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Terão a violência e a corrupção no México atingido um ponto de ruptura com o ataque de Ayotzinapa?

Categorias: América Latina, México, Direitos Humanos, Governança, Guerra & Conflito, Juventude, Mídia Cidadã, Política, Protesto
In the secret graves, in the streets that saw them fall, in the steps of those who are searching for them, in the cries of those who are waiting for them...In Ayotzinapa and all of Mexico resounds an echo that shouts "JUSTICE." Photo tweeted by @LaEscribesTu [1]

“Nas valas comuns, no chão que os viu cair, nos passos daqueles que procuram por eles, no choro dos que os esperam… Em Ayotzinapa e em todo o México ressoa um eco que grita ‘JUSTIÇA.'” Foto tweetada por @LaEscribesTu

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Pelo menos 28 corpos foram desenterrados de uma vala comum perto de Iguala no estado de Guerrero [2],no sul do México. Os corpos, que apresentam claros sinais de tortura, foram deitados sobre ramos e troncos regados com combustível e incendiados.

Aparentemente, as vítimas terão sido queimadas vivas, disse um guarda que se encontrava no local ao jornal espanhol El Mundo [3]. Até ao momento, foram exumados no total 28 corpos carbonizados, embora alguns relatos não confirmados tenham apontado para um número mais elevado de 34 corpos. Alguns dos restos mortais estavam completos, enquanto outros estavam fragmentados.

As autoridades estão a realizar uma série de testes forenses para concluírem se os restos mortais pertencem aos 43 estudantes da comunidade de Ayotzinapa, que desapareceram a 26 de Setembro, depois do seu autocarro ter sido atingido a tiro por agentes da polícia e membros do crime organizado. [4] De acordo com as autoridades, a identificação das vítimas irá demorar entre 15 dias a dois meses. Especialistas argentinos participam no processo, a pedido de estudantes de Ayotzinapa. 

O procurador público do Estado de Guerrero, Iñaky Blanco, afirmou [5] que “vários agentes da polícia tinham ligações com o crime organizado e, em alguns casos, eram assassinos contratados pelo narcotráfico”. Mais tarde, durante uma conferência de imprensa [6] em Acapulco, ele acrescentou que foi o “director de Segurança Pública de Iguala, Francisco Salgado Valladares, quem deu a ordem para deter os estudantes de Ayotzinapa; e um indivíduo conhecido como ‘El Chuky’, do grupo criminoso ‘Guerreros Unidos’, terá ordenado o rapto e assassinato dos jovens estudantes.” O nome Guerreiros Unidos é um trocadilho com o nome do estado, Guerrero, que em espanhol significa guerreiro.

Os estudantes, que participavam num protesto contra a discriminação no trabalho de professores de áreas rurais, viajavam num autocarro quando foram emboscados pela polícia [7]. Três dos estudantes foram mortos no local, tal como um jogador de futebol que seguia noutro autocarro, um condutor de autocarro e uma mulher que seguia num táxi.

O presidente da câmara de Iguala, José Luis Abarca, deixou o gabinete mesmo antes do ataque, com a permissão do governador. Ninguém parece estar a par do paradeiro de Abarca nem do de Salgado Valladares, que alegadamente deu a ordem para o ataque. 

Apesar de os corpos ainda não terem sido identificados, muitos arriscam adivinhar que estes pertencem aos estudantes desaparecidos. A ser verdade, seria um duro golpe para o governo, pois significaria que está directamente envolvido no assassinato de civis desarmados, através da sua força policial municipal:

Pessoas envolvidas na investigação confirmam que os 43 estudantes estão na vala comum encontrada em Iguala.

O governo de Enrique Peña Nieto, (Presidente do México), ficará manchado pelos massacres de Tlatlaya e de Ayotzinapa, eventos que indignam e incitam ao terror e à violência.

Ayotzinapa chamou a atenção devido ao impacto que as notícias tiveram no cenário internacional. O governo de Enrique Peña Nieto está sob escrutínio como potencial violador dos direitos humanos.

O ciberespaço mexicano agitou-se com a notícia assim que se soube. No Twitter davam-se as condolências e apelava-se a um desafio ao governo:

É muito triste o que aconteceu em Ayotzinapa. Não consigo imaginar a dor das famílias dos estudantes.

Como resultado do massacre  de Aguas Blancas [18], Angel Aguirre [19] (actual governador de Guerrero), tornou-se chefe do governo estadual e, por causa do massacre de Ayotzinapa, ele devia desaparecer.

Vale a pena mencionar [20] que em 1996, o então governador de Guerrero, Rubén Figueroa Alcocer, pediu permissão para ser dispensado do cargo como consequência do massacre de Aguas Blancas. Nesse mesmo dia, o Congresso Estadual de Guerrero nomeou-o Governador substituto até ao fim do mandato constitucional em 1999.

Querem culpar Chuky do cartel “Guerreros Unidos”, para que Jose Luis Abarca e Angel Aguirre continuem ímpunes.

Culpar o narcotráfico pelo assassinato dos estudantes de Ayotzinapa, é um guião escrito pelo governo para exonerar Angel Aguirre.

Demasiado sangue tem sido derramado pelo crime organizado e por um regime corrupto. Chega desta dor.

Em Ayotzinapa e em todo o México ressoa um eco clamando por justiça.

Alguns internautas comentaram de forma pessimista o estado de violência em que o país mergulhou:

O mais lamentável sobre Ayotzinapa é a resposta da sociedade. O que dizer e fazer quando 43 estudantes são queimados vivos…

Crianças de infantário e futuros professores estão a ser assassinados. Há já algum tempo que este país está muito podre. 

Foram encontrados 28 corpos numa vala comum em Ayotzinapa. Quer sejam os estudantes, ou não, o México está lixado. 

Houve também apelos para uma marcha nacional de apoio aos estudantes e às suas famílias e para condenar a violência institucionalizada no México:

ATÉ QUANDO? Todos à Marcha nacional a 8 de Outubro na sua cidade

Para ler sobre mais reacções e notícias, siga as hastags #Ayotzinapa [37]#AyotzinapaNoSeOlvida [38] (Nós não esquecemos Ayotzinapa) e #JusticiaParaAyotzinapa [39] (Justiça para Ayotzinapa).

Tradução editada por Lú Sampaio [40] como parte do projecto Global Voices Lingua [41]