
Foto: Policiais bloqueiam rua em Belo Horizonte durante protesto na quarta-feira. Foto: Jornalistas Livres.
Na noite de quarta-feira, dia 12, pouco mais de mil pessoas se reuniram em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, para protestar contra mais um aumento da tarifa do transporte público. Durante o protesto pacífico, a Polícia Militar, sob o comando do governador Fernando Pimentel, do Partido dos Trabalhadores (PT), passou a atacá-los com extrema violência, deixando um saldo de 60 detidos e vários feridos. Muitos foram presos enquanto se refugiavam em um hotel.
A Mídia Pirata gravou e postou em seu canal do Youtube o momento do início da repressão policial:
E o ativista Lucas Morais gravou a cena por outro ângulo:
E do nada começam as bombas. Todos munidos apenas de palavras e cartazes. E assim se mantem um ajuste tarifário ilegal.
Posted by Lucas Morais on Quarta, 12 de agosto de 2015
O ativista Rafael Falconi postou outro vídeo do ataque onde se ouvem incessantes tiros de balas de borracha e bombas:
https://www.youtube.com/watch?v=obvZBnqyLFo
Muitos outros vídeos foram compartilhados mostrando a brutalidade policial diante de manifestantes pacíficos, bem como das prisões realizadas – todos os detidos foram liberados durante a madrugadas. O perfil do coletivo Tarifa Zero BH postou uma timeline dos eventos que levaram à repressão policial. Outra manifestação organizada pelo Movimento Passe Livre está marcada para sexta-feira, 14/08.
Mesmo após os imensos protestos que sacudiram o país em junho de 2013, que levaram milhões às ruas também contra o aumento das tarifas do transporte (além de outras pautas acrescentadas ao longo dos protestos), pouco mudou com relação à violência das polícias militares e à falta de tolerância dos governos estaduais a manifestações.

Imagem postada pelo coletivo Tarifa Zero BH
O protesto em Belo Horizonte carrega ainda outro simbolismo: foi duramente reprimido durante a votação e aprovação do projeto de lei 2016/2015, apresentado pelo gabinete da presidente Dilma Rousseff (PT), que cria o crime de terrorismo no país e impõe penas que vão até os 30 anos de cadeia. Para ativistas,a linguagem do texto da lei é genérica e abre margem para a criminalização de protestos. Alguns ativistas afirmaram que o projeto lembra a Lei da Mordaça espanhola.
A professora Rosangela Basso apontou a “coincidência”:
E No dia q a Lei antiterrorismo do PT Veja o momento em que a PM atira bombas contra manifestantes no Centro de BH https://t.co/N5CsRFCQJn
— Rô (@Ro_anna) 13 agosto 2015
O PL foi aprovado com ampla maioria na Câmara dos Deputados e segue ao Senado para ser votado e entrar em vigor caso aprovado.
Em uma série de tuítes, o ativista @AnarchoRevo elencou diversas práticas comuns aos movimentos sociais brasileiros que poderiam ser enquadrados na lei antiterrorista, a qual chamou de AI5 da Dilma (Rousseff), em referência ao Ato Institucional Número 5 aprovado pela Ditadura Militar em 1968 que suspendia o direito de manifestação e ampliava a censura no país:
O #AI5deDilma vai atingir em ordem de violência: 1-indígenas 2-camponeses 3-favelados/periferia 4-anarquistas 5-todos q incomodarem o regime — Anarchist (@anarchoRevo) 13 agosto 2015
Quebrar vidraças de banco ou totens publicitários? terrorismo contra patrimônio privado, 30 anos de cadeia #AI5deDilma
— Anarchist (@anarchoRevo) 13 agosto 2015
Impedir votação de lei fascista nos predios legislativos? terrorismo. Ocupação de cunho politico? terrorismo. Parar o transito? terrorismo
— Anarchist (@anarchoRevo) 13 agosto 2015
Defender-se como em Pinheirinho? terrorismo. Ocupação do @mtst_ ? terrorismo. Acampar na prefeitura como despejados da Oi/telej? terrorismo — Anarchist (@anarchoRevo) 13 agosto 2015
E usando imagens famosas da resistência À Ditadura brasileira:
Pichar prédios publicos em manifestação? terrorismo contra patrimônio público. #AI5deDilma pic.twitter.com/anirdnTO2w
— Anarchist (@anarchoRevo) 13 agosto 2015
Os ativistas André Vallias e Matheus Rodrigues relembraram o passado de guerrilheira da própria Dilma, responsável pelo PL:
É surreal demais que uma mulher presa e torturada sob acusação de terrorismo envie ao Congresso uma lei que cria o crime de terrorismo.
— Matheus Rodrigues (@matheusrg) 13 agosto 2015
Essa Lei Antiterrorismo é o cúmulo da Síndrome de Estocolmo
— Andre Vallias (@andrevallias) 13 agosto 2015
A tag #SomosTodosTerroristas foi amplamente usada durante toda a noite:
#somostodosterroristas @BarbaraSzanieck: Não gostou? vai ter que gostar! Senão de terrorista vão te chamar… http://t.co/5wXNwHwnfp”
— AutódromoJacarepaguá (@AutodromoRio) 13 agosto 2015
Manifestante não é terrorista, não existe terrorismo no Brasil, mas para a Dilma #SomosTodosTerroristas #MarchaDasMargaridas2015
— João Carlos Caribé (@caribe) 13 agosto 2015