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Por que noivas tajiques temem as suas sogras antes mesmo do casamento

Categorias: Ásia Central e Cáucaso, Tadjiquistão, Direitos Humanos, Governança, Juventude, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero
Representação teatral voltada ao ativismo contra a violência de gêneros no Tajiquistão. Foto de OSCE/Nozim Kalandarov (CC BY-ND 4.0)

Representação teatral voltada ao ativismo contra a violência de gêneros no Tajiquistão. Foto de OSCE/Nozim Kalandarov (CC BY-ND 4.0)

Um relatório [1] recente do serviço de língua tajique da Radio Free Europe (RFE/RL) fez um breve resumo de alguns dos muitos abusos que jovens mulheres do Tajiquistão, país da Ásia Central, sofrem regularmente no convívio com a família de seus maridos. No entanto, os comentários abaixo do artigo demonstram que, apesar do aumento das denúncias, o problema não é levado muito a sério.

Existe uma lei não escrita na sociedade tajique que estabelece: “o que se passa dentro de casa, fica dentro de casa”. Isso se aplica de modo amplo, e inclui os casos mais flagrantes de violência doméstica. O abuso a que as jovens algumas vezes sofrem pela família com a qual vivem após o casamento, e as consequências disso, chegaram ao noticiário internacional [2] nos últimos anos. Em um número de casos, os abusos tiveram desfechos trágicos [3].

Com a pressão das organizações internacionais e dos direitos humanos locais, uma lei para impedir a violência doméstica [4] foi adotada pelo parlamento tajique em dezembro de 2012.

Parece que isso fez toda a diferença. Cerca de 300 noivas se queixaram de abuso por parte de suas sogras nos primeiros nove meses de 2017, apenas na região sudeste de Khatlon. Essas mulheres, contudo, só representam, provavelmente, a ponta do iceberg.

Este artigo explica por que a violência doméstica é tão generalizada no Tajiquistão, abordando as dificuldades econômicas e financeiras enfrentadas por muitas famílias, que forçam os homens a irem para a Rússia ganhar dinheiro. Na ausência dos maridos, as mulheres são forçadas a viverem sozinhas com suas sogras, o que, com frequência, gera conflitos.

Mas muitos comentários sobre o artigo foram de crítica, e não de apoio às mulheres que se apresentaram para denunciar os abusos de suas sogras.

Um dos comentaristas que usa o nome Afsus disse:

ин духтарои хозира телефон баромаду вайрон шуданд боварим хай ки аз ин шикояткунандагон 95% аз пушти телефон чунки хозира духтархо як соат кори хона кунанд 2 соат тарики интернет ба кихо гап мезанад худо медунад.

Todas essas garotas modernas são corrompidas pelo uso de celulares. E tenho certeza de que elas também reclamaram usando celulares. Elas fazem tarefas domésticas por só uma hora e depois passam duas horas falando no telefone.

Outro comentarista on-line brincou:

Тамоми чомеа хамин хел аст. Масалан декани мо яз ягон хушдоман мондани надорад.

Todos os membros da nossa sociedade agem assim. Por exemplo, a diretora da nossa faculdade não é melhor do que nenhuma outra sogra.

Já o comentarista Shohin propôs cursos de treinamento especiais para ensinar as mulheres a se comportarem no casamento.

Кумитаи занон аз корхои бехуда дида, лоихахои махсус барои Ба шавхар баромадани духтархо тахия намояд. Чунки маблагхо бе маьни сарф нашаванд. Модарони бехунар бошад акалан Ба духтаронашон одоби муоширатро ёд диханд.

O comitê de assuntos das mulheres (que processa as queixas das mulheres, entre outras funções) gasta dinheiro em vão. Deveria organizar cursos especiais para preparar as mulheres para o casamento… Suas mães deveriam ensiná-las como se comportar adequadamente.

O estado do Tajiquistão precisa se esforçar para mostrar que a violência doméstica é uma prioridade do governo e as leis de proteção às vítimas funcionam tanto na prática quanto no papel.