Campanha Presidencial suspensa em Cabo Verde para homenagear antigo chefe de Estado

Palácio Presidencial de Cabo Verde, cidade da Praia. Foto: Wikimedia CC BY-SA 3.0

Palácio Presidencial de Cabo Verde, cidade da Praia. Foto: WikimediaCC BY-SA 3.0

As autoridades cabo-verdianas decretaram dois dias de luto nacional em memória do antigo Presidente António Mascarenhas Monteiro que morreu aos 72 anos, na sexta-feira (16.09), vítima de doença prolongada. Mascarenhas Monteiro foi o primeiro chefe de Estado democraticamente eleito em Cabo Verde.

Numa altura em que está a decorrer a campanha eleitoral para as presidenciais, os três candidatos decidiram suspender as atividades para homenagear o antigo chefe de Estado. A campanha eleitoral, que vai eleger um novo Presidente no dia 02 de outubro, arrancou na quinta-feira (15.09).

Jorge Carlos Fonseca, atual Presidente da República e candidato presidencial, disse o seguinte na sua página do Facebook:

- Regressei mais cedo de Mindelo, pois mandei cancelar todas as acções de campanha eleitoral previstas (nomeadamente um comício hoje à noite em Monte Sossego), incluindo a edição de tempos de antena, por respeito à memória do Homem, do Democrata, do Estadista e do Amigo, António Mascarenhas Monteiro. – Regresso triste, consternado, verdadeiramente destroçado. Reitero as minhas mais sentidas condolências aos familiares.

O diretor da campanha de Albertino Graça, reitor da Universidade do Mindelo e candidato à presidência, publicou um vídeo em memória ao ex-chefe de Estado:

Por motivos de força maior relacionados com o falecimento do presidente António Mascarenhas Monteiro, enquanto director nacional da candidatura de Albertino Graça, declaro que decidimos suspender todas as actividades de campanha durante dois dias. É uma homenagem devida pelo legado do Presidente Mascarenhas Monteiro enquanto um referencial de estabilidade e de sentido de estado, que ficará na memória da democracia de Cabo Verde. Associamo-nos de forma solidária aos familiares e amigos do Presidente Mascarenhas Monteiro neste momento de profundo pesar e comoção nacional.

O candidato Joaquim Monteiro, antigo combatente pela liberdade de Cabo Verde, reagiu da seguinte maneira:

Joaquim Monteiro, que soube da notícia através da Rádio de Cabo Verde, disse que “Tony” Mascarenhas foi para ele um grande companheiro de luta e amigo e um grande Presidente para todos os cabo-verdianos.

As reações à morte de Mascarenhas Monteiro também se fizeram sentir no Twitter. O atual Presidente do Brasil, Michel Temer, disse o seguinte:

Temer foi o único chefe de Estado de um país lusófono a reagir à morte de Mascarenhas Monteiro nas redes sociais, até ao fecho desta edição.

O papel de António Mascarenhas Monteiro na democracia cabo-verdiana

Mascarenhas Monteiro foi o primeiro Presidente a ser eleito, em fevereiro de 1991, através do voto direto, secreto e universal num Cabo Verde independente e já multipartidário. Até então, e desde a proclamação da independência sobre Portugal em 1975, o país foi governado por um sistema de partido único imposto pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGCV) – atual PAICV – fundado por Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral em 1956.

Nos anos 1990, foi introduzido o multipartidarismo em Cabo Verde. Em fevereiro de 1991, Mascarenhas Monteiro vence as eleições e chega à presidência com o apoio do recém-criado Movimento pela Democracia (MpD). Mascarenhas foi Presidente da República de Cabo Verde até 2001:

Cinco anos depois, [em 1996], foi reeleito sem qualquer adversário, de novo com o apoio do MpD.

António Mascarenhas Monteiro foi secretário-geral da Assembleia Nacional Popular nos primeiros anos da independência de Cabo Verde. Formado em Direito pela Universidade Católica na Bélgica, foi presidente do Supremo Tribunal de Justiça, nos anos 1980. Em 2006, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, nomeou-o enviado especial a Timor-Leste. Monteiro teve igualmente um papel “impulsionador” na criação da CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa, recorda o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco.

A campanha para as eleições presidenciais volta às ruas de Cabo Verde na próxima segunda-feira. Este país insular, situado a 570 km do continente africano, é considerado um dos países mais democráticos do mundo, de acordo com o índice de democracia compilado em 2012 pela revista The Economist.

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