Este artigo é baseado no trabalho escrito por Rachel Hubbard para a 350.org, uma organização engajada na construção de um movimento global de questões climáticas, sendo republicado aqui graças à parceria com a Global Voices.
Comunidades de Salento, região localizada no “Salto da Bota” na Itália, conquistaram recentemente uma pequena mas importante vitória em sua campanha contra o Gasoduto Transadriático (do inglês, Trans Adriatic Pipeline, ou TAP) que transportaria gás do Azerbaijão à Itália.
Dentre os planos da construção, estava a remoção de oliveiras centenárias para dar lugar ao gasoduto. Contudo, após protestos intensos, as obras foram interrompidas no começo de abril.
O TAP e o Corredor Meridional de Gás são os maiores projetos da União Europeia relacionados a combustíveis fósseis, tendo o objetivo de levar bilhões de metros cúbicos de gás à Europa, o que torna o empreendimento algo incompatível com os compromissos climáticos do continente. Segundo um relatório da Oil Change International, a utilização dos combustíveis fósseis disponíveis já produz mais emissão de carbono do que o limite aceito pela Europa e pelos governos do mundo todo no Acordo de Paris de 2015 de mudança climática. Isso significa que não há mais espaço para qualquer novo projeto de combustível fóssil, ou para uma infraestrutura desta magnitude visando a expansão massiva do mercado de gás na Europa.
O gasoduto chegaria pela bela cidade costeira de San Foca. Algumas pessoas temem que a construção do gasoduto e de um terminal de importação causariam um dano significativo à região e à sua faixa costeira.
Mesmo com a previsão de impactos climáticos que o projeto pode causar e com a oposição de moradores e de políticos da região, o governo italiano quer levar as obras adiante.
No dia 20 de março, a companhia responsável pelo gasoduto iniciou a retirada de várias oliveiras centenárias da cidade rural de Melendugno – sem a devida permissão para iniciar as obras, sendo criticada por autoridades da região e pelo presidente da região da Apulia. Essas árvores são essenciais para o sustento de muitas pessoais e também um orgulho para os moradores. Muitas delas têm centenas de anos ou mais.
Um mutirão foi organizado na região, e, todos os dias, centenas de pessoas se reúnem de forma pacífica no local para se opor à construção. O prefeito local conseguiu apoio político na região para pleitear a paralisação das obras da companhia por três dias até que essa autorização seja investigada.
Após a paralisação de três dias, o problema da autorização continua sem solução, mas as obras não foram interrompidas. O governo italiano enviou a polícia para assegurar os interesses da companhia responsável pelo gasoduto. A multidão foi contida com escudos e cassetetes para que a remoção das árvores continuasse. Alguns manifestantes foram feridos durante a ação da polícia.
Nos últimos dias, muitas árvores foram arrancadas do solo da região, deixando vários moradores desolados com o que viram.
Contudo, os moradores continuam firmes. Audiências públicas são realizadas regularmente e contam com até 1.000 pessoas. Essa campanha foi manchete nos jornais italianos, e atos e mensagens solidárias vieram de grupos de Milão, de Bolonha e da capital Roma.
Os protestos passaram a ganhar cobertura nacional e internacional. As reuniões diárias no local ganharam mais e mais adeptos, e, uma noite, as pessoas construíram barricadas de pedra para impedir que os veículos da companhia tenham acesso à construção.
No começo de abril, a remoção das árvores foi suspensa graças às barricadas e ao grande número de manifestantes. Há somente um pequeno espaço para a retirada das árvores restantes. Dentro de algumas semanas, começa a estação de cultivo, e as árvores devem ser preservadas para o verão.
As reuniões diárias e as audiências públicas não cessaram. Ninguém sabe o que está por vir, mas o comitê local contra a construção do gasoduto está decidido a pôr fim à construção. Eles afirmam que o projeto é desnecessário, especialmente porque a demanda por gás está caindo na Europa, e que a construção não é democrática, e sim uma imposição feita pelo governo contra a vontade dos moradores da região. Eles também dizem que a construção pode causar problemas econômicos profundos e danos ambientais irreparáveis à região.
A mensagem da população é “né qui né altrove” – “Sem gasoduto. Nem aqui, nem em lugar nenhum.”.
A campanha pode ser seguida pelo Twitter pela hashtag #NoTAP. O comitê local organizador da campanha está no Twitter @no_tap e no Facebook @MovimentoNoTAP. Para saber mais sobre o TAP, também conhecido como Euro-Caspian Mega Pipeline, assista ao webdocumentário Walking the Line realizado pelos grupos de campanha Counter Balance, Platform London e Re:Common.