
MCK num concerto em Luanda. Foto: Maka Angola publicada com permissão
O rapper angolano MCK foi retido no aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, e impedido de deixar o país na manhã do dia 24 de Novembro. O rapper viajaria para o Brasil, onde tem uma actuação marcada para o dia 26 no Festival Terra do Rap, evento que reúne os maiores nomes do rap lusófono no Rio de Janeiro, Brasil.
O próprio MCK denunciou a situação na sua página oficial no Facebook. Segundo o relato do rapper, o seu passaporte foi retido e a sua saída do país foi proibida por “ordens superiores”:
Denúncia Urgente
Família, estou no Aeroporto 4 de Fevereiro a ser impedido de viajar ao Brasil onde tenho Concerto marcado, Cahet pago e compromissos concluidos… a única informação que me dão é que estou impedido de sair por Ordens Superiores,” teu passaporte está interdito e só lhe será entregue depois do vôo partir”…Estou calmo, estou na paz e estou tranquilo. Passaporte em dia, Visto em dia, Bilhete em dia… o único crime é pensar diferente!
Viva Angola
Viva a Paz
viva os 40 anos de Independência!O que será que o Estado Angolano ganha com essas acções?”
Também pela mesma rede social, Vinicius Terra, criador do Festival Terra do Rap, manifestou a sua indignação e surpresa pelo sucedido:
As autoridades competentes nada sabem dizer. Como não tenho respostas sobre o tema estou pessoalmente indo aos locais que nos representam (diplomaticamente). E a pergunta é a mesma, ingênua, porém a única: POR QUÊ?! MCK está com o passaporte em dia e com visto, com o bilhete de embarque, etc.
Segundo declarações prestadas por MCK ao Maka Angola, os oficiais do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), informaram-no de que “tinham instruções para interditar a minha saída, por ordens superiores”. O rapper, de acordo com o seu testemunho, tentou saber junto dos funcionários do SME “se a ordem tinha alguma sustentação jurídica, se era por problemas com o passaporte ou visto”. “Disseram-me apenas que eram ordens superiores e que as instruções eram no sentido de me devolverem o passaporte após a descolagem do voo da TAAG, com destino ao Rio de Janeiro, que partia às 10h30 da manhã.
Saiba-se que o músico é um dos contestatários do regime do actual presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, no poder há 36 anos. Este caso é visto em muitos quadrantes sociais de Angola como mais uma violação aos direitos fundamentais e da liberdade de expressão dos cidadãos, quando decorre o julgamento de 17 activistas, aos quais MCK sempre mostrou o seu total apoio.
O sentimento de revolta contra o regime de Angola e de solidariedade ao MCK foi manifestado ao nível do Facebook por vários admiradores, Kevin Kafala disse:
Infelizmente eu estou a crescer numa Angola sem guerra com armas de fogo, mas eu vivo uma guerra de pensamentos que o estado quer oprimir com bebidas, festas e mulheres para criar mentes vazias sem poder para confronta-los, mas eles se esquecem de que eu nasci aqui e aqui ninguém me engana… Eles têm medo do pensar intelectual como você que transforma o pensamento, motiva e da esperança… Viva a paz. Viva Angola
Mesardino Rosé Rosé Van fala de uma Angola que se transformou numa ditadura:
Nada mano apenas despertam-nos mais a cada dia de que este não é um estado democrático mas sim ditador.
Chega de opressão. Vamos todos lá gritar: A BAI XO A DITA DURA
Um internauta chega a comparar a situação que se vive em Angola como a de um inferno:
Mas que tipo de paz temos aqui em Angola se nem direitos humanos temos! Somos tratados como animais e quem fala a verdade ou pensa diferente é castigado ou vai directamente para o caixão. Angola parece que esta pior do que o inferno pá…
No Brasil, a rede Globo foi dos primeiros meios de comunicação social a dar destaque à notícia:
Rapper angolano MCK é impedido de embarcar para o Brasil https://t.co/Axd26aLN1l pic.twitter.com/0UTzYVSQXC
— Cultura – O Globo (@OGlobo_Cultura) 24 novembro 2015
De acordo com o portal online Club-K, o rapper MCK ficou retido no aeroporto por “ordem do director do SME (Serviço de Migração Estrangeiro).” O mesmo portal avança que:
A argumentação usada para a sua interdição foi de que MCK é “também revú” e que “não pode continuar a falar mal do país no estrangeiro.
Quem é MCK?
Chama-se Katrogi Nhanga Lwamba, nasceu em Luanda em 1981. É profissional de marketing, formado em Filosofia e estuda Direito. O cantor tem como lema de vida três motes: Justiça, Paz e Liberdade.
Adoptou a sigla MCK (pronuncia-se: Mc Kapa) que são as iniciais para Mestre de Cerimónia Katrogi. Katrogi é diminutivo para Katrogipolongopongo que significa paz de espírito. MCK afirma “fazer jus ao nome”.
Foi vencedor dos prémios “Melhor Letra 2013″ com o tema “Cadáver andante” atribuído pelo Blog Rap Cuia. Melhor Rapper 2011 – Rádio Ecclésia e 2012 pela Rádio Luanda. Em 2013 venceu o prémio Melhor Rap no Angola Music Awards. Ainda em 2013, foi eleito na África do Sul, como um dos 10 artistas mais influenciadores do continente africano.