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Cresce a apreensão na Uganda sobre casos de febre gerada por vírus mortal

Categorias: África Subsaariana, Uganda, Governança, Mídia Cidadã, Política, Saúde
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Uma unidade de tratamento de ebola no condado de Grand Cape Mount, na Libéria. Foto de Martine Perret (Resposta de Emergência ao Ebola das Nações Unidas), via Flickr. (CC BY-NC 2.0)

A morte de Bridget Nalunkuuma [2] no centro da cidade ugandesa de Nakaseke revoltou os habitantes que temem que a menina possa ter morrido de febre hemorrágica da Crimeia-Congo.

Segundo a imprensa, mais oito pessoas morreram [3] nos últimos meses depois de apresentarem sintomas parecidos.

Presente na África Sub-Saariana, parte do Oriente Médio e na Ásia, a febre hemorrágica da Crimeia-Congo [4] é transmitida por meio da picada de insetos ou do contato direto com fluidos secretados dos corpos de pessoas ou animais infectados. Apresenta sintomas parecidos com o do Ebola, infecção viral que já matou 11.217 pessoas em três países na África Ocidental em 2014. Mas os vírus das duas doenças não fazem parte da mesma família.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que a febre hemorrágica da Crimeia-Congo [4] (FHCC) pode levar a óbito mais de 40% das pessoas infectadas. Não há vacinas para esta doença.

Vários meios de comunicação informaram que o corpo da criança de nove anos foi submetido a testes da febre hemorrágica da Crimeia-Congo e os resultados foram positivos [5].

As autoridades tomaram as devidas precauções contra a doença antes de coletarem e enterrarem o corpo, como pode ser visto nas fotografias tiradas e disponibilizadas pela Uganda Radio Network [2].

Enquanto rumores sobre o vírus têm circulado pela internet e pela mídia, o governo Ugandês vem rejeitando as reivindicações. A notícia da morte da menina de nove anos se espalhou logo depois da Secretária do Ministério da Saúde, Dra. Diana Atwine [6], ter refutado as alegações da mídia [7] a respeito de um possível surto.

No início de dezembro de 2017, outra criança deu entrada em um hospital no mesmo distrito com sinais da febre hemorrágica da Crimeia-Congo.

Em um relatório lido pelo Ministra da Saúde, Hon. Sarah Opendi [8] confirmou que a segunda criança, um garoto também de nove anos, foi diagnosticado com a doença na unidade hospitalar. Exames subsequentes asseguraram que ele não estava mais infectado com o vírus.

A Ministra da Saúde de Uganda tuitou que o vírus da febre não havia sido encontrado no país e solicitou às pessoas com sintomas de febre e dores de cabeça a procurarem uma unidade de saúde:

Hon. Opendi: Gostaria de informar à população que nós NÃO temos nenhuma suspeita de caso de febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC) na nossa população. Caso haja alguém que esteja apresentando febre?, dor de cabeça ?, vômito, diarreia ou dores no corpo, por favor, dirija-se à unidade de saúde mais próxima.

Em uma entrevista coletiva, a União dos Profissionais em Medicina da Uganda pediu ao governo para explicar com clareza em qual o nível de disseminação a doença se encontrava no país, solicitando ainda que fossem tomadas todas as medidas necessárias a fim de conceder ao caso caráter de emergência.

Algumas pessoas também se manifestaram, fazendo comentários sobre a situação nas redes sociais.

Brantu Dragon tuitou, preocupada, que a negação da epidemia por parte do governo faz a situação ficar ainda mais arriscada para os cidadãos, pois pode levar a uma maior disseminação da febre:

E então, qual é o sentido em o gov. negar o surto de febre da Crimeia-Congo? Fala sério! O que motiva esse povo? Ignore-a e talvez ela vá embora, sendo que o mais provável é ela se espalhar? Não dá pra entender tanta burrice.

O internauta Omara-Ogwang James se mostrou confuso sobre o caso, dando a entender que não sabe em quem confiar:

Associação de Médicos (e mais um monte de gente): Tem febre da Crimeia-Congo no distrito de Nakaseke

GoU (Min. da Saúde): Não! Não tem surto de Crimeia!

Eu: completamente perplexo?

O repórter Walter Mwesigye compartilhou um informativo esquematizado que mostra como a febre se desenvolve. Embora a ministra diga que não há risco da doença existir no país, ela reconhece que as pessoas devem tomar cuidado:

O Ministério da Saúde está lá para dar explicações sobre as várias denúncias de surto da febre hemorrágica da Crimeia-Congo. P.S.: @Atwine_Diana [12] disse, na semana passada, que tem casos confirmados da doença em Nakaseke. #NTVNews [13] @ntvuganda [14]

Portanto, isto é o que você precisa saber?

A Uganda sofreu com outras epidemias no passado, como o ebola, a cólera e o marburgo, o que deu mais razão para as pessoas ficarem receosas com relação a possíveis ameaças de epidemias. No momento, não está claro se o governo está tentando amenizar a cobertura da mídia ou se, de fato, não existe a ameaça de um surto.