Premiado cartunista político de Hong Kong recusa autocensura

Peça premiada de Arto (imagem completa no texto). Via inmediahk.net

Arto é um cartunista de Hong Kong que ganhou o prêmio Melhor Cartoon Politico no E-Citizen Awards de 2016, organizado pelos grupos cívicos Hong Kong In-Media (inmediahk.net) e a Fundação Educacional de Cultura e Mídia, para promover reportagens originais, cartoons políticos, vídeo documentários e fotografias online.

Abaixo, uma entrevista com Arto, conduzida por Betty Lau, que foi originalmente publicada em duas partes, em chinês, no inmediahk.net em 17 de dezembro de 2016 e em 23 de janeiro de 2017. A tradução em inglês está publicada no Global Voices como parte de uma parceria com o inmediahk.net.

Arto começou a participar de protestos em 2010, quando o Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou o orçamento para a construção da ferrovia de alta velocidade, conectando Shenzhen a Hong Kong. Ele disse:

看到整個制度如何不堪,你沒可能不出聲,身為一個香港人。

É impossível você não se pronunciar contra um sistema podre quando você se identifica como um cidadão de Hong Kong.

Anteriormente, Arto era um designer gráfico, que começou a desenhar virtualmente em 2011. No início, ele desenhava por diversão; publicou seu primeiro conjunto, intitulado “Cartão da Criatura Dourada” (Golden Creature Card), na plataforma popular Golden Forum. A partir daí, ele virou uma celebridade da internet. Mais tarde, seu trabalho ficou mais político:

你真係對於那些事一種義憤、有一種感受,就變了畫那些事。

Quando incidentes acionam emoções, raiva, eles viram desenhos.

Porém, é muito difícil desenvolver uma carreira como cartunista político em Hong Kong. Algumas vezes, seus clientes pedem para não usar o nome “Arto” nos trabalhos, por ser um nome muito político.

Em 2016, enquanto ele reunia seus trabalhos online em um livro, o editor pediu que ele removesse algumas obras com conteúdo político sensível. De início, o editor referiu-se aos desenhos relativos ao presidente chinês Xi Jinping e ao Partido Comunista Chinês como sensíveis. Então, a editora quis que ele removesse uma obra que carregava a bandeira nacional da China e a de Hong Kong, uma região administrativa da China, alegando que o trabalho poderia violar as regulamentações das bandeiras e do emblemas nacional e regional.

Um editor disse a Arto que alguns dos trabalhos poderiam violar a lei. Abaixo, uma das obras acusando o Chefe-Executivo de Hong Kong de destruir os valores centrais de Hong Kong. Imagem via inmediahk.net.

De acordo com as duas leis, qualquer um que profane a bandeira e seus emblemas, de forma pública e intencional, e os queime, mutile, rabisque, difame ou pise, corre o risco de pagar uma multa de 50.000 dólares de Hong Kong (aproximadamente 6 mil dólares norte-americanos) e três anos de prisão.

Arto disse:

我覺得非常非常之無稽。畫時事嘢,好難避免畫這些圖案[…]而且我覺得是過份憂慮,香港出版界從來未試過因為國旗法,而不能直接出國旗或區徽。

O incidente é tão ridículo. Como você pode evitar uma bandeira em cartoons políticos? […] Eles estão preocupados demais. Por enquanto, não existem casos contra editores de Hong Kong usando essa lei.

Ele, então, contratou outra editora menor e todos os trabalhos foram impressos sem problemas. Arto criticou práticas de autocensura que são comuns em Hong Kong e as qualificou como patéticas:

你是在揣摩政府可能因此控告出版社,導致要收書。我覺得這有違我畫時事漫畫的精神。如果我退讓,以後都有這些制肘,不能畫五星旗、區徽,是不是極之荒謬呢?

Você especula que o governo pode processar a editora, e então decide censurar o trabalho. O incidente todo vai contra os meus princípios. Se eu desistir, coisas parecidas acontecerão repetidamente e, por fim, ninguém poderá desenhar a bandeira nacional, regional ou emblemas. Isso não é ridículo?

Como o espaço para desenhos políticos na mídia impressa está diminuindo, Arto lança seu trabalho majoritariamente online. Seu desenho premiado, “Após a reinterpretação da Lei Básica”, foi previamente publicado na sua conta do Facebook, com centenas de likes e compartilhamentos.

Ele fez o desenho após o Comitê Permanente do Congresso Nacional da China exercer seu poder desenfreado para interpretar a mini Constituição de Hong Kong, conhecida como Lei Básica, em novembro de 2016. Essa reinterpretação” foi em resposta a dois legisladores de Hong Kong que alteraram o vocabulário de seus juramentos para prestar lealdade a “Nação de Hong Kong” em vez de Hong Kong como uma região administrativa especial da República Popular da China.

O Comitê Permanente, maior corpo legislativo da China, disse que políticos que não prestarem juramento corretamente serão barrados de seus cargos, impedindo assim a decisão de um tribunal local se os dois legisladores independentes deveriam ser desqualificados por suas ações. O ato foi criticado por muitos, já que travava a autonomia de Hong Kong.

Arto só poderia expressar sua raiva e senso de desamparo pela situação por meio dos desenhos. O resultado foi um cartoon destacando a estátua de Têmis, que é o simbolo da justiça, ereta do lado de fora do antigo Conselho Legislativo de Hong Kong, atualmente Corte de Apelo Final, coberta pela bandeira da China. O peso do martelo e da foice, símbolo do Partido Comunista da China, inclinando a balança que ela está segurando.

Arto anexou o seguinte comentário ao seu trabalho:

話說,最不守法律、最缺乏真誠的黨,要以法律裁決別人是否真誠。

O partido mais mentiroso e ilegítimo quer usar a lei para julgar se uma pessoa é sincera.

Arto acredita que desenhos políticos podem estimular as pessoas a pensarem profundamente políticas complicadas

用輕鬆的手法,讓人一眼看懂事件的大概,再去讀比較複雜的資訊,就如一個踏腳石。我一直都以這個想法,去畫時事漫畫

Ao usar humor e uma apresentação despreocupada, [o desenho] pode ajudar pessoas a desenvolver uma impressão dos eventos sociais e políticos. Então eles podem ter motivação para ler mais acerca desses eventos. É como um degrau. Essa é minha filosofia quando faço desenhos políticos.

As mídias sociais têm ajudado sua jornada criativa:

在傳統紙媒,你真係要揭那幾頁才會看到時事漫畫,普通一個師奶可能只看頭版或娛樂版;但網絡就不同,可能無端端在飲飲食食、生活瑣事的帖子之間,有個時事漫畫彈出來。

Na mídia impressa convencional, você tem que passar algumas páginas até encontrar um cartoon. Mas leitores comuns podem ler apenas a primeira página e as noticias de entretenimento. A internet é diferente, o desenho pode aparecer a qualquer momento, quando estiver comendo ou compartilhando seu status sobre o dia a dia.

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