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Durante a apresentação do seu livro “Mexico, el país de uno”, a comentadora política e autora Denise Dresser partilhou com os participantes da sua palestra, e também com espectadores do YouTube, 10 conselhos para os cidadãos poderem “recuperar o México”. Um país que segundo a autora “tem estado arrendado aos seus habitantes há demasiado tempo”. Para Dresser, o México tem “pertencido aos seus líderes religiosos, […] aos seus conquistadores, aos seus liberais, aos seus ditadores, aos partidários do PRI (Partido Revolucionário Institucional), aos seus presidentes imperialistas, aos seus monopolizadores, aos seus partidos políticos e às suas elites” há tempo de mais.
Dresser faz referência aos males que têm tornado a história recente do México repleta de difíceis desafios. Da corrupção na política às desigualdades sociais, o caminho do México não tem estado livre de dificuldades, especialmente para os pobres. Os problemas mais recentes estão profundamente ligados à violência relacionada com drogas e ao combate às drogas. Algo que também resultou naquilo que Dresser entende como uma certa indiferença que tem de ser ultrapassada, para que o México possa voltar aos seus verdadeiros donos: os seus cidadãos.
As palavras de Dresser são dirigidas a uma sociedade em tempos difíceis. As suas ideias são baseadas em factos muito difíceis de ser ignorados. No entanto, os desafios que ela enumerou e as dificuldades sobre as quais reflectiu, podem facilmente ser os de muitos outros países, tanto na região como no mundo:
México vive obsesionado con el fracaso, con lo que pudo ser, pero no fue… con lo perdido, lo olvidado, lo maltratado […] Estos son tiempos nublados de muertos y heridos, de poderes fácticos y reformas que realmente no los confrontan del todo.
O México vive obcecado com o fracasso. Com o que poderia ter sido, mas não foi… com o que se perdeu, esqueceu, maltratou […] Estes são tempos nebulosos de mortos e feridos, de poderes factuais e reformas que na realidade não os confrontam de todo.
Assim, para “recuperar o México”, Dresser propôs 10 passos simples, aqui resumidos:
- Ser irreverente em relação ao poder: “É vital ser um cidadão totalmente comprometido”.
- Votar e “entender o candidato, escrutiná-lo […] saber de onde vem e para onde vai”.
- Estar informado: “Eu gostaria que entendessem que se só obtêm informação através da televisão, não poderão inteirar-se de grandes acontecimentos que compõem a realidade do país. Gostaria que entendessem que as maiores limitações à liberdade de expressão partem frequentemente da Televisa e da Television Azteca” [canais de TV].
- Envolver-se e avaliar o legislador, representante municipal ou governador: “Gostaria que percebessem que essa pessoa é vosso funcionário, porque o seu salário vem dos impostos que, espero, estejam a pagar”.
- Perceber que “esta famosa guerra contra as drogas […] não produziu os resultados que se esperavam [mas em vez disso] piorou os problemas que se propôs resolver”.
- Perceber que o México “só irá prosperar quando o seu povo for instruído e a educação for de muito bom nível”.
- Opor-se ao monopólio: “A maneira mais fácil de enriquecer neste país é ter uma licença para controlar algum bem público”.
- Recolher o lixo fora de casa: “Ser responsável pelo espaço público que faz parte do país”.
- Relacionar-se com outros através dos meios de comunicação online: “É fundamental fortalecer a ligação entre as novas tecnologias e o exercício político e de direitos civis no México”.
- Reconhecer “que é nosso dever dar algo ao nosso país. Dar algum do nosso tempo, do nosso talento, da nossa energia”.
O discurso completo, em espanhol, pode ser visto aqui:
Ao longo do seu discurso, Dresser reflectiu sobre o que significa hoje em dia ser um cidadão e quais os desafios para a nova geração de cidadãos do México. Ela mencionou exemplos, recomendou autores, filmes, leituras e jornais online que podem incentivar esta mudança nas mentalidades das pessoas.
Outro ponto importante da palestra foram os vícios que vieram da história política do México. Dresser lamenta o regresso do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o partido político que governou o país durante mais de 70 anos e que voltou ao poder com a presidência de Enrique Peña Nieto:
Vivimos de paliativo en paliativo, del “Laberinto de la soledad” al yugo de las bajas expectativas. Y aunque es cierto que algunas de las prácticas del pasado han sido enterradas, numerosos vicios institucionales asociados con el autoritarismo y el viejo PRI siguen ahí, coartando la representación ciudadana, y la gobernabilidad democrática.
Andamos de paliativo em paliativo, desde “O Labirinto da Solidão” ao jugo das baixas expectativas. E, mesmo sendo verdade que algumas das práticas do passado foram enterradas, inúmeros vícios institucionais associados ao autoritarismo e ao velho PRI ainda existem, restringindo a participação dos cidadãos e a governabilidade democrática.
Segundo Dresser, os mexicanos têm mais em comum com Frodo, o hobbit sobrecarregado com o peso de ter de salvar toda a Terra Média na trilogia O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, do que imaginam. Ela sublinhou como a maioria dos mexicanos, tal como Frodo, são chamados a ser heróis apesar de não ser essa a sua intenção:
El hobbit Frodo es un héroe renuente. Frodo no quiere asumir la tarea que le ha sido encomendada. Frodo preferiría quedarse en el Shire y vivir en paz ahí. Y en México muchos Frodos actúan así, piensan así, viven así. Prefieren criticar a los que gobiernan en lugar de involucrarse para que lo hagan mejor. Eligen la pasividad complaciente en lugar de la participación comprometida. Pero Frodo no tiene otra opción. Y ustedes, los ciudadanos mexicanos, tampoco.
O hobbit Frodo é um herói relutante. Frodo não quer assumir a tarefa que lhe foi dada. Frodo preferia ficar no Shire e ali viver em paz. E no México, muitos Frodos agem assim, pensam assim, vivem assim. Eles preferem criticar os que estão no poder, ao invés de se envolverem para fazerem melhor. Escolhem a passividade obrigatória à participação activa. Mas Frodo não tem escolha. E vocês cidadãos mexicanos, também não têm escolha.
No final da sua palestra, Dresser concluiu em tom esperançoso, lembrando o que é mais importante:
Creo que es muy emocionante ser mexicano en esta época, aunque uno tenga que coexistir con el regreso del PRI. Yo agradezco esa dádiva. No siento que seamos incambiables, no siento que seamos inamovibles, no creo que seamos inferiores a otros ni que nos merezcamos menos. Somos de la región más transparente del aire, venturosamente, somos de México.
Penso que é muito emocionante ser-se mexicano nos dias de hoje, mesmo que se tenha de coexistir com o regresso do PRI. Estou agradecida por esse presente. Não sinto que sejamos imutáveis, não sinto que sejamos imóveis, não penso que sejamos inferiores ou que mereçamos menos. Somos da região mais transparente do ar. Felizmente, somos do México.
O vídeo do discurso tem 79.000 visualizações no YouTube e atraiu comentários interessantes de internautas e de espectadores preocupados. A maioria acolheu bem as ideias de Dresser e partilhou as 10 maneiras que, segundo ela, podem fazer um bom cidadão mexicano.
Apesar disso, outros comentários ainda eram de dúvida e pessimistas, dada a dificuldade das circunstâncias. ThousandYoung escreveu:
Toda la historia ha demostrado que sólo ha habido cambios a través de una revolución a causa de un gobierno inútil o fallido. Todos los gobiernos se corrompen después de determinado tiempo. Entonces lo que se necesita es un sacrificio y otra renovación.
A História tem demonstrado que só tem havido mudanças através de uma revolução, por causa de um governo inútil ou fracassado. Todos os governos se tornam corruptos depois de um determinado tempo. Então, o que é preciso é sacrifício e outra renovação.
Mas, no final, a maioria das opiniões eram como as de Alberto Escobar, apoiante das ideias de Dresser:
Me inspira esta mujer a exigir lo que merecemos
Esta mulher inspira-me a exigir o que merecemos.