- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Em informe à nação, Presidente da República reconhece que as coisas não vão bem em Moçambique

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Governança, Mídia Cidadã, Política
Presidente da República de Moçambique Filipe Nyusi discursa no parlamento. Foto: Presidência da República

Presidente da República de Moçambique Filipe Nyusi discursa no parlamento. Foto: Presidência da República

Em discurso no parlamento realizado no dia 16 de Dezembro, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi [1], prometeu aos moçambicanos devolver a paz e a estabilidade ao país, em uma sessão em que, como de costume, deputados opositores da RENAMO [2] se retiraram da sala.

O informe acontece numa altura em que Moçambique atravessa uma instabilidade económica que vem desvalorizando a moeda local, além de uma crise político-militar [3] entre o governo e a RENAMO, ex-facção armada convertida em partido de oposição desde 1992.

A rejeição pelo governo de uma proposta da RENAMO de criar autarquias provinciais no país, bem como uma emboscada [4] sofrida pelo seu líder Afonso Dhlakama em Setembro, vêm deteriorando as relações entre governo e oposição [3], que assinaram um acordo de paz após o fim da guerra civil em 1992. A RENAMO respondeu à rejeição da proposta com a criação de polícias e quartéis-militares em algumas províncias.

No seu informe [5], o Presidente da República assumiu que foi um ano atípico e que não se orgulhava da sua governação:

A árvore que plantamos hoje, leva o seu tempo a produzir frutos. Mas esta é a nossa escolha. Esta escolha exige coragem, exige verdade. Temos a coragem de informar que ainda não estamos satisfeitos com o estado da nossa Nação.

Queremos afirmar que foi um ano de arranque, um ano de trabalho. Ao Povo moçambicano, pedimos que continue a dar o melhor de si para que Moçambique continue no trilho do desenvolvimento, não obstante as circunstâncias adversas que enfrentamos, continue a nos dar o apoio que carinhosamente temos recebido.

E pediu confiança aos moçambicanos para que o ajudem a ultrapassar todos os obstáculos nos próximos anos:

Estamos prontos para dar a nossa modesta contribuição ao País. Não pedimos muito, porque ainda não estamos satisfeitos com o Estado da Nação, pedimos harmonia, sinceridade, coesão e mais confiança entre os moçambicanos e não perturbações porque queremos trabalhar. Os moçambicanos devem acreditar nas suas próprias capacidades.

Horas depois do informe de Nyusi, o líder da RENAMO Alfonso Dhlakama, que não é visto em público desde Setembro e se encontra em parte incerta, fez um discurso via teleconferência no qual prometeu ocupar “política e democraticamente” seis províncias do centro e norte do país a partir de Março de 2016. Segundo a agência Lusa:

Não iremos disparar nenhum tiro, mas quero deixar claro que, se os da [Unidade] de Intervenção Rápida ou as ‘fademos’ [Forças Armadas], em cumprimento das ordens de Nyusi, tentarem fazer brincadeira, vamos destruir. Repito, vamos destruir e não iremos encontrar nenhuma resistência”

No dia do informe, usando a Hashtag #InformeMoz, vários foram aqueles que deram o seu contributo e visão sobre o que aconteceu no país em 2015.

Crespim Mabuluko [11], estudante e locutor, fez referência ao facto do Presidente da República só vir dar o informe na Assembleia da República e não ser questionado pelos deputados:

#‎Informemoz [12]

Pelo que acompanhamos até agora fica mais uma vez provado que o PR devia ser questionado pelos parlamentares.

A manifestação de vontade de se sentar com o líder da Renamo já não constitui nenhuma novidade. (Esperava um discurso de acção tipo liguei marquei vamos sentar na casa da tia Joana etc)”

No Twitter, Alexandre Zerinho deu eco à sinceridade do presidente:

Um caso insólito, mas que não é novo, foi o abandono da Bancada da RENAMO durante a sessão do Informe:

O jornal electrónico Confidencial [17] cita o deputado oposicionista da Assembleia da República Venâncio Mondlane, que se mostrou insatisfeito com o discurso.

“O discurso do presidente foi decepcionante. Se fosse para dar uma nota de 0 a 10 eu daria 2 valores. Ele só veio ao parlamento apenas para exibir a retórica.”