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“Evangelista cultural” nigeriano promove línguas africanas com apps e narrativas digitais

Categorias: África Subsaariana, África do Sul, Nigéria, Língua, Mídia Cidadã, Tecnologia, Rising Voices

Captura de tela de Oluronbi, aplicativo de histórias.

Às vezes, Adebayo Adegbembo gosta de se definir como um “evangelista cultural”. O termo se tornou uma descrição adequada para seu trabalho, que combina tecnologia, ensino e paixão por promover as línguas e as culturas africanas na internet.

Foto: Adebayo Adegbembo. Usada com permissão.

Morador de Lagos, na Nigéria, a língua materna de Adebayo é o iorubá [1], um idioma falado por aproximadamente 30 milhões de pessoas. Seu interesse por essa abordagem da língua começou há quatro anos, quando pesquisava maneiras de usar a tecnologia para incentivar sua sobrinha pequena e as crianças do bairro a aprender o idioma. Como fundador do Genii Games [2], sua equipe tem desenvolvido aplicativos e animações para a aprendizagem do iorubá, além de outras línguas africanas. Segundo Adebayo, a tecnologia é a ferramenta ideal para tornar a aprendizagem de idiomas “divertida, interessante e interativa”:

Technology offers the best form of creative approach to preserving native languages. It aids the process of documentation, collaboration between language experts, offers a wide array of distribution medium etc. With technology, it's easier to contextualize the languages to reach different audience categorized by age and level of understanding of the languages.

A tecnologia oferece a melhor forma de abordagem criativa para preservar as línguas nativas. Ela auxilia o processo de documentação, a colaboração entre especialistas linguísticos, oferece uma ampla gama de meios de distribuição etc. Com a tecnologia, é mais fácil contextualizar os idiomas a fim de alcançar públicos diferentes, classificados por idade e nível de compreensão nas línguas.

Desenvolvido para crianças, um desses aplicativos é Igbo 101, o qual assume a forma de um “jogo de aventura”. Os usuários podem avançar no jogo conforme dominam diferentes níveis da língua e acumulam pontos com o objetivo de ganhar um presente de “Amamiihe”, que significa “conhecimento” no idioma igbo. Recentemente, o aplicativo lançou sua segunda versão atualizada e está disponível para Android e iOS. Também há aplicativos disponíveis para os idiomas iorubá [3] e hauçá [4].

Para criar esses aplicativos, é necessária uma equipe de programadores, ilustradores, dubladores, engenheiros de áudio e professores de idiomas a fim de juntar todos os elementos. Os especialistas linguísticos são especialmente essenciais no processo de captar os elementos tonais das línguas nigerianas, também presentes em muitos outros dialetos. Esse processo foi bem documentado e publicado no artigo “What Does It Take To Build An App [5]” (“O que é necessário para criar um aplicativo”), no blog do Genii Games.

Divulgar as histórias da Nigéria e da África é outra parte do trabalho de Adebayo. Ele tem oferecido oficinas para crianças em idade escolar primária de todo o continente, a fim de encorajar a próxima geração de narradores digitais. Em março de 2016, dirigiu oito oficinas em escolas locais na Nigéria [6], com o objetivo de criar conteúdo digital para crianças. Adebayo compartilhou a ideia central das atividades:

It’s a workshop where we walk kids through the process of creating simple stories using technology tools. Together, we come up with ideas for stories then write out the script, draw, color, record the narration and piece it all together into an app or video. Our goal is to demystify the content creation process. Furthermore, our larger goal is to inspire these kids to take ownership of their narratives.

É uma oficina onde nós guiamos as crianças pelo processo de criar histórias simples usando ferramentas tecnológicas. Juntos, nós damos ideias para histórias e, então, escrevemos um roteiro, desenhamos, colorimos, gravamos as narrações e juntamos tudo num aplicativo ou vídeo. Nosso objetivo é desmistificar o processo de criação de conteúdo. Mais do que isso, nosso objetivo maior é inspirar essas crianças a se apropriarem de suas narrativas.

Graças ao sucesso das oficinas, Adebayo organizou atividades similares [7] em Joanesburgo, na África do Sul, em parceria com iAfrikan [8], Who Are We Africa [9] e Macroscopia Labs [10], que foram hospedadas por Jozihub [11], como parte das celebrações do Dia da Juventude. Vinte e seis crianças de duas escolas primárias de Soweto participaram de todas as partes [12] da criação de um vídeo de 90 segundos sobre o Umngqusho [13], um prato típico da África do Sul. Além da ideia da história, as crianças também foram responsáveis por ilustrar e dublar os personagens. O resultado final pode ser visto no vídeo do YouTube a seguir:

Apesar dos avanços feitos por aplicativos e narrativas digitais na divulgação das línguas nigerianas online, ainda há desafios para assegurar que mais crianças tenham acesso ao conteúdo. Isso afeta, principalmente, crianças das regiões rurais africanas, onde a presença de smartphones é reduzida. De acordo com Adebayo, essa é uma questão importante, pois os smartphones “têm funções que permitem apresentar melhor esses idiomas na forma multimídia, sendo mais interativos criativamente. A crescente disponibilidade de smartphones baratos tornará isso mais fácil com o tempo e acho que já estamos vendo isso acontecer”.