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Uma mulher está por trás do mais atualizado mapa interativo de feminicídio no México

Categorias: América Latina, México, Ativismo Digital, Direitos Humanos, Ideias, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero

O mapa interativo de feminicídio no México [2], o mais abrangente e atualizado desse tipo no país, é — de acordo com sua página de angariação de fundos — “uma iniciativa cidadã, cívica e independente baseada em dados abertos que, usando coordenadas geográficas, tem mapeado casos de feminicídio desde 2016 “. Até agora, o mapa registrou 2355 casos.

A criadora do mapa usa a definição prática [3] do protocolo modelo das Nações Unidas para a investigação de homicídios de mulheres relacionada a gênero, que define “feminicídio” como:

the murder of women because they are women, whether it is committed within the family, a domestic partnership, or any other interpersonal relationship, or by anyone in the community, or whether it is perpetrated or tolerated by the state or its agents.

o assassinato de mulheres porque são mulheres, seja ele cometido dentro da família, por um companheiro, por alguém da comunidade ou em qualquer outra relação interpessoal, ou se é perpetrado ou tolerado pelo Estado ou seus agentes.

Suas fontes são relatórios de jornais e declarações oficiais sobre feminicídio, e sua motivação é simples e clara: nomear cada uma das mulheres para que não sejam esquecidas.

Ela usa o pseudônimo “Princesa” para esconder sua verdadeira identidade e para garantir sua segurança. Princesa diz que tomou conhecimento dos assuntos comunitários através de sua mãe, hoje com 80 anos. A mãe de Princesa, originalmente do estado de Zacatecas, mas que se mudou para a Cidade do México, é uma mulher trabalhadora, neta de revolucionários, com fortes crenças religiosas e que luta pelos direitos dos justos e dos trabalhadores.

Princesa estudou Física na Universidade Nacional Autônoma do México e desenvolveu uma paixão por sismologia e tsunamis. Ela acabou trabalhando no comércio, mas também envolveu-se com mapas quando colaborou com o projeto de paz interseccional Nuestra Aparente Rendición [4] (“Nossa Rendição Aparente”) e com grupos de base online que rastreiam casos de sequestros. Sua dedicação e conhecimento técnico cresceram gradualmente, assim como sua habilidade para lidar com grandes dados e usar ferramentas para a sistematização de coordenadas geográficas.

Na página do Facebook sobre o mapa de Feminicídio no México, ela recebe mensagens da imprensa, políticos, legisladores e pessoas comuns interessadas no seu projeto de documentação, mas para ela, as mensagens mais importantes são aquelas vindas das famílias das vítimas [5]. Ver os nomes de suas filhas e os locais onde perderam suas vidas no mapa é o caminho de reconhecimento de que elas têm um nome, uma história e que suas vidas têm valor, diz Princesa, quando lembra de algumas daquelas mensagens.

E ela acrescenta:

Este mapa sirve para visibilizar los sitios dónde nos están matando, encontrar patrones, reforzar los argumentos sobre el problema, georeferenciar la ayuda, fomentar la prevención e intentar evitar los feminicidios.

Este mapa permite destacar os lugares onde nós estamos sendo mortas, identificar padrões, armazenar argumentos sobre o problema, georreferenciar fontes de ajuda, encorajar a prevenção e tentar prevenir os feminicídios.  

O projeto de Princesa é desenvolvido pro bono, portanto, ela precisa constantemente de apoio. Por esta razão, ela abriu uma página de angariação de fundos, no site da Generosity [6], onde explica um pouco mais sobre sua motivação:

[…] reúne información fundamental para que personas periodistas, investigadoras, activistas, defensoras de derechos humanos, buscadoras de justicia y tomadoras de decisiones comprendan la realidad del feminicidio en México. Es una realidad cruda, granular y en constante aumento.

[O objetivo é ] reunir informações essenciais para que jornalistas, pesquisadores, ativistas, defensores de direitos humanos, aqueles que procuram por justiça e aqueles que tomam decisões entendam a realidade do feminicídio no México. É uma realidade difícil do dia a dia que está aumentando constantemente.

As “Chicas Poderosas” (“Meninas Poderosas”), comunidade que apoia o apelo de Princesa:

Uma imagem diz mais que mil palavras e ainda há mil histórias para contar. Apoie o Mapa de Feminicídios  [7]

Princesa diz que está feliz por fazer algo pelas pessoas. Sua mãe e irmã pensam do mesmo modo; seu pai sempre pede para que ela tenha cuidado, mas que não desista de fazer o que faz, pois vale muito a pena.

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