No Chile, judeus e árabes clamam por paz em Israel e Gaza

Chilean congressmen show banners calling for the end of genocide and occupation of Palestine. Image widely shared on Twitter.

Deputados chilenos exibem cartazes que clamam pelo fim do massacre e ocupação da Palestina. Imagem amplamente partilhada no Twitter.

Não passou despercebido no Chile o bombardeio de Israel sobre Gaza. Representantes da comunidade palestina no país, cujo tamanho é bastante significativo, exortaram o governo a tomar uma posição mais ativa em relação ao conflito entre israelenses e palestinos e a fortalecer a declaração de censura [es] ao bombardeio feita pela Presidente Michelle Bachelet na semana passada.

Até o momento, 243 palestinos [en], incluindo muitas mulheres e crianças, foram mortas e mais de 1.500 ficaram feridas desde o início do bombardeio no dia 8 de julho de 2014, segundo informação do ministro da saúde de Gaza. Em Israel, os foguetes lançados do território de Gaza que não foram identificados pelo sistema de defesa contra mísseis, denominado Iron Dome, acabaram por ferir várias pessoas. Um cidadão israelense morreu depois de ter sido atingido por estilhaços [en] perto da fronteira de Gaza, e um soldados israelense foi morto [en] durante operações no solo [en] iniciadas no dia 17 de julho.

Chile, que reconheceu a Palestina como um “estado soberano, independente e livre” no dia 7 de janeiro de 2011, é o país onde a maior comunidade de palestinos fora de Oriente Médio tem residência. Estimativas do número de descendentes de palestinos no Chile [en] variam entre 450.000 e 500.000.

Aproximadamente 1.000 pessoas participaram de manifestações [es]na capital chilena, Santiago, no sábado, 12 de julho, inspiradas pelo mote  “ficar em silêncio é ser cúmplice”. Dois dias depois, com o aumento do número de vítimas palestinas, deputados exigiram ação urgente por parte do Ministério do Exterior, incluindo a suspensão das negociações a favor do Contrato de Livre Comércio (FTA, na sigla em inglês); a retirada do embaixador chileno de Tel Aviv; e um pedido de condenação de Israel pelo Comitê de Segurança das Nações Unidas (UNSC, na sigla em inglês), do qual o Chile é, no momento, membro não-permanente.  

“Chile precisa ser um instrumento de paz, pois a partir do momento que reconheceu o Estado da Palestina, o Chile passou a reconhecer também os esforços [da Palestina] para se tornar um Estado livre e soberano,” declarou à imprensa  [en]o senador Iván Moreira.

Por outro lado, o grupo Chileno-Israelense na Câmara dos Deputados teve um encontro com o Ministro das Relações Internacionais, Heraldo Muñoz, para expressar sua preocupação [es] com as declarações do Ministro e alertar o governo quanto ao foco único nos ataques de Israel sobre Gaza no lugar de focar no papel dos palestinos no conflito.  “Pedimos ao ministro para que seja cuidadoso e evite trazer o conflito Israel-Palestino para o Chile,” Deputado Gabriel Silber disse. “Temos que ter cuidado especial para que as declarações reflitam um grau de imparcialidade com o que está ocorrendo no Oriente Médio.”

Houve uma troca de cartas entre as comunidades judia e palestina. Uma carta, endereçada aos judeus jovens no Chile e assinada por líderes da comunidade Chilena-Palestina, exortava os judeus a mostrar sua indignação aos abusos praticados por Israel [es] contra os direitos do povo palestino: 

[…] No los culpamos porque, quizás, han crecido pensando en que somos sólo un grupo de personas sin rostro y no han tenido la oportunidad de mirarnos cara a cara. […]

Sabemos que ustedes conocen este sentimiento: el sentir que para otros, sus vidas son tan solo un número. Sentir que su pueblo está siendo masacrado y que el mundo, mientras tanto, permanece impávido. Entendemos, como nadie, el dolor que sus antepasados sintieron alguna vez y por lo mismo, es que nos extraña que ustedes, los más jóvenes de la comunidad judía, no estén llevando hoy la bandera de lucha de los derechos humanos con nosotros. […]

En Chile no hay conflicto porque ninguno impide al otro retornar a sus hogares, o controla hacia dónde y cuándo puede viajar, o coloniza sus tierras, o secuestra a sus hijos. Es cierto, debemos mostrar que podemos vivir sin odio y sin ocupación; pero sobre todo, que el camino hacia la paz y la fraternidad no es el sometimiento, sino que la justicia y el reconocimiento mutuo.

 

[…] Não lhes culpamos já que, talvez, vocês tenham sido criados com a ideia de que somos apenas um grupo de pessoas sem rostos e vocês não tenham tido a chance de nos olhar cara a cara. […]

Sabemos que vocês já sentiram isto: a sensação de que para os outros vocês não passam de um número. O sentimento de que seu povo está sendo massacrado enquanto o mundo permanece insensível. Compreendemos, mais do que ninguém, a dor que seus ancestrais enfrentaram e, assim sendo, não entendemos a razão que faz com que a geração mais jovem de judeus não esteja empunhando as bandeiras dos direitos humanos conosco. [..]

No Chile, não existe conflito porque ninguém impede os outros de retornar a seus lares, ou controla onde e quando podem viajar ou lidar com suas terras, ou rapta seus filhos. Fica claro que precisamos provar que podemos viver sem ódio e sem ocupação; mas sobretudo, que o caminho para a paz e para a fraternidade não é de submissão, mas de justiça e reconhecimento mútuo.

Quatro dias depois, uma carta aberta, assinada por líderes da comunidade jovem de judeus-chilenos respondeu [es]:

No recordamos cuándo fue, pero aprendimos a referirnos los unos a los otros como primos. Hoy tenemos el atrevimiento de llamarlos hermanos. Hermanos, no porque compartamos una misma madre, sino porque anhelamos una misma patria.

[…] Nos invitaron a apuntar con el dedo a Israel, atribuyéndole toda la responsabilidad del conflicto sin dejar espacio para el entendimiento mutuo. ¿Esperan que luchemos por los derechos humanos? Por supuesto que lo haremos. Condenaremos directa y enérgicamente la violación de aquellos que se cometan en Medio Oriente o en cualquier otra parte del mundo. Marcharemos con ustedes por la búsqueda de la paz, pero ¿lo harán ustedes? ¿aplicarán a Hamas y la Autoridad Palestina el mismo estándar moral que exigen a Israel? […]

Nosotros, por nuestra parte, estamos dispuestos a tranzar porque tenemos la convicción de que el diálogo y las ansias de vivir en armonía en Medio Oriente son la única forma de terminar el conflicto. […]

[…] Hoy les tendemos la mano, no para que se unan a nuestra causa, sino para que entendamos que la causa de ambos pueblos sólo puede prosperar si es la misma. Los invitamos a caminar juntos, desde Chile, por la paz para Palestina e Israel.

Não recordamos quando, mas aprendemos a nos referir uns aos outros como primos. Hoje em dia, ousamos chamá-los de irmãos. Irmãos, não porque compartilhamos uma mesma mãe, mas porque ansiamos por uma mesma nação.

[…] Vocês nos convidaram a acusar Israel, a torná-la totalmente responsável pelo conflito, sem deixar qualquer espaço para compreensão mútua. Vocês desejam que lutemos pelos direitos humanos? Claro que faremos isto. Condenaremos com toda força e de forma direta a violação dos direitos humanos no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar no mundo. Nos uniremos a vocês na busca por paz, mas e vocês? Vocês aplicarão ao Hamas e à Autoridade Palestina o mesmo padrão moral que vocês exigem por parte de Israel? […]

Nós, de nossa parte, estamos desejosos de chegar a um acordo porque estamos convencidos que o diálogo e o desejo por viver em harmonia no Oriente Médio são a única forma de acabar com o conflito . […]

[…] Hoje, estendemos nossas mãos a vocês, não para convidá-los a se unir a nossa causa, mas para que entendam que o objetivo de ambas as comunidades pode ser alcançado, desde que seja o mesmo. Estamos convidando vocês a caminharem junto conosco, do Chile, pela paz na Palestina e Israel. 

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