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Comercial de máquina de lavar que faz piada com violência doméstica gera indignação no Paquistão

Categorias: Sul da Ásia, Paquistão, Arte e Cultura, Ativismo Digital, Mídia Cidadã

Imagem do comercial, que relativiza violência doméstica

O vazamento de um comercial paquistanês nas redes sociais gerou indignação devido ao seu conteúdo machista de tratar de forma trivial o tema da violência doméstica. Após a polêmica, a empresa de eletrodomésticos desculpou-se publicamente [1] pelo conteúdo do comercial.

Peça publicitária de uma máquina de lavar da marca Kenwood, a propaganda mostra um grupo de amigos do sexo masculino dando risadas com o relato do personagem principal da história sobre uma briga que teve com a esposa. O homem se gaba de não tolerar a “atitude” da mulher e de recorrer ao “dhulayi,” que literalmente significa “lavar”, mas que também serve como gíria para “bater”.

O comercial não foi divulgado oficialmente, mas um grupo no Facebook chamado “Whatsapp Videos” [2] postou o vídeo e não demorou muito para as críticas começarem a pipocar. O usuário do Facebook Wafa Zafar chamou a peça publicitária de:

Disgusting ad….giving concept that a man should be proud among his friends on beating his wife

Comercial repugnante… dá a entender que o homem deve ter orgulho de contar aos amigos que bate na esposa.

Outro comentário pelo usuário Kookie Malik detalhou uma queixa formal que foi feita à matriz da companhia nos Estados Unidos:

I have made an effort to speak to Kenwood USA and Kenwood Japan and have asked a simple question: Why is it OK to use such crass and potentially violence inciting crap to make money and promote your company or your brand?? Our women and ALL women for that matter are scared and any of you that find this funny should consider a man beating your mother, sister or daughter …and you laughing and thinking it is OK. Shame on Kenwood and its Executives that allowed this to take place – Their Disclaimer is also another eyewash and stinks of the same corporate nonsense that Delta Airlines demonstrated recently. This is not over yet.

Fiz um esforço para tentar contato com a Kenwood dos Estados Unidos e do Japão, e fazer uma pergunta simples: Tudo bem usar de tamanha vulgaridade e incitar a violência para ganhar dinheiro e promover a empresa ou a marca? Por causa disso, nossas mulheres e TODAS as mulheres estão amedrontadas. Vocês que acharam graça deviam imaginar sua mãe, irmã ou filha apanhando de um homem…e vocês rindo e achando que não é nada demais. A Kenwood e seus executivos deveriam envergonhar-se por ter permitido que esse comercial fosse produzido – Eximir-se dessa responsabilidade é uma palhaçada e uma atitude vergonhosa, assim como a Delta Airlines demonstrou recentemente. Essa história ainda não acabou.

Hurmat Riaz, que trabalha na Mangobaaz, página de entretenimento paquistanesa voltada para a geração Y, escreveu [3] que o comercial é o mais recente de uma série produzida pela empresa, que mostra o marido sendo intimidado pela esposa:

Domestic violence, whether the wife is the victim, or the husband, is not a matter to be joked about. It is a serious problem, one that many people in Pakistan, and beyond, are victims. Not only is making a joke about such a thing insensitive to them, it perpetuates the idea that it’s apparently okay to not only make jokes about hitting your spouse but also doing it in practice.

Violência doméstica, seja a vítima uma mulher ou um homem, não é um assunto para ser tratado como piada. É um problema sério, que afeta muitas pessoas no Paquistão, e além de suas fronteiras. Fazer piada com isso não é apenas uma insensibilidade, como também perpetua a ideia de que aparentemente não tem importância fazer piadas sobre bater no cônjuge e praticar essa violência.

De acordo com a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, foram registrados [4] 1.843 casos de violência doméstica entre 2004 e 2016. Os dados não incluem outros tipos de violência como crimes de honra, sequestros, estupros e ataques com ácido. Os números representam os casos denunciados, que tendem a ser subnotificados.

No pedido de desculpas [1], a marca admitiu que “fez um julgamento equivocado” da situação e solicitou que todas as páginas nas redes sociais retirassem o comercial do ar, já que a peça não foi endossada nem divulgada oficialmente pela Kenwood. No fim das contas, a revolta que o vídeo causou torna claro que as corporações terão que ser cautelosas e pensar duas vezes antes de utilizar misoginia para vender seus produtos.