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“Capacetes Brancos” da Síria salvam milhares de vidas e agora estão nomeados para um Nobel da Paz

Categorias: Europa Ocidental, Oriente Médio e Norte da África, Reino Unido, Síria, Esforços Humanitários, Guerra & Conflito, Mídia Cidadã
Voluntários da Capacetes Brancos Fonte: Página web da Capacetes Brancos (em inglês).

Voluntários da Capacetes Brancos. Fonte: White Helmets (em inglês) [1].

As Unidades Sírias de Defesa Civil [2], também conhecidas como Capacetes Brancos, foram nomeadas para o Prémio Nobel da Paz [1]. A este grupo de socorristas composto por cerca de 130 voluntários é atribuído o salvamento de mais de 56 mil vidas e poderá agora receber o “prémio da paz” mais famoso do mundo pelo trabalho que têm vindo a desempenhar.

Numa entrevista recente [3] com a Public Radio International, o Capacete Branco Ishmael Alabdullah, de 29 anos, mostrou, a partir da cidade de Aleppo, o que pode ser vista como a filosofia dos Capacetes Brancos:

When you see human beings suffering, you need to do something to help them. I consider everyone who is staying in Aleppo, all of them, are heroes.

Quando se vê seres humanos a sofrerem, tem de se fazer algo para os ajudar. Eu considero todos os que permanecem em Aleppo, todos eles, heróis.

Na sua página web, os Capacetes Brancos explicam o que é preciso para salvar uma vida:

In the deadliest conflict of our era an unlikely group of heroes has emerged. Former tailors, bakers, teachers and other ordinary Syrians have banded together to save lives from the rubble of bombardment and the violence of war in Syria. Forming the Syria Civil Defence, their distinctive uniform of a white helmet now symbolises hope for millions.

When the bombs rain down, the White Helmets rush in. In a place where public services no longer function these unarmed volunteers risk their lives to help anyone in need, regardless of their religion or politics. These volunteer rescue workers have saved over 60,000 lives.

The White Helmets motto is taken from the Quran: ‘to save a life is to save all of humanity‘. In a conflict where too many have chosen violence, the White Helmets wake up everyday to save the lives others are trying so hard to take.

Their bravery has inspired people across the planet — from the children in Syria who play at being rescue workers, to the students in Norway who awarded them their town’s peace prize, and to their nomination now for the Nobel Peace Prize.

No conflito mais sangrento da nossa era surge um grupo improvável de heróis. Antigos alfaiates, padeiros, professores e outros sírios comuns juntaram-se para salvar vidas entre os destroços causados pelos bombardeamentos e da violência da guerra na Síria. Fundando a Defesa Civil da Síria, o seu uniforme com um capacete branco é agora um símbolo de esperança para milhões de pessoas.

Quando as bombas caem, os Capacetes Brancos apressam-se entram em ação. Num lugar onde os serviços públicos já não funcionam, estes voluntários desarmados arriscam as suas vidas para ajudar os necessitados, independentemente da sua religião ou opinião política. Estes socorristas voluntários já salvaram mais de 60 mil pessoas.

O lema dos Capacates Brancos é retirado do Alcorão: ‘Salvar uma vida é salvar toda a humanidade [4]‘. Num conflito em que demasiadas pessoas escolheram a violência, os Capacetes Brancos acordam todos os dias para salvar as vidas que outros tentam ceifar.

A coragem deste grupo inspira pessoas de todo o mundo — desde as crianças na Síria que fazem de conta que são socorristas, aos estudantes na Noruega que lhes entregaram o prémio da paz da sua cidade, acabando com  a nomeação para o Prémio Nobel da Paz.

A campanha do “Prémio Nobel da Paz para os Capacetes Brancos” conta com o apoio de 120 organizações. Entre as organizações sírias estão:

Entre as organizações internacionais incluem-se:

Os Capacetes Brancos foram nomeados, entre outros, por Jo Cox, deputada do Partido Trabalhista do Reino Unido que foi brutalmente assassinada [28] por um homem de 52 anos a 16 de junho de 2016. Após a morte de Cox, o seu marido Brendan organizou um fundo de homenagem [29] de modo a angariar dinheiro para causas apoiadas pela malograda deputada. As três causas escolhidas foram o ‘Royal Voluntary Service [30]‘, uma ONG que presta auxílio a idosos, ‘HOPE Not Hate [31]‘, o movimento que luta por uma Grã-Bretanha moderna e inclusiva e, por fim, os Capacetes Brancos.

Em apenas cinco dias, a campanha conseguiu angariar quase £1.35 milhões (1.5 milhões de euros) com mais de 41 mil contribuições [32] e já ultrapassou a meta de £1.5 milhões (1.7 milhões de euros). À família de Cox foi inclusivamente entregue um capacete branco honorário pelo líder dos Capacetes Brancos, Raed Saleh, um prémio altamente simbólico [33] já que está “normalmente reservado para voluntários que perderam a vida resgatando civis na Síria”. Saleh também lançou o vídeo seguinte em nome dos Capacetes Brancos.

Em março de 2016, a Amnistia Internacional acusou [34] os governos sírio e russo de atingir hospitais como estratégia de guerra, dizendo que eles “parecem ter atacado deliberada e sistematicamente hospitais e outras instalações médicas durante os últimos três meses para preparar o avanço de tropas terrestres no norte de Aleppo.” Em junho de 2016, o jornalista do The New Yorker Ben Taub [35] um relato angustiante daquilo a que ele apelidou de “doutores-sombra”. Ele escreveu [36] o seguinte:

In the past five years, the Syrian government has assassinated, bombed, and tortured to death almost seven hundred medical personnel, according to Physicians for Human Rights, an organization that documents attacks on medical care in war zones. (Non-state actors, including ISIS, have killed twenty-seven.) Recent headlines announced the death of the last pediatrician in Aleppo, the last cardiologist in Hama. A United Nations commission concluded that “government forces deliberately target medical personnel to gain military advantage,” denying treatment to wounded fighters and civilians “as a matter of policy.”

Nos últimos cinco anos, o governo sírio assassinou, bombardeou e torturou até à morte quase sete centenas de pessoal médico, de acordo com a Physicians for Human Rights, uma organização que documenta ataques à assistência médica em zonas de guerra, (rebeldes, incluindo o Estado Islâmico, mataram vinte e sete). Manchetes recentes anunciaram a morte do último médico pediátrico em Aleppo, o último cardiologista em Hama. Uma comissão das Nações Unidas concluiu que “forças governamentais atacaram, deliberadamente, pessoal médico para ganhar vantagem militar”, negando tratamento a combatentes e civis feridos “por uma questão de política”.

Muitos mais hospitais foram bombardeados desde então. Pelo menos 375 ataques a instalações médicas foram documentadas desde o início da Revolução Síria, de acordo com a Physicians for Human Rights [37]. Sob tais condições, muitos dos homens e mulheres que tratam os feridos em hospitais subterrâneos improvisados podem ir desde estudantes do primeiro ano de Medicina até pessoas sem qualquer formação médica.

Do mesmo modo, os socorristas que constituem a maioria dos Capacetes Brancos são civis comuns, de padeiros até enfermeiras, pintores e alfaiates, razão pela qual os apoiantes da campanha estão a pedir ao público para assinar uma declaração [1] de apoio aos Capacetes Brancos receberem o Prémio Nobel da Paz, de 2016.

Traduzido por: Leandro Rafael da Silva Oliveira