Timbuktu: “Justiça aos monumentos, mas não às mulheres violentadas”

13-12-05-Culture in Timbuktu 02

Timbuktu, mesquita Djingarey Berre, monumento do patrimônio mundial da UNESCO – Foto MINUSMA/Marco Dormino 2013 – CCBY

Georges, jornalista e blogueiro malinês, dá um grito de indignação para denunciar o fato de que, se os monumentos foram restaurados, nota-se uma total falta de justiça no que diz respeito às violências sexuais que as instâncias jurídicas malinesas e internacionais parecem querer esquecer.

Ele escreveu em seu blog, “AU GRIN Il se dit beaucoup de choses autour d'un verre de thé“, em um artigo intitulado Tonbouctou : Elles sont aussi innocentes que les mausolées ! (Timbuktu: Elas são tão inocentes quanto os mausoléus):

Si vous suivez l’actualité internationale la condamnation de Ahmed Al Faqi Al Mahdi à neuf ans de prison n’a pas dû vous échapper. La Cour Pénale Internationale (CPI) a reconnu coupable ce djihadiste malien de la destruction en 2012 de la  mosquée Sidi Yahia de Tombouctou ainsi que de 9 mausolées. Ahmed Al Faqi est le premier à être jugé pour des crimes commis au plus fort de la crise malienne, sous l’occupation des régions nord du pays.

Mais les crimes commis ne se limitent pas uniquement à la destruction de biens culturels. Les groupes armés qui occupaient les lieux ont aussi perpétré des viols ainsi que d’autres formes de violences sexuelles sur des femmes et des jeunes filles. Malgré les 171 victimes recensées et les 113 plaintes portées pour les crimes de violences sexuelles personne n’a été inquiété par la justice à ce sujet. Ces victimes sont aussi innocentes que les mausolées, comme la porte de la mosquée Sidi Yahia. Mais où est passé l’important ?…

Les mausolées détruits ont été restaurés et réhabilités avec l’aide de l’UNESCO. Il restait alors la porte de la mosquée Sidi Yahia, qui a elle aussi a été restaurée en septembre 2016 en présence de notables, d’habitants de Tombouctou, du représentant de l’UNESCO et de la MINUSMA … Je ne dis pas que la restauration de ces biens culturels, classés patrimoine culturel de l’humanité, n’est pas important. D’ailleurs je me réjouis pour la justice rendue aux édifices de Tombouctou. Mais ça ne doit pas se limiter à ça et s’arrêter là….

Se você acompanha o noticiário internacional, a condenação de Ahmed Al Faqi Al Mahdi a nove anos de prisão não deve ter passado despercebida. O jihadista malinês foi declarado culpado pelo Tribunal Penal Internacional pela destruição, em 2012, da mesquita Sidi Yahia de Timbuktu e de 9 mausoléus. Ahmed Al Faqi é o primeiro a ser julgado por crimes cometidos no auge da crise malinesa, durante a ocupação das regiões norte do país.

Mas os crimes cometidos não se limitam à destruição de bens culturais. Os grupos armados que realizaram a ocupação também perpetraram estupros e outras formas de violência sexual contra mulheres e meninas. Apesar das 171 vítimas recenseadas e das 113 denúncias de crimes envolvendo violência sexual, ninguém foi procurado pela polícia por esta razão. Essas vítimas são tão inocentes quanto os mausoléus, quanto a porta da mesquita Sidi Yahia. Mas o que é mais importante?…

Os mausoléus destruídos foram restaurados e recuperados com a ajuda da UNESCO. Faltava ainda a porta da mesquita Sidi Yahia, que também foi restaurada em setembro de 2016 em presença de pessoas ilustres, de habitantes de Timbuktu, do representante da UNESCO e da MINUSMA… Não estou dizendo que a restauração desses bens culturais, considerados patrimônio cultural da humanidade, não seja importante. Aliás, me alegro com a justiça feita aos edifícios de Timbuktu. Mas não devemos parar por aí…

Após recordar que, durante a ocupação do norte do Mali, os jihadistas e outros grupos armados haviam cometido violências sexuais de diversos tipos, mas principalmente estupros, o blogueiro Georges acrescenta:

Comme l’atteste un rapport établi en 2012 par le Haut Commissaire des Nations Unies aux droits de l’homme sur la situation des droits humains au Mali. L’ONG Wildaf-Mali (Women In Law and Development/ Femme – Droit et – Développement en Afrique) a recensé 171 femmes victimes de violences sexuelles venant des régions du nord du Mali. Selon Bintou Bouaré, présidente de Wildaf-Mali« sur ces 171 femmes, 113 ont accepté de porter plainte. En trois ans, 30 femmes seulement ont été écoutées par le procureur de la commune 3 de Bamako ».

Como comprovado pelo relatório feito em 2012 pelo Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre a situação no Mali, a ONG Wildaf-Mali (Women In Law and Development) recenseou 171 mulheres vítimas de violências sexuais originárias da região norte do Mali. Segundo Bintou Bouaré, presidente da Wildaf-Mali, “dessas 171 mulheres, 113 aceitaram denunciar. Em três anos, somente 30 mulheres foram ouvidas por um procurador de Bamako”.

Para compreender os problemas que encontram as mulheres violentadas na sociedade malinesa, ele acresccenta:

Le viol est un sujet tabou au Mali. Les lèvres des victimes sont scellées par le regard de la société. Parmi les 171 femmes et filles victimes recensées de violences sexuelles, 58 n’ont pas voulu porter plainte. “Certaines se sentent responsables de leur sort. Tandis que d’autres ont peur de témoigner parce qu’elles vivent dans la même localité que leurs violeurs qui errent librement dans la nature” me confie Bintou Bouaré, présidente de l’ONG Wildaf-Mali.

O estupro é um assunto tabu no Mali. As vítimas são silenciadas pelo olhar da sociedade. Das 171 vítimas de violências sexuais, 58 não quiseram denunciar. “Algumas se sentem responsáveis pelo que aconteceu, enquanto outras têm medo de testemunhar porque vivem na mesma localidade de seus estupradores, que continuam em liberdade”, afirma Bintou Bouaré, presidente da ONG Wildaf-Mali.

 

Inicie uma conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.