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Alvejados, queimados numa lixeira e atirados para um rio lamacento dentro de sacos de lixo. Foi esse o destino dos 43 estudantes (normalistas em espanhol, porque estudavam para se tornarem professores), que desapareceram a 26 de Setembro de 2014, segundo declaração do procurador-geral federal do México no dia 7 de Novembro.
As palavras de Jesus Murillo Karam foram recebidas com incredulidade, raiva e indignação, não só pelas famílias dos estudantes, como também por pessoas de todo o México e do mundo, porque se baseiam em confissões de três assassinos contratados por um cartel de drogas e não em provas conclusivas. Com base na informação por eles fornecida, foram descobertos restos humanos perto de um aterro, que ainda não foram identificados.
Os pais dos estudantes desaparecidos de Ayotzinapa ainda têm esperança de os encontrar vivos e afirmaram que não acreditam na versão dada pelas autoridades mexicanas.
“Nós, as famílias, queremos dizer que não aceitamos a declaração porque não existe a certeza de que seja verdadeira… Queremos informação. Até lá, continuamos com a esperança de que eles estejam vivos. Vamos continuar a procurar os jovens e exigimos que o governo intensifique as buscas pelos mesmos,” disse uma mãe.
A falta de provas concretas não passou despercebida aos meios de comunicação e internautas, que criticaram a atitude do governo. J. Hernández Barros, advogado e membro da independente Comissão Executiva de Assistência às Vítimas, tweetou:
En caso Ayotzinapa si no existe certeza de muerte, la búsqueda de los jóvenes debe realizarse con presunción de vida http://t.co/W7QTOAyyqU
— J. Hernández Barros (@juliohbarros) 8 Novembro, 2014
No caso Ayotzinapa, se a morte não é uma certeza, a busca pelos jovens deve continuar sob o pressuposto de que eles estão vivos.
Segundo Murillo Karam, as confissões dos três assassinos contratados, que trabalhavam para o cartel de droga ‘Guerreros Unidos’, parece provar que os 43 estudantes mexicanos desaparecidos foram mortos na noite de 26 de Setembro numa lixeira municipal em Cocula, em Guerrero, um estado do sul do México, depois de terem sido levados para lá por oficiais da polícia que agiam a mando do Presidente da Câmara de Iguala, Jose Luis Abarca. De acordo com as autoridades, Abarca ordenou que os estudantes, (que viajavam em quatro veículos), fossem impedidos de ir à cidade e interrompessem o discurso dado pela sua mulher, Maria de los Angeles Pineda.
Estudantes do Centro de Investigación y Docencia Económicas (CIDE) criticaram a declaração de Murillo Karam, conforme informou o website de notícias e de análise ‘Animal Politico':
“Preocupante, que declaraciones de Karam sobre Ayotzinapa estén basadas en confesiones”: @NotiCIDE http://t.co/4Eio3HYs3c
— AnimalPolitico.com (@Pajaropolitico) 8 Novembro, 2014
“É preocupante que as declarações de Karam sobre Ayotzinapa sejam baseadas em confissões”
Murillo Karam terminou a sua conferência de imprensa na sexta-feira, que durou uma hora, com a frase: “Chega de perguntas. Estou cansado disto.” Os seus comentários foram aproveitados pelos que criticam o modo como o governo tem lidado com a tragédia, através da hashtag #YaMeCanse (Estou cansado), que se tornou um tópico trending no Twitter. Comentários incluíram: “Estou cansado do medo”, “Estou cansado de viver num país de assassinos” e “Estou cansado de corrupção e impunidade”.
Yo #YaMeCansé del mal gobierno. Es hora de demostrar que la sociedad aspira a una transformación. #FueElEstado pic.twitter.com/yKz36kJ7fS
Algunos ejemplos en Twitter
— Juan Yves Palomar (@JuanYvesPalomar) 8 Novembro, 2014
Estou cansado de um mau governo. É hora de demonstrar que a sociedade aspira a uma transformação
O actor mexicano Hector Suarez Gomis também se juntou ao protesto online:
#YaMeCansé de que ese “Extraño Enemigo” del que habla nuestro himno, es la clase política que se ha dedicado a pisar y a sangrar el país. — Héctor Suárez Gomís (@PelonGomis) 7 Novembro, 2014
Estou cansado deste “estranho inimigo” de que fala o nosso Hino Nacional, foi a classe política que se dedicou a pisar e a sangrar o país.
A hashtag também inspirou manifestações de rua a 8 de Novembro em Zócalo, a praça central da Cidade do México.
A minutos de empezar el #flashmob en el Zócalo de #MexicoCity #YaMeCansé pic.twitter.com/NRjdO6UCgL
— 132Global (@Global132) 8 Novembro, 2014
A minutos de começar a flash mob em El Zócalo
A forte destruição dos restos mortais pelo fogo, torna difícil a extracção de ADN que permitiria a identificação e, por isso, as autoridades depositam as suas últimas esperanças num laboratório especializado na Áustria. Desconhece-se quanto tempo o processo pode levar.
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