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As fotos de notícias falsas que justificam o retorno da lei marcial para as Filipinas

Categorias: Leste da Ásia, Filipinas, Fotografia, Guerra & Conflito, História, Mídia Cidadã, Política
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Esta foto de um soldado norte-americano na vila vietnamita em 1966 foi usada recentemente pelo site de notícias do governo filipino para informar sobre a lei marcial em Mindanao. Foto do Wikipedia. Domínio Público.

O sul da ilha filipina de Mindanao — a segunda maior ilha das Filipinas — foi colocada sob lei marcial [2] em 23 de maio de 2017, depois que um grupo local suspeito de ter ligações com o Estado Islâmico, atacou várias partes da cidade de Marawi. Enquanto muitos apoiaram a decisão do governo de perseguir os militantes que atacaram a cidade, também houve críticas daqueles que acham que declarar lei marcial na ilha inteira é desnecessário.

As preocupações com relação a lei marcial estão relacionadas a árdua experiência do país durante a ditadura de Marcos nos anos 70, quando a lei marcial levou à violação exacerbada dos direitos humanos e à restrição das liberdades civis do povo.

Talvez, a fim de reunir o apoio público a favor da lei marcial, alguns oficiais e apoiadores do governo começaram a compartilhar fotos de outros países, tentando divulga-las como representações da situação em Mindanao. Os usuários da internet têm estado ocupados denunciado as imagens.

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Imagem de um artigo postado no site de notícias do governo filipino. A foto desse artigo foi retirada de uma anotação da Wikipedia que discutia sobre a Guerra do Vietnã. Fonte: página do Facebook de Tonyo Cruz

A Guerra do Vietnã

A imagem acima mostra o site da Agência de Notícias Filipinas (PNA), um serviço de notícias do governo, o qual publicou um artigo [4] explicando as dificuldades encontradas pelo exército na condução da guerra urbana em Marawi. Entretanto, a foto da notícia veio de um artigo [5] da Wikipedia sobre a Guerra do Vietnã, que o PNA convenientemente esqueceu de mencionar.

Após receber muitas críticas pela publicação da foto, o PNA reconheceu [6] seu erro e garantiu ao público que não pretendia divulgar informação errada:

While there have been lapses in our judgment, it has never been the policy of PNA to tolerate erroneous report, and it has certainly never been our intention to sow misinformation, much less share what is termed nowadays as “fake news.”

We regret that these mistakes have cast doubt on our integrity as a news agency.

Apesar de haver falhas em nosso julgamento, nunca foi a política do PNA tolerar relatórios errôneos, e certamente nunca será nossa intenção espalhar informações incorretas, e muito menos compartilhar o que é conhecido hoje como “notícias falsas.”

Nós lamentamos que esses erros colocaram em dúvida a nossa integridade como uma agência de notícias.

Polícia em Honduras

Em 28 de maio de 2017, a secretária adjunta do Escritório de Operações de Comunicações Presidenciais, Mocha Uson, compartilhou uma foto na sua página oficial do Facebook sobre um grupo de soldados rezando. Talvez o seu objetivo fosse prestar uma homenagem aos soldados que estão lutando contra os terroristas, mas os soldados da foto que ela compartilhou são, na verdade, membros da força policial hondurenha.

.@MochaUson [7] Diga aos seus seguidores E a si mesma que nós já temos bastante fotos de nossos soldados rezando. Não precisamos usar os policiais de Honduras. VERGONHA! pic.twitter.com/b83CJtm7Z8 [8] — ALT Team APF (@AltTeamAFP) 29 de maio, 2017.

Após ser criticada por postar a foto, a Sra. Uson alegou [10] que foi meramente um simbolismo e que ela não nomeou a polícia de Honduras como soldados filipinos. Ela acusou seus críticos de “falta de bom senso”.

Golpe na Tailândia

Enquanto isso, defensores do presidente compartilharam ativamente um álbum [11] no Facebook contendo fotos de cidadãos sorridentes tirando selfies com os soldados e com os tanques para provar que a lei marcial é aceita pelos moradores de Mindanao. Mas as fotos são da Tailândia, quando o exército tomou o poder em 2014.

O Global Voices publicou várias histórias [12] sobre como “o golpe das selfies” revelou ao mundo que uma junta assumiu a Tailândia e que alguns cidadãos estavam usando selfies como forma de protesto contra a ditadura militar. Mas nas Filipinas, essas fotos foram usadas pelos defensores ávidos do presidente para justificar a lei marcial em Mindanao.

Até o presente momento, o álbum contendo as selifes do golpe na Tailândia tem mais de 33 mil compartilhamentos..

O usuário do Facebook Diwata Luna disse que esta atribuição errada equivale a uma injustiça [13] contra os reais autores dessas imagens:

Why is it a big deal if PNA and Mocha Uson used photos of soldiers from other countries? Because it is an injustice to our OWN soldiers who are fighting. And it is an injustice to journalists who risk their lives to take photos in the middle of a war.

Por que é um problema se o PNA e a Mocha Uson usaram fotos de soldados de outros países? Porque é uma injustiça com os nossos PRÓPRIOS soldados que estão lutando. E é uma injustiça com os jornalistas que arriscam suas vidas para tirar fotos no meio de uma guerra.

Porém, nem tudo tem sido acusações e acrimônia. O uso indevido de fotos famosas não encorajou nem um pouco o humor de um jornalista que aceitou a “falta de julgamento” do PNA.  Contexto para o texto abaixo: Maute é o grupo que tem ligações suspeitas com o Estado Islâmico, e a imagem é sobre o conflito entre colonos espanhóis e nativos em 1521.

Conflito entre soldados do AFP [Forças Armadas das Filipinas] e elementos estrangeiros do Grupo Maute-Estado Islâmico