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Luta pela recuperação de netos perdidos durante a ditadura continua na Argentina

Categorias: América Latina, Argentina, Boas Notícias, Direitos Humanos, Mídia Cidadã

Foto da mídia Emergentes, compartilhada publicamente pelo Facebook [1] e usada com permissão.

Em 27 de dezembro de 2017, a ONG argentina Avós da Praça de Maio [2] anunciou [3] a recuperação da neta nº 127, filha de Carmen Moyano e Carlos Poblete, militantes da organização Montoneros que foram sequestrados e continuam desaparecidos desde a última ditadura [4] no país.

O jornal digital Cosecha Roja [5] relata brevemente a história dos pais dela como casal e militantes, e as circunstâncias que levaram ao desaparecimento dos dois:

Con la llegada de la dictadura, los militares allanaron su casa y ella [María del Carmen Moyano] se mudó a San Juan, donde conoció a Carlos Poblete, un estudiante de Ingeniería 10 años mayor. “La pareja compartió militancia en la organizción Montoneros. Luego de seis meses decidieron vivir juntos”, contó Estela de Carlotto. Entre abril y mayo de 1977 Carlos y María del Carmen fueron secuestrados en Córdoba y trasladados al centro clandestino de detención La Perla. Ella ya estaba embarazada.

Com o início da ditadura, os militantes tomaram sua casa e ela [María del Carmen Moyano] mudou-se para San Juan, onde conheceu Carlos Poblete, um estudante de Engenharia 10 anos mais velho. ‘O casal abraçou a militância na organização Montoneros. Após seis anos decidiram viver juntos’, contou Estela de Carlotto (presidente da ONG Avós da Praça de Maio). Entre abril e maio de 1977 Carlos e María del Carmen foram sequestrados em Córdoba e transferidos para o centro clandestino de detenção La Perla. Ela já estava grávida.

A chamada “neta 127″ nasceu em cativeiro entre maio e junho de 1977 na maternidade do centro clandestino de detenção da Escola de Mecânica da Armada [6] (ESMA). Hoje, depois de 40 anos, seus dois tios e sete tias comemoram o fim de um capítulo importante na história da família, mas que deixa uma ferida ainda aberta por não conhecerem o destino dos pais da mulher, que continuam desaparecidos.

Milhares de pessoas foram vítimas de desaparecimentos forçados durante a ditadura. O número de desaparecidos não é certo: a Comissão de Desaparecidos publicou uma lista na década de 1980 [7] com aproximadamente 10 mil pessoas, enquanto as Mães da Praça de Maio denunciam 30 mil desaparecidos. [8] Em boa parte dos casos, os filhos das vítimas foram apropriados pelo Estado [9] por meio de adoções ilegais e partos clandestinos.

Coletiva de imprensa das Avós da Praça de Maio pela recuperação da neta #127. Foto compartilhada publicamente no Facebook

A coletiva de imprensa contou com a presença de Adriana, neta 126 [10] recuperada a poucos dias, ao lado de duas tias. A identidade e os dados da família que a criou foram mantidos em sigilo para preservar sua privacidade. Extremamente emocionada, uma das tias disse [11]:

Vamos a decirle que se quede tranquila. Le vamos a dar todo el tiempo del mundo para que procese la situación. La buscamos por 40 años. La amamos intensamente.

Vamos dizer a ela para que fique tranquila e daremos todo o tempo do mundo para que processe a situação. Estivemos buscando por ela por 40 anos. Nós a amamos muito.

A alegria do momento não foi nem mesmo ofuscada pela notícia paralela da recente transferência do repressor Miguel Etchecolaz [12] para o regime de prisão domiciliar. [13] Etchecolaz foi o principal responsável pelo sequestro, tortura e assassinato de um grupo de estudantes secundários, no que ficou conhecida como a Noite dos Lápis [14].

Avós da Praça de Maio confirmam a notícia. ‘Estão presentes na roda de imprensa as tias-avós da ‘neta 127′, que esperavam há 40 anos por este encontro’, afirmaram. A memória foi além da prisão domiciliar de Etchecolaz.

Milhares de manifestações de satisfação surgiram no Twitter e foram compartilhadas com a hashtag #Nieta127 [15], algumas misturadas com indignação e reprovação por conta da justiça parcial frente aos responsáveis:

A Casa pela Identidade das Avós da Praça de Maio, no @espacio_memoria [16], já contabiliza a recuperação da #Nieta127 [17] Seguimos reunindo conquistas e esperança! @abuelasdifusion [18]

#Nieta127 [17] nasceu na ESMA. O genocida Jorge Luis Magnacco, obstreta da ESMA que fez o parto, está solto, beneficiado pelo cumprimento de dois terços de sua pena.

Tarda, mas no fim, a recompensa não falha. Bem-vinda #Nieta127 [17]#memoriaJusticiayVerdad [23]

Contamos do primeiro ao 127º e não vamos parar de contar. Obrigado, Avós, e como disse Estela de Carlotto: ‘Feliz ano e até o próximo neto. #Nieta127 [17] #Feliz2018 [26]