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Nasceu em Fafe o “Terra Mãe”, um eco festival com pretensões de “mudar o mundo em três dias”

Categorias: Portugal, Arte e Cultura, Boas Notícias, Meio Ambiente, Música, Primeira Mão
Produtores locais mostram os seus produtos no eco festival "Terra Mãe". Foto: Manuel Ribeiro

Produtores locais mostram os seus produtos no eco festival “Terra Mãe”. Foto: Manuel Ribeiro

Quando algumas centenas de pessoas se juntam durante três dias num espaço comum dedicado à vida saudável, sobre a pretensão de integrar três componentes da sustentabilidade – a social, a energética e a ambiental – e zelar pela “harmonia entre a terra e a família” num evento preocupado em partilhar os “excedentes com o intuito de reduzir a pegada ecológica”, isso é o eco festival Terra Mãe [1] que aconteceu pela primeira vez em Fafe, no fim de semana de 22 a 24 de julho. O Global Voices esteve no evento e conta-lhe como foi.

A Quinta do Minhoto, em Fafe, norte de Portugal, foi transformada para receber o “Terra Mãe”, um eco festival que contou com um programa recheado de eco atividades tanto para crianças como para os adultos. Vários espaços foram criados dentro do recinto para que, ao longo do dia, fosse possível a prática de ações como Yoga, Biodanzas e Eco Oficinas, sem esquecer as medicinas e terapias alternativas. O evento foi acompanhado de comida biológica confecionada com alimentos locais e sazonais, teatro e muitas palestras.

Foi ainda criada uma área de campismo, no meio de um carvalhal para aproveitar a sombra, com chuveiros e casas de banho para receber e cuidar da higiene dos festivaleiros. Mais abaixo, no riacho [2], uma lagoa convidava a banhos para refrescar o corpo do calor tórrido que se fez sentir em Fafe durante o fim de semana.

Um festival não podia ser um festival se não tivesse música, os ritmos do reggae e sons do mundo animaram os festivaleiros nas noites quentes de Fafe. O “Terra Mãe” foi um autêntico chorrilho de “felicidade e amor” que prometia “mudar o mundo e a vida em três dias”.

Casas de banho do parque de campismo. Foto: Manuel Ribeiro

Casas de banho e chuveiros do parque de campismo. Foto: Manuel Ribeiro

A música foi a grande companheira das noites do “Terra Mãe” e contou com as atuações dos Kussondulola Sound Sistema [3] e Bob Figurante – cabeças de cartaz do primeiro dia [4] de festival. A montra musical começou com a atuação dos Drusuna [5], um grupo folk criado em 2011 e com os Carnival Tales [6], banda de rock formada em 2012 e que viu a sua atuação interrompida por duas vezes devido à falta de energia causada pelos decibéis que o jovem grupo de Paços de Ferreira debitava. Mas a atuação mais aguardada da noite era a do mítico grupo de reggae, Kussondulola, que subiram ao palco pouco depois das duas da madrugada.

O entusiasmo do Angolano Janelo da Costa [7] animou os festivaleiros que timidamente se soltavam em danças e coreografias aquecendo a noite que estava já adiantada.

“É muito bom estar ligado à mãe natureza”, disse Janelo ao Global Voices depois do concerto. Para o músico Angolano:

Em Portugal não temos muitos festivais com esta vertente daí é muito bom tocar nesses temas [de proteção da mãe natureza] e para o meu lado, que fazemos musica reggae e estamos ligados à natureza, é de louvar. Gostei de estar fora das capitais porque lidas mais com famílias ligadas à terra, à natureza. O Kussondulola enquanto banda e de carreira em Portugal é pioneiro em participar em primeiras edições de festivais. Temos sido pioneiros em muitas coisas e essa é uma das coisas que dá prazer. O eco festival de Fafe está de parabéns.

Kussondulola vai lançar novo álbum

A banda está em vias de lançar um novo álbum, adiantou Janelo da Costa em primeira mão:

Estamos a preparar um período de longo prazo que é tentar fazer uma história de promover a ligação África e Portugal. Num aspeto de pôr as pessoas a falar, como fez o Mandela. Falar das coisas boas, sem perguntas. Há uma música que tocamos hoje que se chama “África Lisboa” e nesse instrumental tínhamos um convidado que tocou a versão dele e já vamos com cerca de 30 artistas a cantar o mesmo instrumental, com letra diferente mas que aborda essa forte ligação. É um pacote que vai incluir numa tournée com essa “vibe”. Com o sentido de promover África e Portugal.

Temos um disco que vai sair, chamado “O grito de Hoje”! E o que é? É por as pessoas a falar, o grito de hoje no sentido de palavras positivas, de gritar fortemente o amor e a amizade. Gritar, quando a gente tem raiva. Essas palavras nunca foram tão pedidas! O próximo capítulo que está a chegar da sequela Kussondulola é nessa base. Neste momento as músicas estão gravadas e estamos a trabalhar a banda com muito ensaio que vai envolver uma tournée a nível da lusofonia.

Bob Figurante [10] e de Roods Reggae fecharam o cartaz da primeira noite do festival deixando no ar uma amostra agradável sobre o que viria a ser os restantes dias.

E assim foi, no segundo dia registou-se uma maior afluência de público. Entre as várias atividades destacaram-se as palestras de culinária vegetariana com o investigador da Universidade do Minho, o indiano Vaibhav Shah que cozinhou e deu a provar algumas iguarias indianas como o caril de vegetais ou o pão Roti.

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O Indiano Vaibhav Shah cozinhou Caril de vegetais com roti entre outras iguarias indianas. Foto: Manuel Ribeiro

Os Terrakota [11] e a banda Terra Livre foram os protagonistas da segunda noite [12] sem esquecer a atuação do grupo da casa, Progeto Aparte [13], que se apresentou de forma energética com ritmos a lembrar Kusturica [14] colocando toda a gente a dançar até às 5 horas da madrugada. Mas antes, os Terrakota proporcionaram um espetáculo multicultural trazendo ao palco sonoridades e coreografias de diversas partes do mundo. Outra surpresa agradável foi a atuação dos Terra Livre com sonoridades influenciadas pelo reggae, gnaoua [15] ou o afrobeat.

Um festival em “família”

Fátima Alves, da Associação Gomos da Tangerina [16], uma das organizadoras do Festival Terra Mãe fez saber que haverá nova edição, no próximo ano. Fátima explica como surgiu este eco festival:

Fátima Alves a preparar a sopa.

Fátima Alves a preparar a sopa. Foto: Manuel Ribeiro

Aconteceu com uma parceria entre a Associação Movimento de Amigos de Fornelos e a Gomos da Tangerina, uma comunidade de aprendizagem. Conhecemo-nos e achamos que devíamos criar um novo movimento, que através de um festival pudéssemos promover um novo estilo de vida. Conheci o David, que está ligado à Quinta do Minhoto, onde já se tinha organizado dois festivais de rock [no passado] e queriam continuar a promover um festival de música. Começaram a despertar para a questão da sustentabilidade e conheceram o projeto Gomos da Tangerina que está ligado à parte ambiental, educacional e social e então unir as duas coisas seria interessante e foi assim que surgiu um programa diversificado com música dentro do espírito. Conversamos a avaliar o que está a correr bem e que podia correr melhor. Achamos que no geral estamos a conseguir o objetivo que era promover a amizade e a partilha entre as pessoas. Estamos com muita vontade de programar o próximo [festival] que será melhor ainda, com mais tempo e mais experiência.

No domingo, as atuações musicais foram dedicadas ao folk e à música tradicional tendo sempre como pano de fundo a vertente pedagógica. A organização ficou surpreendida com a grande afluência do público durante todo o festival. O programa diversificado permitiu o convívio das pessoas dia e noite, adultos e crianças, um festival em “família” onde as pessoas sentiram vontade de se aproximarem e de se conhecerem. Para o ano haverá mais “Terra Mãe”, garante a organização.

Galeria de Fotos por Manuel Ribeiro: