O pioneiro do ativismo e dos direitos civis dos povos nativos dos Estados Unidos faleceu no domingo, dia 18 de junho de 2017, em Walnut Creek, no estado da Califórnia, encerrando uma vida de indignação e de luta pela reivindicação de uma história perdida.
Lehman Brightman, um nativo americano descendente dos povos Sioux e Creek, nasceu em 1930 na Reserva Cheyenne River Sioux. Brightman foi um líder e organizador militante em prol dos direitos dos povos nativos americanos ao longo das décadas de 1960 e 1970, e mais tarde lecionou Sociologia e História na região da Baía de São Francisco, na Califórnia.
Sua morte, assim como sua vida e legado, receberam pouca atenção dos principais meios de comunicação — o que, de muitas maneiras, reflete a realidade da luta dos povos nativos americanos por reconhecimento e justiça nos Estados Unidos. Mas, embora essas questões sejam continuamente relegadas a uma nota de rodapé ou à última página, tanto a vida de Brightman quanto a história do movimento pelos direitos civis dos nativos americanos valem como um testemunho da vitalidade e da potência dessa busca fervorosa por justiça.
Brightman frequentemente utilizava a expressão “Poder Indígena” e acreditava que o tom militante era legítimo, em função do longo histórico de genocídio e de abusos sofridos pelos povos nativos nas mãos do governo dos Estados Unidos. O discurso inflamado de Brightman e seu posicionamento implacável eram refletidos em sua retórica e em suas ações, o que trouxe um sentido de forte liderança e dignidade aos nativos americanos, semelhante àquele provocado por Malcom X.
Ao discursar para uma multidão em 1969, Brightman declarou: “Nós nos chamamos nativos americanos porque algum branco idiota nos deu o nome ‘índio’ pensando ter chegado à Índia”. O politicamente correto nunca foi um objetivo para Brightman, mas a ação era.
No verão de 1968, Brightman formou a United Native Americans (UNA – organização em prol dos direitos dos nativos americanos) na área da Baía de São Francisco. Brightman disse que formou a UNA “apenas para criar um maldito inferno. E eu criei um inferno a partir de muitos outros”.
No dia 20 de novembro de 1969, Brightman se envolveu na tomada da Ilha de Alcatraz, iniciando uma ocupação simbólica por 19 meses para reivindicar os direitos territoriais dos povos nativos americanos e organizar uma frente comum para um novo movimento. A ocupação nasceu de um sentimento crescente de urgência entre os povos nativos de que uma ação radical era a resposta para anos de negligência e repressão por parte do governo federal. Mais cedo do que o previsto, em agosto de 1970, Brightman liderou um grupo de ativistas na ocupação do Monte Rushmore.
Este vídeo de 1970 mostra o posicionamento militante de Brightman e dos grupos com os quais ele estava envolvido. As cenas de suas ações refletem a vitalidade e a esperança da época, e contrastam fortemente com a narrativa absurda apresentada pela cobertura da mídia.
Em 1976, a casa de Brightman foi invadida pelo FBI após ele abrigar o ativista Dennis Banks do American Indian Movement (grupo defensor dos direitos dos povos indígenas dos EUA), e que era um fugitivo na época. O caso recebeu atenção nacional e Brightman não demonstrou nenhum arrependimento por suas atitudes, muitas vezes recontando a história para seus alunos quando era professor.
Manchete do jornal San Francisco Examiner com Brightman em 1976.
Eu fui um daqueles sortudos que frequentou as aulas de Brightman, que costumava colorir a discussão sobre a história dos EUA com sua própria experiência de servir na Guerra da Coreia e de organizar movimentos durante a década de 1960. Além disso, falava abertamente sobre o comportamento das autoridades federais.
Os acontecimentos recentes em Standing Rock serviram para nos recordar que a injustiça contra os povos nativos americanos continua constante nos Estados Unidos. A recusa de Lehman Brightman em aceitar a condescendência, assim como as demandas de sua geração por dignidade por meio de ação direta e por mudança mediante confrontos, trazem lições para o presente e para o futuro, especialmente para os grupos étnicos e para a população do Terceiro Mundo.
Esse breve relato não consegue fazer a devida justiça a Brightman ou ao seu imenso legado. Eu realmente espero, contudo, que encoraje aqueles que não chegaram a conhece-lo a se inspirarem com o seu trabalho, e com a extraordinária história do ativismo e da resistência dos povos nativos dos Estados Unidos.