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Mantém-se o clima de tensão política em São Tomé e Príncipe a dois dias da segunda volta das presidenciais

Categorias: África Subsaariana, São Tomé e Príncipe, Eleições, Mídia Cidadã, Política, Protesto
Manifestação a pedir o cancelamento das eleições de 17 de Julho de 2016.

Manifestação a pedir o cancelamento das eleições de 17 de Julho de 2016 em São Tomé, capital do país. Foto: Felela Sum [1]/Facebook, publicada com autorização.

O processo de eleição para o novo Presidente de São Tomé e Príncipe tem estado envolto de polémica [2] desde que se deu início à contagem dos votos, na madrugada de 18 de julho.

Em vésperas da segunda volta, marcada para este domingo (07.08), uma manifestação “com centenas de são-tomenses” saiu à rua (04.08) para pedir a “anulação da primeira volta das eleições presidenciais [3]“:

Partidos políticos e membros da sociedade civil contestam o que consideram ser “anomalias, fraude e erros gravíssimos constatados na primeira volta do pleito eleitoral para a mais alta magistratura da nação”.

A manifestação foi convocada através das redes sociais:

MANIFESTAÇÃO PELA DEMOCRACIA ESTA TARDE NA CAPITAL DO PAÍS.
NÃO FALTE. PELA JUSTIÇA E PELA LIBERDADE!
‪#‎PEROLENSÍSMO‬ [5]
www.facebook.com/AGIRSTOMEEPRINCIPE [6]

Pelos apoiantes de Maria das Neves e dos partidos da oposição [7]:

JT: 04.08.2016: Os apoiantes da candidatura da Maria das Neves e partidos políticos da oposição desencadearam na tarde da última quinta-feira, 4 de agosto, uma grandiosa manifestação que reuniu milhares de apoiantes e simpatizantes da candidatura da Maria das Neves, nomeadamente, a do MLSTP/PSD, PCD e MDFM/PL.

Os resultados [8] avançados pela Comissão de Eleições Nacional (CEN) davam conta, numa primeira instância, da vitória de Evaristo de Carvalho (50,1%) com larga vantagem sobre os outros candidatos, Pinto de Costa (atual Presidente da República com 24,8% dos votos) e Maria das Neves (24,1%). Resultados que foram prontamente contestados pelos dois últimos candidatos que exigiram a impugnação do ato eleitoral [9] junto do Tribunal Constitucional (TC) por suspeita de fraude:

O TC não impugnou as eleições mas rejeitou o resultado com a justificação de que a CEN deveria ter aguardado pela contagem de todas as mesas de voto, inclusive as dos “círculos do exterior [13]“:

Quando os votos que faltavam foram contabilizados, Evaristo Carvalho ficou abaixo dos 50% que lhe dariam a vitória à primeira volta.

A contestação face aos resultados levou a CEN a admitir erros [14] durante o processo de contagem dos votos:

Alberto Pereira denunciou a ocorrência de falhas graves durante o processo eleitoral. Falhas que definiu como sendo gravíssimas e repetitivas. «Verificamos que houve muitas falhas gravíssimas», declarou o Presidente da CEN.

Conhecidos os resultados finais, constatou-se que o candidato da ADI [15], Evaristo de Carvalho, não obteve a maioria (49,9%) levando à marcação de segunda ronda eleitoral [16] com o candidato apoiado pela UDD [17], Manuel Pinto da Costa.

Contudo, Pinto da Costa veio a público anunciar a sua retirada da corrida eleitoral [18]:

No dia 25 de Julho Pinto da Costa anunciou que «continuar a participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo. Não o faço como candidato e muito menos como Presidente da República». 

ONU preocupada com o processo eleitoral

Pela primeira vez na história democrática de São Tomé e Príncipe, a Organização das Nações Unidas enviou um representante especial do secretário-geral Ban Ki-moon a São Tomé [19] para avaliar todo o processo eleitoral.

De acordo com o Téla Nón [23], o representante da ONU, Abdoulaye Bathily, chamou à atenção para o facto de São Tomé e Príncipe “ser um exemplo de democracia em todo o continente africano”:

 Até agora São Tomé e Príncipe tem-se destacado de maneira notável e é exemplar numa região marcada por conturbações políticas, antes durante e depois das eleições. São Tomé e Príncipe tem vindo a ser uma exceção. Espero que isto aconteça também na segunda volta das eleições.

Os são-tomenses estão tristes com o desenrolar de toda a situação. O conhecido rapper PekaGboom comentou o seguinte, na sua conta [24] do Facebook:

Tenho pena de todos santomenses
Este povo não merece passar por esta situação.
Deus [dê] muita força e sabedoria a todos