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Portugal: Revista censurada por uso de “linguagem ofensiva”

Categorias: Portugal, Arte e Cultura, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Política
Graffiti with German chancellor Angela Merkel as a puppet master, holding the Portuguese Prime Minister and the Deputy Minister. [1]

Graffiti com Angela Merkel a manipular o Primeiro-ministro Português e o Vice Primeiro-ministro. Foto by Gonçalo Silva, copyright ©Demotix (28/07/2013)

Revista científica publicada desde 1963 em Portugal, viu a sua ultima edição suspensa, depois de impressa, por alegadamente conter linguagem ofensiva.

 

A Análise Social [2] é uma revista de Ciências Sociais gerida pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS) [3] com 50 anos de existência. A sua última edição [4] foi cancelada pelo diretor do ICS, José Luís Cardoso, já depois de ter sido impressa e por conter um ensaio visual com “linguagem ofensiva” [5]

José Luís Cardoso justifica a sua decisão argumentado que os graffiti contêm linguagem de “mau gosto, sendo uma ofensa a instituições e pessoas que não podia ser tolerado”.

O responsável pela revista cessante, o antropólogo João de Pina Cabral [6], discorda com esta decisão e aponta a mesma como “um gesto de censura”.  Por outro lado José Luís Cardoso [7] refuta a “acusação de um ato de censura” e sustenta a sua posição como sendo um ato destinado “a garantir uma imagem de dignidade” e o mesmo “não representa qualquer aspeto de privação de liberdade”.

O ensaio intitulado “A luta voltou ao muro” [8], de autoria do sociólogo Ricardo Campos [9] reflete a frustração popular que se vive atualmente em Portugal contra as políticas de austeridade. O autor procura também mostrar a escrita não autorizada nos muros, em forma de graffiti, que nos últimos anos assume mensagens políticas [10]. O trabalho mostra uma série de fotografias feitas a murais pintados pelas ruas de Lisboa.

As reações à noticia sentiram-se de variadas formas por parte dos leitores:

Adriano Freitas [11] · Facebook

Concordo com a total liberdade, mas detesto a ofensa, e, parece-me ingénuo alguém falar em manifestações espontâneas, essas trazem sempre agarradas os interessados do costume, estão sempre contra, isso pode ser visto à quarenta anos ligados ao taxo e sem compromissos, são sempre os da razão (…)

Alice Costa [12] · Facebook

E de que é a culpa !!!! nossa que continuamos a votar sempre nos mesmos seja esquerda ou direita são sempre os mesmos, mas nos votamos !

Beatriz Padilla · Lisboa

Não há dúvidas que é mesmo CENSURA, e descarada. Desde quando um cientista social não pode analisar a realidade social, que é mesmo crua e dura neste momento. O medo continua a vencer, mesmo 40 anos depois. Onde está a liberdade de escolha do tema de investigação, e o de liberdade de expressão. Se o artigo estava na tipografia, é porque já tinha passado o processo de peer review, que é requisito científico. O resto é censura científica e a “linguagem ofensiva” é uma disculpa que usa a objectividade como escudo. O autor não é o criador das imagens, só as interpreta num contexto específico.

 Na blogosfera, “O Ressabiator” [13] não tem dúvidas que se trata de “Censura”. 

No Twitter restam também poucas dúvidas que esta medida não vise coibir formas de expressão:

 

 João Mineiro, jovem sociólogo, escreve um artigo intitulado “A luta voltou ao muro, a censura voltou a academia” [24] no seu blogue, onde faz referência à ténue liberdade de expressão das instituições de ensino que nunca alcançaram total independência em relação ao exercício do poder politico e económico.