Presidente da Sérvia não deu nome de criminoso de guerra a rua

Imagem de um noticiário sobre o evento de 2007 em apoio a Ratko Mladić, envolvendo o atual presidente sérvio Aleksandar Vučić, 10 anos antes de assumir o governo. Na foto, ele cola um cartaz que diz: “Boulevard Ratko Mladić”.

Fotos de 10 anos atrás foram usadas para manipular as redes sociais a acreditarem que o presidente sérvio Aleksandar Vučić deu o nome do condenado de guerra Ratko Mladić a uma rua.

Depois que o tribunal das Nações Unidas condenou o antigo comandante bósnio-sérvio Ratko Mladić a prisão perpétua por genocídio na Guerra da Bósnia ocorrida nos anos 90, alguns usuários balcânicos nas redes sociais começaram a relembrar o mundo sobre ligações dele com o atual sistema político sérvio, disseminando assim informações equivocadas.

Um desses memes acusa falsamente o presidente em exercício de ter dado recentemente o nome de “Boulevard Ratko Mladić” a uma rua, além de utilizar fotos que mostram Vučić colocando uma placa com o nome. O tuíte seguinte é um exemplo típico:

Ratko Mladic acaba de ser sentenciado a prisão perpétua por genocídio e crimes contra a humanidade.

O presidente da Sérvia ‘europeia’ deu o nome de ‘Mladic’ a uma rua.

As fotos não foram manipuladas por photoshop, mas foram apresentadas fora de contexto, tornando a acusação falsa. A “placa de rua” não é de metal, mas um cartaz colado com fita adesiva. Na verdade, nenhuma rua ganhou o nome do infame Mladić.

Em 26 de maio de 2007, Vučić, secretário geral do ultranacionalista de extrema-direita Partido Radical Sérvio (PRS), participou de um protesto contra a renomeação de uma rua de Belgrado para Zoran Đinđić, primeiro-ministro liberal assassinado em 2003, após iniciar uma cooperação com o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia da Organização das Nações Unidas (TPII). Essa cooperação levou à extradição do antigo presidente Slobodan Milošević, principal apoiador de Ratko Mladić. 

No protesto, nacionalistas sérvios confrontaram liberais que apoiavam o novo nome. Os nacionalistas carregavam faixas e cartazes em apoio a Mladić, que era um fugitivo da Justiça na época.

Como membro do Partido Radical Sérvio, Vučić serviu como ministro da informação do regime de Milošević de 1998 a 2000. Em 2008, após a ala favorável à União Europeia do partido se separar e formar o Partido Progressista Sérvio, ele se juntou ao então novo partido.

Em 2014, depois de Vučić se tornar primeiro-ministro, o site sérvio de checagem de fatos Truth-o-meter apresentou a  filmagem arquivada do evento de 2007 como parte de seus esforços para aumentar o registro público.

No poder, Vučić tem baixado o tom de qualquer retórica nacionalista, tentando construir uma imagem de político pró-europeu, que colabora com os seus vizinhos. Em 2015, ele fez duas visitas à cidade bósnia de Srebrenica, local do massacre genocida perpetrado em 1995 pelas forças bósnias-sérvias comandadas por Mladić. Enquanto prestava homenagem às vítimas e condenava o ato como um “crime terrível”, Vučić também manteve uma orientação oficial, que recusava permitir o uso da palavra genocídio em relação à Srebrenica, apesar dos julgamentos do TPII.

A sua declaração após o veredito do TPII para Mladić não expressou apoio aberto ao criminoso de guerra. Enquanto afirmava que ninguém, a não ser os sérvios, importa-se com as vítimas das guerras da década de 90, declarou que, em vez de mergulhar no passado, “temos que nos focar no futuro e pensar onde as nossas crianças viverão… Não devemos nos sufocar com as lágrimas do passado, mas sim mergulhar no suor dos nossos esforços para criar um futuro comum”.

A filmagem e as fotos do protesto de 2007 agora são usadas por vários críticos para perseguir Vučić pela sua suposta hipocrisia. Essa perseguição vem de pelo menos dois lados. De um lado, os oponentes do nacionalismo sérvio usam o material para apresentar Vučić como um radical “no armário”. Do outro, alguns nacionalistas sérvios mais radicais criticam a sua atitude, considerando-a muito dócil.

 

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