Menos dor, mais poesia. Mais respeito, menos conflitos. Esses desejos parecem até utópicos em tempos nos quais prevalecem a intolerância e a falta de respeito ao outro. Mas a exposição fotográfica “Love Letter from Brazil to Iraq” (Cartas de Amor do Brasil ao Iraque, em tradução livre) mostra que é possível abrir caminho e enfatizar para esses valores, inclusive em zonas de conflito.
A mostra, que já foi apresentada na Galeria Daratal Tasweer, em Amã (Jordânia), e instalada pelas ruas de Bagdá (Iraque), chega ao Brasil com 72 trabalhos, promovendo uma troca entre 21 fotógrafos brasileiros e 15 iraquianos. A curadoria é de Renato Negrão, professor de fotografia da Panamericana, e do presidente da ONG “Larsa for Human Rights” e também do IPC – Iraq Photograph Center, o iraquiano Abo Al Hassan.
Em entrevista ao MigraMundo, Negrão conta que a exposição pretende levar uma mensagem de paz e de fazer refletir sobre os tempos atuais, com mensagens positivas entre seres humanos de culturas diferentes. “Estamos cansados da dor e precisamos de mais poesia. É justamente assim que esta exposição foi recebida no Iraque e na Jordânia e tenho esperanças que no Brasil acontecerá o mesmo!!”
MigraMundo: Como surgiu a parceria com o fotógrafo iraquiano?
Renato Negrão: Através de um convite, em 2012, para participar como fotógrafo da primeira edição desta exposição. A partir disto ficamos amigos pelas redes sociais e ano passado veio o convite para organizar outra exposição, desta vez unindo fotógrafos brasileiros e iraquianos.
Qual foi o critério usado para selecionar as imagens?
Tínhamos algumas exigências. Como o projeto prevê a propagação de boas ideias, pedi que os fotógrafos não mandassem imagens tristes ou polêmicas e, nem fotos sobre temas religiosos, uma vez que não acredito que a arte deva funcionar politicamente. Arte para mim é maneira de expressão do ser humano. E em política, é necessário defender um lado e, automaticamente, ficar contra o outro. Não gosto de associar meus projetos a isto. Temas relacionados a sensualidade e sexualidade também não entrariam na mostra.
A comunidade árabe no Brasil é bem significativa, e agora inclui refugiados de países como Síria, Líbano, Iraque e Palestina. Que tipo de diálogo e impacto essa exposição poderia trazer a essa comunidade e contribuir para a quebra de estereótipos que a envolve?
Ela pode contribuir na medida que uma mensagem de paz pode ter, ou seja, sem preconceitos ou ideias pré-determinadas sobre questões polêmicas. Pessoalmente eu defendo a ideia de que compartilhamos o mesmo planeta e algo que se faz em um local pode repercutir, positiva ou negativamente, em outro. Meus projetos, como curador ou fotógrafo são voltados para esta esfera. Como professor eu também tento passar essas mensagens de respeito e entendimento sobre as questões de imigração. Afinal, somos um país onde nos orgulhamos por nossas descendências, somos filhos de imigrantes e precisamos respeitar os que vem de fora.
A exposição já passou por Iraque e Jordânia. Como foi a recepção do público, especialmente considerando a proximidade desse público com áreas em conflito?
Foi a melhor possível. Eu estava presente na abertura em Amã, na Jordânia e posso citar vários exemplos de como as pessoas ficaram emocionadas com as imagens. Como o relato de uma jovem iraquiana, que vive com a família na Jordânia, como refugiada de guerra. Ela parou em frente uma fotografia da Valerie Mesquita e disse, emocionada: “essa moça andando descalça neste bosque sou eu, meu desejo de liberdade, minha esperança para o meu futuro” Foi lindo ouvir isso.
Estamos cansados da dor e precisamos de mais poesia. É justamente assim que esta exposição foi recebida no Iraque e na Jordânia, tenho esperanças que no Brasil acontecerá o mesmo!!
A exposição pretende atravessar fronteiras, contar histórias, unir e transformar pessoas. Como você vê essa proposta, diante do contexto político nacional e internacional, no qual imperam sentimentos e atos como o desrespeito ao outro e a intolerância?
A exposição pretende levar uma mensagem de paz, o que será feito com ela foge do meu controle. Tenho esperança de que seja uma possibilidade de reflexão sobre a união, não só entre os brasileiros e refugiados, mas sim, entre nós mesmos, que andamos brigando muito por ideias divergentes. Eu acredito no Ser Humano e acho que boas ações podem gerar uma mudança para o bem, sou um otimista por natureza.
Ao rever imagens feitas no passado e agora expostas ao público, qual a sensação que fica para você?
Fica a sensação de dever cumprido, de que vale a pela lutar por uma boa causa.
Que tipo de legado esse trabalho deixa para você?
O de que vale a pena lutar por uma boa ideia e pela paz.
Exposição “Love Letter from Brazil to Iraq” (Cartas de amor do Brasil ao Iraque).
Data e hora: De 12 de maio a 12 de junho – segunda a sexta, das 9h às 20h e sábado, das 9h às 12h. Não abre aos domingos e feriados.
Local: Panamericana Escola de Arte e Design – Av. Angélica, 1900, São Paulo (SP)
Entrada: gratuita