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Setenta e dois anos depois, Japão relembra final de uma guerra devastadora

Categorias: Leste da Ásia, Guerra & Conflito, História, Mídia Cidadã

Em 15 de agosto, o final da Segunda Guerra Mundial completa 75 anos. Por essa ocasião, o Japão relembrou os 2,3 milhões de soldados japoneses, trabalhadores militares e 800.000 civis japoneses que morreram desde o início da segunda guerra sino-japonesa em 1937 [3] e o final da Segunda Guerra Mundial em 1945.

A celebração anual japonesa do final da guerra mostra que, sete décadas depois, não existe um consenso político claro no Japão sobre como relembrar a guerra. Alguns relembram os 3,1 milhões de baixas, mas parecem evitar o contexto da guerra em que elas ocorrreram, já outros estão comprometidos em preservar a memória do quão destrutiva pode ser a guerra, e a necessidade de o Japão continuar dentro do pacifismo.

Mais de 6.200 pessoas assistiram ao evento comemorativo no estádio Nippon Budokan [4] em Tóquio, que incluiu discursos do primeiro-ministro Shinzo Abe e do imperador Akihito. Em seu discurso, Abe [5] não expressou nenhuma culpa do Japão pelo início da guerra, já o imperador expressou sentimentos de “profundo arrependimento”, pelo terceiro ano consecutivo [6].

Nenhum deles se referiu diretamente aos mortos de guerra de outros países.

Comentários completos do imperador na cerimônia comemorativa pelos mortos de guerra. http://www.kunaicho.go.jp/page/okotoba/detailEn/14#92 [1]

Por outro lado, milhares viajaram ao santuário Yasukuni [12] e ao vizinho cemitério nacional de Chidorigafuchi [13] em Tóquio para prestar homenagens aos mortos de guerra. O santuário Yasukuni é polêmico para muitas pessoas no leste da Ásia pois faz tributo, entre outros, a criminosos de guerra japoneses condenados [14]. O local também conserva espadas forjadas em Yasukuni [15], que foram utilizadas nos campos de batalha de toda a Ásia entre 1933 e 1945.

Kota Hatachi, repórter do BuzzFeed, informou a partir do local:

É o 72º aniversário do final da guerra. Viajei a trabalho ao santuário Yasukuni e ao cemitério nacional de Chidorigafuchi. Enquanto caía uma chuva fina, uma longa fila de visitantes se estendia pelas úmidas instalações do santuário.

Enquanto isso, manifestantes e outros grupos reuniram-se do lado de fora do Yasukuni. Segundo o jornal Sankei Shimbun [18], os grupos manifestavam-se contra as tentativas de revisão da “Constituição de paz” do Japão e também para promover a conscientização sobre vários assuntos, como a independência taiwanesa.

Devido ao número de visitantes em Yasukuni e à grande quantidade de manifestantes e outros grupos nos arredores, a polícia de Tóquio ergueu barricadas para controlar a multidão.

Comemoração do final da guerra: muitos grupos reuniram-se ao redor do santuário Yasukuni. A polícía metropolitana de Tóquio emitiu advertências [para manter a ordem].

O Sankei Shimbun também informou que apareceram contramanifestantes de direita e conservadores em resposta aos manifestantes de Yasukuni, o que levou a polícia a separar os grupos.

Em outras áreas de Tóquio, grupos recordaram a data manifestando seu apoio ao artigo 9 da Constituição do Japão [22], pelo qual o Japão renuncia à guerra [23] e que o governo de Abe busca revisar [24] ou até anular.

15 de agosto, dia do final da guerra.

Às 17h00 nos reuniremos na estação Zōshiki para reafirmar nosso compromisso [de apoiar o artigo 9].

Um assunto importante do dia foi que as lembranças sobre as dificuldades da guerra parecem estar desaparecendo à medida que a geração do tempo da guerra envelhece:

A idade média de cônjuges de soldados mortos na guerra aumentou para 94 [anos]. Passar as memórias [da guerra] de geração a geração se torna mais difícil.

Alguém que tinha 8 anos quando a guerra acabou tem agora 80. Um jovem que estava apto ao recrutamento na época tem agora 92 anos. Restam poucas pessoas que conhecem a experiência de passar por uma guerra. Os políticos, homens de negócios e estudantes de agora não sabem nada sobre uma guerra. Devemos preservar o desejo de estudar as experiências e obter o conhecimento de quem viveu a história da guerra.

Artigo: ‘Padrão da derrota do Japão'— segundo o historiador Isoda Michifumi, é importante que os japoneses ‘pensem profundamente’.

Contudo, o significado do dia não passou despercebido para este usuário japonês do Twitter.

Para continuar vivendo em paz.