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Rádio independente liderada por jovens promove sustentabilidade na Amazônia brasileira

Categorias: Brasil, Arte e Cultura, Ativismo Digital, Boas Notícias, Desenvolvimento, Ideias, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Rising Voices
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Pablo Diego, Évany Valente, Jessica Ertel, Carol Sousa e Manoela Souza gravam jingles para Rádio Arraia

Jovens líderes brasileiros com idade entre 12 e 19 anos usam das artes e da comunicação para mostrar que outro tipo de desenvolvimento é possível para o Brasil. No bairro de Cabelo Seco, em Marabá, Pará [1], área localizada na região amazônica do Brasil, eles formam o coletivo Rios de Encontro [2], que promove ações culturais comunitárias em prol da geração de energia sustentável, medicina natural e educação. Esse ano, eles criaram a Rádio Arraia [3], projeto selecionado pelo Rising Voices Amazônia em 2014, [4] que ecoa jingles sobre as atividades do grupo na cidade.

Nessa região do país, uma série [5] de hidrelétricas [6] e a extração de minérios [7] fazem parte do plano do crescimento brasileiro. Na pauta da Rádio, há por exemplo ideias para alternativas energéticas à hidrelétrica de Marabá [8] — que, caso seja construída, irá alagar a cidade vizinha de São Joāo e prejudicar a vida de Marabá e do sudeste do Pará.

Ouça o jingle “Eu quero energia solar” da Rádio Arraia:

https://pt.globalvoicesonline.org/wp-content/uploads/2014/12/eu-quero-energia-solar-rios-de-encontro-2014.mp3 [9]

Os projetos comunitários do Rios de Encontro buscam promover mudanças sociais sustentáveis. Atuando na comunidade afrodescendente de Cabelo Seco desde 2009, eles têm mobilizado as 380 famílias do local, que deixou de ser conhecido como periferia violenta de tráfico de drogas e passou a ser a referência do imaginário da região e de eventos ecoculturais. 

Jessica Ertel, Renato Cavalcante (UFPA) e jovens coordenadores Evany Valente, Carol Sousa e Pablo Sousa apresentam a primeira bici-radio sola no mundo, frente a instalacao 'Deixa o Nosso Rio Passar' na Galeria do Povo na pracinha de Cabelo

Jessica Ertel, Renato Cavalcate (Universidade Federal do Pará), que trabalharam juntos com os jovens coordenadores Évany Valente, Carol Sousa e Pablo Diego. Eles apresentam a bicicleta movida por energia solar, lançada no dia 14 de dezembro no bairro de Cabelo Seco

O Rising Voices conversou com os educadores e coordenadores adultos do grupo, Manoela Souza, 40, e Dan Baron, 57, criadores do Instituto Transformance [10] , que tem atuado em comunidades ao redor do mundo. E também com os quatro coordenadores jovens, Ana Carolina de Souza, 13, Évany Valente, 15, Pablo Diego, 15, e Sandoval Maia,13.

Depois de três meses de pesquisa, os próprios jovens lançaram a bici-rádio solar, uma bicicleta com uma aparelhagem de som que funciona exclusivamente via energia solar. É através da bicicleta que os jovens pretendem levar os jingles aos moradores de Marabá.

Pablo Diego é um dos responsáveis pela construção da bici-rádio solar. “Acredito que vamos conscientizar as pessoas a não destruírem o meio ambiente, a não alagarem a cidade”.

A criação dos jingles começou no ano passado, antes mesmo da Rádio Arraia. Para Manoela ainda tem muito mais por vir:

Queremos aprofundar nossa relação com a bici-rádio. Os jovens já criaram vídeos sobre os mestres da comunidade. Esse ano, realizamos cursos de história viva e rádio comunitária. Com a Rádio Arraia, aumentou a motivação para criar uma rádio comunitária amazônica pela internet.

Na hora de criar os jingles, cada um dos jovens coordenadores fala ou toca um instrumento. O material depois é editado no computador por Dan Baron, junto com as jovens lideranças.

Enquanto Évany cuida da parte musical, Sandoval é um dos responsáveis pela programação da Rádio. Ambos musicitas, ele toca clarinete e ela, uma série de instrumentos, além de dar aulas de violão e saxofone. “A Évany é uma inspiração para mim e a Manoela está me apoiando na coordenação dos jingles. A Rádio é uma ideia para ser levada à sério. Em breve, além dos jingles, estaremos fazendo entrevistas”, conta Sandoval, que já está aprendendo a editar os jingles 

Para Évany, o destaque do processo criativo é o caráter coletivo. “No grupo, um vai dando motivação para o outro”.

Outros microprojetos
Além da Rádio, o coletivo Rios de Encontro também criou os micro-projetos Latinhas de Quintal (música), AfroMundi: Pés no Chāo (dança), Cine Coruja (cinema), Rabetas Vídeos, Jornalismo Social, Bicicletadas pela Vida, Biblioteca Folhas da Vida e Roupas ao Vento (gênero). A Rádio Arraia está funcionando como difusor de todas essas ações culturais comunitárias.

Com a ajuda de Ana Carolina de Souza, de 13 anos, Évany também coordena o Cine Coruja. O esquema é aquele em que todos fazem um pouco de tudo: Ana Carolina, além de atuar na horta de plantas medicinais, também lidera o Roupas ao Vento, projeto que procura conscientizar as pessoas a respeito das questões da violência de gênero.

Para Dan, é preciso muita autoconfiança e coragem da parte dos jovens para que venham à publico e questionem o projeto da hidrelétrica e da hidrovia na região:

Aqui a palavra pública é tão perigosa que o silêncio é a melhor maneira de sobreviver. Eles são jovens conscientes e artistas, não ‘ativistas’ como conhecemos no sentido da palavra. Estamos usando a rádio para sensibilizar e encorajar as comunidades que são vítimas da exclusão, pobreza e das grandes obras.