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Estudantes de Goiás presos após ocupar sede da Secretaria de Educação

Categorias: América Latina, Brasil, Ativismo Digital, Educação, Mídia Cidadã, Política, Protesto
Cartum de Vitor Teixeira. Usado com permissão.

Cartum de Vitor Teixeira. Uso permitido.

No final de janeiro, o Global Voices relatou a luta dos estudantes secundaristas de Goiás [1] contra o plano do governo do estado de delegar ao setor privado e à polícia militar a gestão de até 200 escolas públicas. No dia 15 de fevereiro, 31 pessoas, entre estudantes, professores e apoiadores do movimento Secundaristas em Luta, em Goiás, foram presos por ocupar o prédio da Secretaria do Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), em mais um capítulo do protesto.

Entre os detidos, 13 eram menores de idade, que foram liberados em seguida. Os 18 adultos restantes foram soltos no dia 17 [2]após audiências de custódia. Um inquérito policial já está em trâmite contra eles, que podem responder por dano ao patrimônio público.

Apesar do movimento dos estudantes, iniciado em dezembro, o governador do estado Marconi Perillo resolveu levar adiante seu plano para a educação do estado — a primeira etapa irá delegar a Organizações Sociais a administração de 23 escolas na cidade de Anápolis. Foi marcada para dia 15 de fevereiro, na sede da Secuce, uma sessão pública para a abertura dos envelopes com as propostas dos interessados. Com isso, o estudantes marcaram um ato de protesto em frente ao prédio no mesmo dia.

No entanto, de última hora a Seduce decidiu modificar o local da sessão para o Centro Cultural Oscar Niemeyer, a 8 km de distância. Segundo a página do Facebook Secundaristas em Luta – GO [3]:

Com o ato marcado para hoje por secundaristas e apoiadores em frente ao local, a Seduce decidiu alterar sem consultar e informar absolutamente ninguém o local da sessão para o Centro Cultural Oscar Niemeyer que já não se torna mais divulgada e tampouco pública, uma vez que para isso foram acionadas inúmeras equipes da polícia para evitar a entrada de QUALQUER pessoa no local.

Ilustração de Tavarez em solidariedade aos estudantes presos. Usada com permissão.

Ilustração de Tavarez em solidariedade aos estudantes presos. Usada com permissão

Um forte aparato policial [4] foi destacado para o novo local da sessão, que impedia a entrada de pessoas na sessão. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (SINTEGO), que apoia o movimento, afirmou em sua página do Facebook [5]:

O local está totalmente cercado por policiais militares, que estão impedindo a entrada de pessoas que querem acompanhar o resultado. O Sintego esteve no Oscar Niemeyer e foi informado de que a entrada do sindicato estava proibida, porque se opõe à privatização.

Ilustração em solidariedade aos presos por Heitor Vilela. Rafael Saddi é professor e avia sido citado pelo Global Voices como fonte em postagem anterior sobre a luta dos estudantes em Goiás. Uso da imagem permitido pelo autor.

Ilustração em solidariedade aos presos [6] por Heitor Vilela. Rafael Saddi é professor e Lucas Xavier é jornalista do coletivo O Desneuralizador [7], Uso da imagem permitido pelo autor.

Ao saber da mudança de endereço, os estudantes que já estavam no entorno do lugar original decidiram então ocupar o prédio  [8]da Seduce:

Os movimentos que antes ocupavam o estacionamento da Seduce saíram ainda no começo da tarde e agora o prédio se encontra totalmente ocupado somente por secundaristas. A luta continua contra à implementação das Organizações Sociais na educação pública de Goiás.

Na mesma noite, a polícia invadiu o prédio ocupado e prendeu [9] os 31 manifestantes que estavam no local.

O perfil do Facebook “Contra a Terceirização da Educação em Goiás” postou um vídeo [10] com imagens da prisão dos estudantes afirma que a polícia não procurou [11] negociar quanto a desocupação do prédio:

A polícia não tentou negociação e nem nada do tipo, já chegou com violência e prendeu todos os presentes, inclusive armou para maiores que estavam do lado de fora convidando maiores para acompanhar a operação para garantir que não seria usado violência contra os estudantes, mas ao entrarem lá foram presos também. Foram levados para a delegacia em um ônibus da RMTC (é isso mesmo, foram levados em um ônibus da empresa de transporte).

Em nota enviada à imprensa [12], a Secretaria de Educação afirmou que, após a abertura dos envelopes, todas as OS interessadas tinham pendências na documentação. Conforme o edital, as OS tem 10 dias para apresentar nova documentação — uma nova sessão de abertura de envelopes está marcada para o dia 25 de fevereiro.

No dia 16, o Ministério Público de Goiás enviou uma recomendação à Seduce [13] em que pede o adiamento do edital que busca selecionar OS para assumir a gestão das escolas. Segundo o comunicado, a maioria dos dirigentes das OS interessadas são réus em processos criminais, respondendo por crimes como estelionato, peculato, improbidade administrativa e falsidade ideológica. Há uma organização cuja responsável já foi condenada pela Justiça por cometer fraudes em concursos públicos. Há também o caso de uma OS que tem como responsável um médico veterinário, sem histórico de atuação na educação.

Ilustração por Ribs, usada com permissão. [14]

Ilustração por Ribs. Usada com permissão do autor.

No dia 17, uma manifestação foi realizada no centro de Goiânia em solidariedade aos estudantes presos no dia anterior. Segundo o perfil do Facebook Zé Ninguém,  [15]o protesto foi reprimido pela polícia e ao menos 16 pessoas foram detidas e encaminhadas para a delegacia, mas foram liberadas em seguida, com exceção de um estudante secundarista menor de idade, que permane preso [16] acusado de agredir um policial.

Um vídeo da manifestação mostra uma menina sendo puxada por policiais para dentro de um prédio após uma discussão na calçada com manifestantes. Os policiais impediram as pessoas que testemunharam a cena de se aproximar do portão do prédio. A página do Facebook Zé Ninguém, que divulgou o vídeo nas redes [17], afirma que a garota se chama Lorena, que foi agredida pelos policiais e levada pra a delegacia.

O perfil Secundaristas em Luta – GO postou uma série de fotos [18] da repressão à manifestação.

Sobre o movimento, o ativista goiano Adérito Schneider comentou [6]:

O governador Marconi Perillo deu uma declaração no ano passado falando que o movimento não duraria até o Natal. Errou rude e agora está fazendo o que sempre fez. Vamos assistir a continuidade da criminalização dos movimentos sociais, uma série de prisões políticas arbitrárias em processos esdrúxulos, o apoio de parcela da imprensa goiana e, claro, um monte de gente desinformada (e/ou cretina mesmo) aplaudindo de pé este projeto de “educação” implantado na marra e as prisões daqueles que exercem o seu direito de não aceitarem tudo goela abaixo.