Na noite do dia 21 de março, a Polícia Militar de São Paulo atacou com bombas, gás de pimenta e balas de borracha um grupo de estudantes pró-governo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) enquanto este se manifestava contra outro grupo contrário à presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Um grupo de estudantes de Economia, Direito e Administração havia marcado uma manifestação contra o governo federal, envolto em uma crise institucional agravada nas últimas duas semanas. De um carro de som e carregando bandeiras do Brasil, o grupo gritava palavras de ordem contra o Partido dos Trabalhadores e apoiando o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um outro grupo, contrário a esta manifestação, passou a responder com gritos de “não vai ter golpe”. O ato era acompanhado pela Polícia Militar, controlada pelo governo estadual de Geraldo Alckmin, do PSDB, que faz oposição a Dilma na esfera federal.
Durante o encerramento do protesto, o primeiro grupo agradeceu a presença da Polícia Militar e passou a bradar “viva a PM” do carro de som, como mostra o vídeo feito pelo estudante de Relações Internacionais da PUC Hermano Neto.
“Viva a PM!”Só que não.
Publicado por Hermano Amaral Pinto Neto em Segunda, 21 de março de 2016
Logo em seguida, o segundo grupo passou a cantar “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar”, um popular ‘grito de guerra’ daqueles em favor da desmilitarização das polícias do Brasil. Foi nesse momento que a polícia atacou o segundo grupo com balas de borracha e gás de pimenta.
Segundo testemunhas, a polícia chegou a jogar bombas de gás contra um dos edifícios da universidade, forçando estudantes a se refugiar em andares mais altos.
O Democratize também postou um vídeo que mostra cenas da violência policial:
CHOQUE NA PUC Imagens do confronto entre a Polícia Militar e estudantes anti-impeachment na PUC. A repressão policial…
Publicado por Democratize em Segunda, 21 de março de 2016
O Brasil passa por em uma crise político-institucional desde a reeleição de Dilma Rousseff para presidência do Brasil em 2014. No começo de março, a operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga um esquema de recebimento de propinas em troca de contratos da Petrobrás, tem fechado o cerco contra membros do governo Dilma e empresários envolvidos no conluio. Também foi aberto um processo de impeachment na Câmara dos Deputados contra a presidente, que é acusada de manipular as contas públicas para mascarar rombos no orçamento.
Em meio à crise, dois pólos se formaram: de um lado, aqueles que defendem o impeachment e que se manifestam nas ruas com camisas verdes e amarelas e bandeiras do Brasil — entre eles estão apoiadores do regime militar, que comandou o Brasil entre 1964 e 1984. Do outro, militantes do PT e setores da esquerda.
Uma outra parte da esquerda, porém, permanece crítica a ambos os lados, se opondo ao impeachment mas mantendo posição firme contra o atual governo.
O ocorrido já está sendo chamado de “Batalha da PUC”, em referência à “Batalha da Maria Antônia”, episódio ocorrido em 1968, ápice da ditadura militar no Brasil em que estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP) entraram em confronto com alunos do Mackenzie por conta de suas posições diferentes com relação ao regime. O Democratize explica a relação:
O conflito político-ideológico marcou uma época que volta a assombrar o Brasil mais uma vez, com o avanço de ideias de extrema-direita e a possibilidade de um governo democraticamente eleito sofrer uma espécie de “golpe branco”, segundo defensores do governo Dilma afirmam.
O perfil no Facebook da TVpuc gravou cenas da violência policial:
Como era de se esperar: conflito entre pros e contra impeachment na PUC. Agora. Acompanhe. Nossa repórter Marília Galvão está lá.
Publicado por Tvpuc Sp em Segunda, 21 de março de 2016
O advogado João Luiz comentou a ação da Polícia:
Impressão minha ou o aparato repressor do Estado permite a ocorrência apenas das manifestações que concordam? O que ocorreu hoje na PUC é inaceitável. Estamos caminhando rapidamente para a consolidação do Estado Policial.
O professor Walter Hupsel postou no Twitter vídeo que mostra o momento em que começou a agressão da polícia:
CÂNCER NO CU DESTES MERDAS!!!! pic.twitter.com/4ZpM4IHKUp
— unfeasable (@Hupsel) 22 de março de 2016
A Reitoria da PUC-SP soltou uma nota sobre o ocorrido, que foi prontamente criticada pelo professor da universidade, Reginaldo Nasser, que a considerou insuficiente. Após as agressões, estudantes da universidade se reuniram para protestar contra a ação da polícia aos gritos de “fascistas não passarão”.
O Democratize postou ainda um vídeo com o resumo da noite:
No dia seguinte, estudantes se reuniram para protestar contra a ação da polícia. O ex-estudante de Relações Internacionais da universidade Aldo Sauda disse:
Manifestação antifascista na PUC em repúdio ao ataque da PM e a capitulação da reitoria frente à agressão do Estado.
O professor Reginaldo Nasser postou fotos do ato, assim como o grupo Jornalistas Livres.