Jornalistas sérvios convocam apoio da população em campanha por liberdade de imprensa

Manifestação pela liberdade de imprensa em Belgrado, Sérvia. Mensagens escritas no estande: #PelaImprensaLivre #ChegaDeMídianoEscuro e #ApoieAsReinvidicações. Foto de Anđela Milivojević, usada com permissão.

Jornalistas e ativistas sérvios se reuniram nas ruas de Belgrado e de quatro outras cidades sérvias no dia 19 de novembro para convocar o apoio da população para as reivindicações enviadas à primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic.

Manifestações foram organizadas em Belgrado, Nis, Novi Sad, Kragujevac e Vranje, onde jornalistas e ativistas distribuíram panfletos aos cidadãos, com a lista de 13 reivindicações relacionadas à liberdade de expressão e à segurança dos jornalistas. A lista foi criada pelo grupo “Pela Liberdade de Imprensa” e inclui colaborações de organizações da mídia e da sociedade civil, associações de jornalistas, ativistas e cidadãos comuns.

“A parte mais importante da ação do grupo ‘Pela Liberdade de Imprensa’ é lembrar aos cidadãos que a imprensa e os jornalistas são necessários porque eles não podem [viver] sem informação,” explicou o presidente da Associação de Jornalistas Independentes da Sérvia, Slavisa Lekic.

Hoje estamos em três locais de Belgrado:
– Terazije
– Trg Republike (Praça da República)
– Knez Mihailova (Ruski car)
Venha, dê seu apoio assinando a petição, divulgue #PelaLiberdadedeImprensa

A lista com 13 reivindicações expõe medidas urgentes e necessárias para garantir o tratamento igual a todos os jornalistas e impedir o colapso da imprensa livre na Sérvia. Jornalistas independentes são frequentemente ignorados e impedidos de fazer ‘perguntas complexas’ a oficiais do governo ou proibidos de acessar informações de interesse público. Eles são frequentemente tachados de espiões, traidores ou mercenários estrangeiros.

O Pela Liberdade de Imprensa também pediu que as autoridades resolvessem todos os casos de assassinatos de jornalistas, e que investiguem ataques recentes. A lista inclui reivindicações sobre a independência de emissoras públicas, que são vistas como veículos de apoio ao governo, e pelo fim de pressões contra os jornalistas, incluindo aquelas exercidas pelo judiciário.

Image: #ApoieAsExigências
Tweet: Amanhã [estaremos] em novas manifestações do #PelaLiberdadedeImprensa em Kragujevac, Nish, Vranje, Belgrade e Novi Sad. Participe das 12 às 15 hrs #ChegaDeMídiaNoEscuro

Antes de recolher as assinaturas de cidadãos comuns, os jornalistas apresentaram a lista à primeira-ministra Brnabic. Ela prometeu responder às exigências em dez dias, sem dar detalhes sobre que tipo de resposta poderia ser esperada.

Como o surgiu o grupo ‘Pela Liberdade de Imprensa'?

O “Pela Liberdade de Imprensa” surgiu como um grupo informal em setembro de 2017, após uma série de incidentes contra a imprensa livre e independente, incluindo o fechamento do importante semanário Novine Vranjske [Jornal de Vranje], que era publicado há mais de 20 anos na cidade de Vranje, no sul da Sérvia.

O fundador do Vranjske e ex-diretor da associação de jornalistas sérvios, Vukasin Obradovic, fez greve de fome em 19 de setembro em protesto ao fechamento do jornal, que havia sido sofrido pressões políticas e financeiras, e também contra o “declínio da liberdade de imprensa na Sérvia.”

Cerca de cem jornalistas, editores e ativistas se reuniram na mesma noite em um protesto conhecido como ‘Eu estou com o Vranjske’, demonstrando apoio a Obradovic, após o qual ele encerrou a greve, juntou-se ao grupo ‘Pela Liberdade de Imprensa’ e passou a publicar o Vranjske online.

Porém, recentemente Obradovic anunciou não ter recursos para manter jornalistas e colaboradores, e foi obrigado a desativar o portal vranjske.co.rs.

Devido a incapacidade de garantir condições mínimas de trabalho, pagar regularmente os salários para os funcionários fixos e os honorários para os freelancers eu, como dono, tomei a decisão de encerrar as atividades do portal vranjske.co.rs.

Encenando protestos criativos

Em 28 de setembro, o Pela Liberdade de Imprensa também realizou um blecaute digital em defesa da liberdade de expressão, utilizando a tela preta em seu website para simbolizar um mundo sem imprensa livre.

Jornalistas da #Sérvia & outros da região (em solidariedade) encenaram protesto simbólico e pediram a @JHannEU para se pronunciar mais sobre  falta de imprensa livre na Sérvia. #EUWBmedia pic.twitter.com/2MReocVeZZ 

— Agon Maliqi (@AgonMaliqi) 9 de novembro, 2017

 

O grupo também organizou um protesto em 9 de novembro, durante a última Jornada da Imprensa da União Europeia e dos Balcãs Ocidentais, realizada em Tirana, Albânia, usando camisetas pretas com a hashtag #EUdoMore, que pede o apoio da UE ao jornalismo profissional na Sérvia e atenção para situação degradante da imprensa no país.

O jornalista Tamara Skrozza, membro do Pela Imprensa Livre, afirmou durante o painel em Tirana que a UE deveria fazer mais para que “[eles] possam voltar a acreditar em suas mensagens de que a liberdade de imprensa é prioridade no processo de integração da UE”. O painel também contou com a participação do Encarregado de Expansão da UE, Johannes Hahn, membro da Comissão Europeia responsável pela supervisão do processo de adesão e negociação de membros futuros da UE, como a Sérvia.

Liberdade da imprensa na Sérvia continua a decair

A Sérvia atingiu “certo nível de organização com relação à liberdade de expressão”, de acordo com o mais recente relatório da UE sobre o país de novembro de 2016, mas não fez progresso algum no anterior.

No Ranking Mundial da Liberdade da Imprensa do Repórteres Sem Fronteiras para 2016, publicado em abril de 2017, a Sérvia ficou em 66º lugar, sete posições a menos do que em 2015. O relatório entrou em detalhes: “A liberdade de imprensa decaiu desde que Aleksandar Vucic, ex-ministro da Informação de Slobodan Milosevic, tornou-se primeiro-ministro, em maio de 2014″.

Vucic, que agora é presidente e ainda é a pessoa mais poderosa no país, não é oficialmente contra a imprensa livre, mas de fato restringiu liberdades da imprensa ao escolher diversos veículos para servir como porta-voz do governo e encenar campanhas contra a oposição, jornalistas independentes e inimigos do Estado, para que ele pareca favorável à reforma da UE.

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