A falta de chuva e a subida do nível do mar está a ameaçar a fertilidade dos solos e a subsistência da população na Guiné-Bissau, mostra um filme recentemente lançado pela produtora Bagabaga.
Em finais de Agosto, uma pequena comunidade de 435 habitantes, situada numa zona remota da costa norte da Guiné-Bissau chamada Elalab, viu grande parte das suas culturas de arroz destruídas pela água do mar. “Para os Felupes – habitantes de Elalab – o arroz representa riqueza e autonomia”, explica a sinopse do filme.
Uma reportagem publicada no site O Democrata acrescenta que “a inundação foi provocada pela corrente das águas que partiu os diques de proteção que impediam a entrada de água salgada para as zonas de água doce, onde era cultivado o produto base da dieta alimentar dos guineenses e que já estava crescido.”
A Bagabaga, produtora de conteúdos multimédia, visitou a região e conversou com Zé, um dos residentes da aldeia de Elalab que apesar de nunca ter “ouvido falar do aquecimento global consegue facilmente identificar as alterações climáticas e como isso está a afectar o seu dia-a-dia.” A pesca e a produção de arroz é o seu principal meio de subsistência e “não percebe a razão destas mudanças.” Zé pergunta:
When we were young, the heat only arrived during the dry season. Now everything has changed. The rice fields have become saltier. Fish aren’t of size anymore. Even the acajou tree, that blessed all with shade, has died. During the days of our parents generation the salt water didn’t reach the village. After plowing the land, all the rice has died. Everything is ruined. Everything. That’s how life is unfolding. That’s how we’re struggling to survive. This is the punishment we’re facing at our home. In August, sea level has reached the highest in its history. It’s one of many villages in Guinea-Bissau threatened by extinction. People ask themselves: why did it once rain so much and now it doesn’t?
Quando éramos mais novos, o calor chegava apenas na época seca. Agora está tudo mudado. Os campos de arroz estão salgados. O peixe já não tem o mesmo tamanho. Mesmo a árvore de acaju, que abençoava todos com a sua sombra, morreu. No tempo dos nossos pais a água do mar não chegava perto da aldeia. Depois de arar a terra, todo o arroz estava morto. Está tudo arruinado, tudo. É assim que a vida está a transformar-se. É deste modo que lutamos pela sobrevivência. Este é o castigo que enfrentamos por cá, nas nossas casas. Em Agosto, o nível do mar atingiu o seu ponto mas alto da história. Esta é uma das aldeias da Guiné-Bissau em vias de extinção. As pessoas questionam-se: Porque chovia tanto antigamente e agora não?
A curta-metragem foi lançada na mesma semana da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP21), onde os líderes de 195 países se reúnem – durante 12 dias – para chegarem a um acordo na redução da emissão dos gases de carbono para a atmosfera.
O presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, dirigiu-se à cúpula apelando que “a sua pequena nação, do oeste Africano, «é um dos países mais vulneráveis à subida do nível dos mares.” Um mapa referente ao impacto das alterações climáticas elaborado pelo Centro de Desenvolvimento Global coloca a Guiné-Bissau em terceiro, no ranking de países mais vulneráveis à subida do nível do mar e oitavo em relação à perda de produtividade agrícola. Esta listagem “cobre todos os países do mundo (233) mais jurisdições políticas.”
“Por toda a África, o impacto das alterações climáticas repercute-se nas populações”, um artigo publicado em Agosto (28), pela organização parceira do Global Voices, 350.org, refere que “este facto, demonstra que a mudança da temperatura afecta a saúde, os meios de subsistência, produção alimentar, disponibilidade de água potável e, em geral, a segurança do povo africano.”