- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Refugiado sírio lança campanha de crowdfunding para abrir restaurante em São Paulo

Categorias: América Latina, Oriente Médio e Norte da África, Brasil, Síria, Alimentação, Boas Notícias, Desenvolvimento, Economia e Negócios, Mídia Cidadã, Migração e Imigração, Refugiados, Trabalho
O engenheiro mecânico Talal, que agora trabalha com culinária síria. Crédito: aquivo pessoal

Talal Al-Tinawi, o engenheiro mecânico que virou cozinheiro. Foto: Arquivo pessoal

Este post foi publicado originalmente no blog Migramundo [1] e é reproduzido pelo Global Voices via parceria de conteúdo.

Engenheiro mecânico de formação, o refugiado sírio Talal Al-Tinawi encontrou um novo campo de trabalho no Brasil, onde chegou no final de 2013. Com dificuldades para validar o diploma no país, viu no ramo gastronômico e no gosto do brasileiro pela culinária sírio-libanesa (que no Brasil é conhecida como “árabe”) uma alternativa para ganhar a vida — e que agora deve ganhar nova dimensão, caso sua campanha de financiamento coletivo [2] dê certo.

A história começou no final de 2014, quando Talal recebeu em casa um grupo de amigos voluntários do Adus [3], instituto que dá assistência a refugiados em São Paulo. Os pratos e petiscos preparados por ele fizeram sucesso e levaram Ana Claudia Madaleno, uma das voluntárias do Adus, a sugerir que Talal transformasse seu talento para a cozinha em negócio.

Assim surgiu o Talal Cozinha Síria [4], serviço de culinária síria por encomenda. “Desde aquela festa, não parei mais de cozinhar”, ele contou ao MigraMundo. Além das entregas, Talal já participou de vários eventos, entre eles a tradicional Festa do Imigrante, que acontece anualmente em São Paulo. Também já deu aulas de culinária promovidas periodicamente pelo Adus, jantares na Mesquita do Pari durante o Ramadã – período no qual os muçulmanos jejuam durante o dia e se alimentam somente à noite –, onde atendeu cerca de 400 pessoas.

Talal conta que esfihas e kibes, petiscos muito conhecidos dos brasileiros, ainda são os itens mais pedidos. “Mas depois que fiz o cardápio, as pessoas têm se interessado por outros pratos”, afirma.

O interesse crescente levou Talal a querer expandir o negócio e abrir um restaurante. “Com um local fixo, a comercialização e visibilidade dos produtos ficariam mais acessíveis e eu teria uma estrutura melhor para elaborar pratos mais complexos e diversificar o cardápio”, explica.

Kibes, esfihas e charutos de uva estão entre os quitutes disponíveis no Talal Cozinha Síria. Crédito: Divulgação

Kibes, esfihas e charutos de folha de uva estão entre os quitutes disponíveis no Talal Cozinha Síria. Foto: Divulgação

Para isso ele lançou uma campanha no site de financiamento coletivo Kickante, com a ajuda de voluntários do Adus. Talal pretende arrecadar R$ 60 mil para comprar os itens necessários para o estabelecimento, como fogão, geladeira, batedeira, máquinas para moer carne e fazer suco, entre outros equipamentos.

Até agora, a campanha arrecadou menos de R$ 5 mil reais, mas ela só será encerrada no dia 21 de setembro. Como em outras plataformas de crowdfunding, inclui recompensas para quem colaborar, como almoço grátis no futuro restaurante, festas e cartões de desconto válidos por até um ano. A campanha é ‘flexível’, o que significa que, caso a meta não seja atingida, o dinheiro não será devolvido ao colaborador, mas as recompensas poderão ser usadas no esquema de encomendas que Talal já opera.

Com restaurante físico, Talal pretende expandir negócio e deixar serviço de culinária síria ainda mais acessível. Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Talal pretende expandir o negócio abrindo um restaurante, Foto: Rodrigo Borges Delfim

Voluntários do Adus ainda ajudam Talal na difícil tarefa de lidar com a burocracia brasileira para formalizar o negócio – problema que afeta outros empreendedores e micro e pequenos empresários estrangeiros no país.

No vídeo abaixo, Talal conta um pouco da própria história e pede ajuda aos fãs de comida árabe para alcançar o seu objetivo de abrir um restaurante.

De acordo com dados do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), o Brasil abriga atualmente com 7.700 refugiados de 81 nacionalidades diferentes, sendo a maior parte da Síria (23%), seguidos de Colômbia, Angola e República Democrática do Congo. O número de pedidos de refúgio no Brasil cresceu 2.131% nos últimos cinco anos – de 1.165 em 2010 para 25.996 em 2014. É o país que mais recebeu solicitações na América Latina no ano passado.