Menino de 10 anos é morto pela polícia em favela do Rio de Janeiro

Cartum de Carlos Latuff, uso livre.

Cartum de Carlos Latuff, uso livre.

No dia 2 de abril de 2015, Eduardo Ferreira se levantou do sofá, onde assistia televisão com a sua mãe, e se sentou no batente da porta de casa. Ele e sua família moram no Morro do Alemão, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, no Brasil. Minutos depois de se afastar da sua mãe, foi morto por um policial com um tiro de fuzil na cabeça. Ele tinha apenas 10 anos de idade.

Eduardo morreu em meio a uma escalada da violência no local nos últimos 90 dias, o que já custou a vida de pelo menos 11 pessoas. Para os moradores, é uma situação de guerra.

O policial era membro da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), uma política de segurança do Estado do Rio de Janeiro criada em 2008 que colocou forças policiais em locais historicamente dominados por traficantes de drogas. Mas, desde a sua implementação, a violência nas favelas só aumentou — moradores há anos relatam graves violações de direitos humanos por parte da polícia.

O coletivo Mariachi postou em sua página do Facebook um vídeo perturbador feito logo após a morte de Eduardo. Moradores do Alemão gritam em desespero com os policiais, que caminham sem parecer se importar.

RJ: PM MATA CRIANÇA DE 10 ANOS NO COMPLEXO DO ALEMÃO- CENAS FORTES!RIO: MILITARY POLICE KILLS 10 YO KID IN THE FAVELA COMPLEXO DO ALEMÃO- VIEWER DISCRETION IS ADVISEDVia: Complexo Alemao

Posted by Coletivo Mariachi on Thursday, April 2, 2015

Ao portal G1, a mãe de Eduardo, Dona Therezinha, disse ter certeza de que foi um policial que tirou a vida do seu filho:

Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’.

Na noite do crime, enquanto moradores se reuniram em protesto e em solidariedade no beco onde Eduardo foi morto, fotos falsas eram espalhadas pelas redes sociais mostrando um garoto, que supostamente seria Eduardo, segurando uma arma — uma tentativa de justificar a ação da PM associando-o ao tráfico de drogas. Em texto postado pelo coletivo Mariachi:

Circulam pelas redes sociais fotos de um garoto segurando uma arma, tentando associar esta imagem ao pequeno Eduardo Ferreira, de 10 anos, morto ontem por policiais do BPChoque em incursão no Complexo do Alemão. Porém estas fotos não são do Eduardo, como já mostrou a página Jornal Alemão Notícias.

QUEREM DIFAMAR UMA CRIANÇA MORTA? VALE TUDO PELA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL? http://t.co/fff6cbEB6O #PazNoAlemão pic.twitter.com/45IkqIciz8

— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) April 3, 2015

 

Uma manifestação foi convocada no Rio de Janeiro para o dia 8 de abril para protestar contra a violência policial nas favelas e outra, no mesmo dia, para exigir a renúncia do Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, visto como responsável pela violência.

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, divulgou uma nota lamentando o ocorrido, mas, ao mesmo tempo, dizendo que “não irá recuar” no combate à criminalidade. Sobre isso, o perfil ativista Ocupa Alemão disse em sua página do Facebook:

Não vamos recuar, diz o desgovernador Pezão. É claro que não vão. Não são seus filhos tendo a cabeça estourada, não são branquinhos da zona sul sendo esculachados, não são senhoras ” finas ” morrendo dentro de casa. Se fossem , recuariam.

As Imagens do corpo de Eduardo circularam pelas redes causando revolta e indignação por todo o país, mas este sentimento já é compartilhado por moradores das favelas cariocas, em especial do Morro do Alemão, que dizem viver permanentemente com medo de serem as próximas vítimas.

Apenas um dia antes do assassinato de Eduardo, Elizabeth Alves de Moura Francisco, de 41 anos, foi assassinada e sua filha foi baleada também no morro do Alemão.

O Coletivo Mariachi divulgou texto do ativista Thiago Mourão resumindo a situação no Rio de Janeiro:

Nos dias 1 e 2 de abril de 2015, o Rio de Janeiro mostrou ao País inteiro que o futuro da sociedade brasileira está aniquilado pelo Estado. O estado do Rio de Janeiro, por meio de sua política de repressão torpe e sem qualquer estrutura pública mínima, como saneamento básico, educação infantil e as coisas óbvias de qualquer civilização decente, tem conseguido nos mostrar dia-a-dia sua incapacidade de nos garantir esperança e confiança nos poderes públicos.

A realidade das favelas brasileiras se contrapõe aos gritos pela redução da maioridade penal. Imagens manipuladas pelo Movimento Pró-Corrupção

A realidade das favelas brasileiras se contrapõe aos gritos pela redução da maioridade penal. Imagens manipuladas pelo Movimento Pró-Corrupção

O Brasil encontra-se em meio a debates sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O projeto de lei já foi aprovado na Constituição de Constituição de Justiça na Câmara dos Deputados. Atualmente, no Brasil, menores infratores cumprem medidas socioeducativas e não vão para a prisão comum.

Para muitos movimentos sociais contrários à medida, isto é uma grande ironia, já que nas favelas brasileiras a maioridade penal já é reduzida e a pena de morte também existe. O Coletivo Papo Reto escreveu, no Facebook:

Eduardo se foi. A monstruosidade da sua partida, não se encerrou naquele pequeno saco preto e suas partes dispersas no chão. No fundo, Eduardo pode ser o 01, no marco de um Estado que começa a virar seus canhões de forma mas incidente, raivosa e diabólica para a juventude. A redução da maioridade penal, nem ainda formalizada, já colocou no centro do jornais hoje de manhã um das sua primeiras audiências, com réu indefensável, em todos os sentidos: Crime: criança favelada- Artigo: 666 é a pena é a morte.

 

O deputado federal e defensor dos direitos humanos Jean Wyllys completou:

Para os pobres, a maioridade penal começa ao nascer, a pena de morte é sumária e o crime é existir.

O fotojornalista Betinho Casas Novas desabafou no Facebook:

Nunca ví uma cena dessa na minha carreira de foto jornalista, é triste ver uma criança jogada ali no chão, na minha frente, vitimada pela guerra que não tem fim.

Que imagem forte, mais forte ainda é a dor e o desespero da mãe conversando com nossa equipe. Essa é a guerra diária que os moradores do alemão vem vivendo todos os dias. Hoje faz 92 dias sem paz!!

E completou:

Cheguei em casa, depois de acompanhar a dor dos pais, dos amigos, vizinhos entre outros, chorando pela a perda de mais uma vida.
E me pergunto, até quando?
Até quando vamos ter que noticiar essas tragédias?
Muito triste ver o corpo do jovem no chão, sendo molhado pelo os choros de seus entes próximos

Ele ainda gravou para o portal de notícias do complexo de favelas do Alemão, o jornal Voz das Comunidades, um vídeo em que mostra a violência na favela e a revolta dos moradores com a morte de Eduardo e com a violência constante a que são submetidos:

Eduardo, antes de ser morto pela polícia.

Eduardo, antes de ser morto pela polícia.

A economista Renata Lins lembrou que a morte de crianças me favelas do Rio não é algo incomum:

Em janeiro, mataram o Patrick. Ele tinha 11 anos.
Agora, mataram o Eduardo. Ele tinha 10 anos.

Em janeiro deste ano, Patrick Ferreira de Queiroz, de 11 anos, foi morto pela PM em uma comunidade da zona norte do Rio.

Fotos de crianças pedindo paz no Alemão tem circulado pelas redes e vem sendo repostadas em solidariedade.

7 comentários

  • Aaminah Aaliyah Chamäleon

    Pois é, é um garoto de apenas dez anos , mas a mídia esqueceu de dizer que este mesmo menino de dez anos andava armado até os dentes com fuzil e armas automáticas além de rádios transmissores, e isto creio que passou desapercebido pelos olhos dos pais irresponsáveis que culpam a polícia pela incompetência deles mesmos, com certeza os direitos humanos irão amparar os criadores de futuros assassinos psicopatas da sociedade enquanto pais de família que são honestos, levantam cedo para garantir o pão e a educação de seus filhos que na certa serão pessoas de bem sofrem com esta merda de impunidade que vivenciamos hoje. E nem venham me falar que a culpa é da educação e falta de emprego e a precariedade em que estes parasitas vivem , porque quando queremos ser honestos está no sangue e honra e no sangue de ter caráter !

    • Antes de mais nada você DEVERIA aprender a verificar suas informações antes de reproduzir mentidas: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206501366876683&set=a.10201909479242362.1073741827.1345462379&type=1

      Em segundo lugar, MESMO que Eduardo tivesse alguma vez na vida segurado uma arma, no momento em que foi executado estava sentado na porta de casa com um celular na mão, nem de longe oferecendo qualquer perigo para um grupo de PMs armados até os dentes.

      Uma criança de 10 anos foi executada, mas parece que algumas pessoas não tem alguma coisa que as faz ser humanas, ter sentimentos e empatia, querem e gostam apenas de sangue, mesmo que de uma… criança. Realmente, falta caráter, mas em você.

      • alessandro silva

        Antes de vc esculachar .vc nem nunca na vida deve ter visto um menor colocar uma arma

        • Meu querido, eu já fui assaltado com arma na cabeça 2 vezes, uma delas por dois menores. Quanto a esses seus 80%, não seja mentiroso e invente dados pra tentar justificar seu ódio infantil.

          • alessandro

            Naum esconder dos outros a verdade .existe sim crianças q saum bandidos sim .pode ser q no caso do alemao naum seja .mas vc tbm naum pode dizer q vivemos em um pais bom e q todas as pessoas saum felizes .naum tenho ódio infantil. So naum gosto de pessoas q gostam de vagabundos travestidos de anjos como vc mesmo fantasia. Saia de seu mundinho e conheça a realidade .

             
          • Existem crianças que deveriam estar na escola e tendo um futuro na vida, mas são aliciadas por criminosos. No mais, saia do seu mundinho, meu querido, e largue seu ódio. Crianças não tem noção de certo e errado como adultos, fazem o que os adultos fazem, mandam fazer ou se espelham nas atitudes de quem está a sua volta.

             
  • Heloísa Da Rosa Silva

    Meu Deus que tristeza…infelizmente já faz tempo que não é a primeira notícia desse tipo. Alguma coisa está fora da ordem

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