e das ações contra os latinos adotadas pelo atual presidente, Donald Trump.

Em 2015 e 2016, a equipe formada por Alejandro González Iñárritu e Emmanuel “Chivo” Lubezki foi premiada pelo seu trabalho em “Birdman ou (A Insperada Virtude da Ignorância)” e “O Regresso”.

Além disso, em 2014, Lubezki (melhor fotografia) e o mexicano Alfonso Cuarón (melhor edição e melhor direção) receberam estatuetas pelo filme “Gravidade”.

A boa notícia sobre o reconhecimento do trabalho de Del Toro foi bem recebida nas redes sociais, principalmente no Twitter, onde a hashtag #PorqueSoyMexicano (#PorqueSouMexicano) foi usada para compartilhar os memes de Del Toro que circularam uns dias antes, dando eco à resposta que o diretor deu em uma entrevista coletiva em que lhe perguntaram como balanceava as suas visões de vida e morte de forma tão complexa e próxima. O meme foi compartilhado pela Embaixada dos Estados Unidos no México:

Por que recebo 13 indicações ao Oscar por um filme chatérrimo? #PorqueSouMexicano #TalentoMexicano pic.twitter.com/uA9sSnngV

Basicamente, os usuários fizeram uma série de declarações que (do seu ponto de vista) caracterizam os mexicanos, acompanhadas da imagem de Del Toro:

— Por que você azara tudo?
#PorqueSouMexicano pic.twitter.com/tYTjhm1UGJ

Álvaro Cano descreveu um comportamento típico em lanchonetes e instalações de lazer, onde os mexicanos costumam prolongar a estadia e o consumo:

–Por que você sempre diz «só mais uma e nós vamos embora», mas nunca é a última e você nunca vai embora?
#PorqueSouMexicano pic.twitter.com/ZNkCUnOaJw

Mais reações e memes sobre este tema podem ser encontrados em um artigo escrito por Darinka Rodríguez.

Por outro lado, o usuário com o nome de “no sabe/no responde” (não sabe/não responde), chamou a atenção ao fato de que outros trabalhos do diretor mexicano não fizeram tanto sucesso nos Estados Unidos por não conterem diálogos em inglês, como é o caso de “O Labirinto do Fauno”:

A sua forma da água é bonita, mas não passa disso. A essa altura do campeonato, Del Toro já poderia ter feito algo muito melhor. Mas, como os gringos não viram essa beleza que é O labirinto do fauno, porque ler legendas é um saco, agora sim ele vai receber um montão de prêmios.

Outras visões

Alvar Ortiz apontou que os telespectadores norte-americanos (ou “gringos”, como são conhecidos por parte do povo mexicano), podem ignorar a nacionalidade de Del Toro:

Pois pra mim parece que a grande maioria dos telespectadores gringos não fazem nem ideia de que Guillermo del Toro é mexicano. Simplesmente foram ver o filme do momento, da temporada de prêmios

No jornal La Jornada, Carlos Bonfil escreveu uma crítica ao longa-metragem em questão que, na sua opinião, é um manifesto a favor das minorias e dos grupos que, frequentemente, são alvos de violência:

La forma del agua es, más allá de su evidente tributo al cine de horror de los años 50, y del deleite de revivir, de un modo gozoso, el encanto para muchos ya obsoleto de las comedias musicales de esa misma época, un vigoroso alegato en favor de la tolerancia y del respeto a las minorías (étnicas y sexuales, y también a las mujeres, esa inmensa minoría social –la mitad de la población global– todavía hoy agraviada por una prepotencia masculina).

‘A Forma da Água’ é muito mais do que um claro tributo aos filmes de terror dos anos 50 e o prazer da nostalgia. Com uma pitada de humor, representa o encanto – para muitos, antiquado – dos musicais de comédia da mesma época e é um forte argumento a favor da tolerância e do respeito às minorias (éticas e sexuais, além das mulheres, essa imensa minoria social – metade da população mundial –, ainda injustiçada por uma sociedade predominantemente masculina).

Quanto a essa mensagem, no contexto de uma crescente xenofobia nos Estados Unidos, Bonfil apontou no mesmo artigo:

Cuando la cinta de Del Toro llegue a la ceremonia de entrega de los Óscares, de modo muy destacado y en un clima de fuertes cuestionamientos a una intolerancia social dominante, se entenderá, tal vez, más allá de su jubiloso candor y su poesía visual, la imprescindible urgencia de su mensaje solidario.

Quando o filme de Del Toro chegar à cerimônia de entrega dos prêmios Oscar, com destaque e em meio ao clima de fortes questionamentos à intolerância social dominante, talvez se faça entender a extrema urgência de sua mensagem solidária, que vai muito além da alegre candura e poesia visual.

A nonagésima entrega dos prêmios Oscar será no dia 4 de março de 2018 na Califórnia, Estados Unidos.

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